A poesia na ponta dos pés veio à tona por meio do amor à dança na vida de Luciana Sagioro ainda aos 3 anos de idade, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Hoje, aos 16, ela acumula prêmios, milhares de seguidores nas redes sociais e desembarca na França, no próximo dia 22, onde fixará residência para dar início aos estudos na Escola da Ópera de Paris.
Em sua conquista mais recente, Luciana Sagioro foi eleita a melhor bailarina do 39º Festival de Dança de Joinville por um júri especializado. O título veio na sequência da medalha de ouro na categoria Grand Pas de Deux Sênior, que disputou ao lado do bailarino Marcos Monteiro, com o espetáculo “Harlequinade”.
Ela encerrou sua participação no festival no último dia 28, com um evento solo no qual dividiu com o público as experiências no balé, suas principais conquistas e a expectativa para o início da nova fase em Paris. “Fui recebida com muito amor pela população de Joinville e pelo público do festival. Dançar para eles é a minha forma de agradecer, antes de partir para uma nova etapa da minha vida”, afirma, em entrevista ao Estado de Minas.
A mudança para Paris se tornou possível em fevereiro passado, quando Luciana conquistou uma bolsa de estudos durante sua participação na edição 2022 do Prix de Lausanne – uma espécie de Copa do Mundo do balé.
Ao todo, 70 profissionais da dança de várias partes do mundo se apresentaram naquele dia, e a juiz-forana garantiu uma das 20 vagas para as finais. Dessa peneira, o concurso elegeu os sete melhores bailarinos, e Luciana, à época com 15 anos, garantiu a terceira colocação.
''Aos 8, tive a certeza de que eu queria me tornar uma bailarina profissional. Então conversei com meus pais sobre a importância disso na minha vida. Desde a primeira aula, nunca levei o balé como brincadeira''
Luciana Sagioro, bailarina
Estudos na infância
Luciana iniciou seus estudos aos 3 anos, em Juiz de Fora. “Aos 8, tive a certeza de que eu queria me tornar uma bailarina profissional. Então conversei com meus pais sobre a importância disso na minha vida”, afirma. “Desde a primeira aula, nunca levei o balé como brincadeira”, diz.Foi nessa época, inclusive, que a promissora bailarina mirou sua atenção na escola Petite Danse, no Rio de Janeiro, onde já dança há cinco anos. “Descobri essa instituição assistindo a vídeos no YouTube e mostrei para a minha mãe e o meu pai, mas eles falaram que seria impossível nos mudarmos para lá, pois tudo nosso estava aqui”, conta.
“Porém, passou um tempo e eles permitiram que eu fizesse só uma aula experimental lá no Rio. Fui e voltei para Juiz de Fora. Após um tempo, a direção ligou para os meus pais e me convidou para fazer parte da escola”, lembra.
Inicialmente, Luciana viajava para a capital fluminense toda terça e quinta-feiras para fazer as aulas e voltava para Juiz de Fora no mesmo dia. “Tudo isso com a condição de que as notas na escola fossem muito boas.” Essa foi, segundo ela, a única exigência imposta pelos pais.
Porém, já com o status de atleta de alto rendimento, a logística do bate-volta entre Rio e Juiz de Fora passou a não ser considerada conveniente pelos professores de Luciana. Com isso, a família, em prol do crescimento e do sonho da filha, providenciou a mudança dela, na companhia de uma babá, para o Rio de Janeiro, no fim de 2016, quando ela tinha 9 anos.
De lá para cá, Luciana se aperfeiçoou com um time de profissionais formado não apenas por professores de dança, mas um preparador físico, uma mentora de meditação, um ortopedista e um nutricionista.
Convites internacionais
O ingresso na Ópera de Paris estava nos planos de Luciana. Ela foi a única bailarina da América Latina selecionada neste ano pelo tradicional concurso, realizado desde 1972. Mirando o Prix de Lausanne desde muito nova, Luciana conta que deu o pontapé inicial nas seletivas ainda no Brasil.O processo, conforme explica, se dá “primeiro por uma seleção de vídeo” no qual 70 inscritos são convidados para a competição na Suíça. A peneira reduz os candidatos a 20. Desse grupo saem os sete bolsistas. Além da terceira colocação na disputa, ela foi escolhida como melhor bailarina pelo público da web, segundo conta.
Com o término das apresentações, o festival organiza uma espécie de networking em que todos os bailarinos que participaram do Prix têm a chance de realizar encontros que podem (ou não) resultar numa imediata proposta dentro do universo da dança.
“A gente entra numa sala com diretores de diversas companhias do exterior, onde ocorrem ofertas de trabalho e de bolsas de estudo de diversas companhias”, diz a bailarina. Ela recebeu propostas de bolsas de estudos de oito escolas de dança de várias partes da Europa, entre elas instituições em Londres e Munique, mas optou pela bolsa oferecida pela Ópera de Paris, berço do ballet clássico.
Novamente, Luciana terá que lidar com o afastamento da família, agora por um longo tempo. “Vou morar no internato da escola. Este momento está sendo uma realização muito grande. Nesse início, minha mãe vai para lá comigo para me ajudar, mas retorna em breve para Juiz de Fora”, diz.
“Certamente, vou ficar com muitas saudades dos meus pais, mas não tenho data para voltar ao Brasil”, aponta. A bailarina continua querendo ir mais longe. Ela almeja alcançar o posto de étoile (estrela, em francês), que compreende um grupo muito seleto de bailarinos. São eles que executam os papéis principais das coreografias e ocupam os postos mais altos na companhia. Adepta dos desafios, Luciana afirma: “Sempre existe a possibilidade de evoluir um pouco mais”.