“O lugar de Caetano Veloso na história da música popular brasileira é o topo.” A afirmação poderia soar suspeita, já que vem de sua irmã, Maria Bethânia, mas a trajetória artística do cantor e compositor baiano, que completa 80 anos de idade neste domingo (7/8), avaliza a fