Não é de hoje que a banda goiana Boogarins é comparada ao Clube da Esquina. Desde que surgiu e ganhou projeção dentro e fora do Brasil, a partir de 2013, com o álbum "As plantas que curam", o grupo ecoa algumas das características do trabalho dos músicos, compositores e letristas mineiros que se reuniram em torno da música para, em 1972, entrar para a história com o álbum "Clube da Esquina".
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A apresentação do Boogarins está programada para o último dia do Meca, junto com Alceu Valença. Não será um show convencional. A banda goiana apresentará releituras do Clube da Esquina e outras canções lançadas por Milton, Lô, Beto e Toninho como artistas solo ainda nos anos 1970.
Versões
Trata-se de um show pensado exclusivamente para o evento, mas cuja gênese está no início de 2021, quando o grupo foi convidado para participar do programa "Versões", do Multishow. "Quando a gente recebeu esse convite, fazia muito sentido para nós interpretar o universo do Clube da Esquina. A ideia era pegar canções que a gente gosta e tocar do nosso jeito", conta Dinho.Na ocasião, eles apresentaram oito canções, entre elas "Trem de doido", "Paula e Bebeto", "Um girassol da cor do seu cabelo" e "Amor de índio", além das músicas autorais "Tempo" e "Auchma". Para a apresentação no Meca, saem as músicas próprias e entram outras do Clube, que ajudarão a formar um show especial em homenagem ao movimento.
"Vamos ter novidades no repertório e incluir algumas músicas que são mais 'pop', digamos. São as mais conhecidas. Como é um show de festival, a nossa ideia é agradar o público. Então vamos acelerar um pouco", afirma o vocalista.
Segundo ele, a releitura das músicas acontece naturalmente, porque a banda tem uma abordagem muito livre nas apresentações ao vivo. "O Boogarins tem essa coisa de ser uma banda de estrada. A pandemia esfriou um pouco a gente, mas agora estamos retomando isso. Começou como um projeto dentro do quarto e de repente a gente se viu muito na estrada. E nosso jeito é pegar as músicas e fazê-las serem vivas a cada noite", ele diz.
“Essa coisa de repaginar é algo que a gente faz com nosso próprio repertório e com essas músicas lindas do Clube da Esquina vamos partir desse mesmo lugar", acrescenta. "A ideia é colocar os elementos característicos do nosso trabalho e lidar com a música com muita liberdade. Às vezes a gente estica um arranjo de voz. Em outras a gente acrescenta um solo. É algo que acontece no momento que está acontecendo. E não é a partitura da música que molda o que a gente sente enquanto está tocando."
Confira o clipe de 'Inocência', com Boogarins:
Referência
Quando o Boogarins surgiu, a banda foi muito associada à neopsicodelia, estilo encabeçado pelo projeto Tame Impala, do músico australiano Kevin Parker. Por essa razão, a banda ganhou projeção internacional e, no exterior, passou a ser comparada aos Mutantes e a outros artistas da Tropicália. No entanto, a principal referência do quarteto sempre foi o Clube da Esquina."Desde o início sinto que a gente respira como esses artistas de Minas. A gente se sente no mesmo lugar que essa galera se sentiu. Talvez por sermos uma banda de Goiânia. Quem comparou a gente com Tame Impala ou com Mutantes não ouviu Clube da Esquina e os artistas que fizeram parte desse universo nos anos 1970. Eles são a base de todo o nosso trabalho", pontua Dinho.
Ele conta que cresceu ouvindo Clube da Esquina, muito sob a influência dos pais, ainda na infância. Depois, na juventude e na adolescência, lembra que redescobriu os discos e começou a enxergá-los como os trabalhos monumentais que são.
"Essas músicas marcaram a minha infância. Já mais velho, quando eu fui escutá-las de novo, eu lembro de percebê-las do tamanho que elas são: grandiosas. Eu escutava e pensava: 'Isso aqui é uma pintura. Isso aqui é uma pancada na cabeça'", conta.
Dinho considera, portanto, que conheceu o álbum "Clube da Esquina" (1972) em dois momentos. "Tive esse primeiro momento de ouvir o álbum meio perdido junto com meus pais e depois ouvir de novo, mais velho, pescando memórias escondidas. Foi nesse segundo momento que eu percebi a pancada que eram as estruturas musicais desse trabalho. É um disco que te impacta conforme você vai ouvindo", analisa.
Desde que a banda ganhou a notoriedade que tem hoje, foram poucas as vezes em que eles dividiram o palco com seus ídolos. Uma delas foi no festival Psicodália, em Rio Negrinho (Santa Catarina). Na edição de 2018, o Boogarins se apresentou no evento, assim como Lô Borges.
"Nessas situações, a gente fica tímido. Conversamos um pouco com ele e falamos um pouco sobre música. Recentemente, encontrei um cara que trabalha junto com o Lô e ele me disse que ele gostou muito das nossas versões para o Clube da Esquina", comenta.
"Mas eu confesso que não queria muito saber se eles gostaram ou não. Queria saber o que eles acham da nossa música. Se eles percebem o eco do trabalho deles no nosso. Se sentem com essa responsabilidade e têm consciência de que aquilo que eles fizeram no passado gerou frutos", afirma.
Assim que foi anunciada, a apresentação do Boogarins em homenagem ao Clube da Esquina gerou uma certa comoção entre os fãs da banda e os fãs do movimento, que pediam por mais shows nesse formato. Por enquanto, não há planos de estender essa homenagem ou eternizá-la de alguma maneira. No entanto, Dinho afirma que, se a demanda surgir, o Boogarins tentará supri-la.
"Na nossa carreira, a gente sempre fez as coisas que 'pintam' para a gente fazer. Se eu te falar que agora nós temos planos para esse projeto, vou estar mentindo, porque nós realmente não temos. Mas se surgir algum contratante que queira esse show ou alguém que queira patrocinar um registro desse show, aí, sim, nós podemos começar a conversar", ele diz, aos risos.
Atualmente, a banda trabalha em um novo álbum de estúdio, que está em fase de pré-produção. "Nosso sonho é que até o final do ano alguma coisa nova seja lançada", ele afirma. Se isso se concretizar, este será o sétimo álbum de estúdio da banda, sucessor de "Manchaca vol. 1" (2020) e "Manchaca vol. 2" (2021). Também fazem parte da discografia do grupo os álbuns "Manual" (2015), "Lá vem a morte" (2017) e "Sombrou dúvida" (2019).
MECAINHOTIM 2022
Sexta (12/8), sábado (13/8) e domingo (14/8). Instituto Inhotim, Rua B, 20, Brumadinho. Ingressos: Passaporte para os três dias, a partir de R$ 990; Sexta e domingo, a partir de R$ 290. Os ingressos avulsos para sábado estão esgotados. O ingresso dá direito à visitação completa do Instituto Inhotim. À venda no site www.ingresse.com/mecainhotim202. Mais informações: @mecalovemeca, no Instagram.
TALKS, EXPERIÊNCIAS E DJS
Além dos shows musicais, realizados no período da noite, o MecaInhotim 2022 contará com programação diurna de experiências, DJs sets e visitação das galerias de arte e jardins do Instituto de Arte Contemporânea. O público do festival poderá participar de oficinas de ioga, dança, fotografia, mandala botânica e massagem coletiva.
Entre os palestrantes que vão participar do evento estão o ex-BBB João Pedrosa, integrante da 21ª edição do reality show, e a jornalista Alana Rizzo, líder de políticas públicas e relações governamentais do YouTube no Brasil.
Também conduzirão palestras Samantha Almeida, Júlio Beltrão, Marcela Ceribeli, Daniela Arrais, Barbara Soalheiro, Geni Núñez, Bruna Frog, Giovana Heliodoro e Marcelo Rocha.
O MecaInhotim receberá apresentações dos DJs Discos Baratos (Gui Scott e PHP), DJ Feu, DJ Naroc, Julia Weck, Kingdom, Mareh Music (Guga Roseli e Rafael Cancian) e Cleu e Guima.
Também conduzirão palestras Samantha Almeida, Júlio Beltrão, Marcela Ceribeli, Daniela Arrais, Barbara Soalheiro, Geni Núñez, Bruna Frog, Giovana Heliodoro e Marcelo Rocha.
O MecaInhotim receberá apresentações dos DJs Discos Baratos (Gui Scott e PHP), DJ Feu, DJ Naroc, Julia Weck, Kingdom, Mareh Music (Guga Roseli e Rafael Cancian) e Cleu e Guima.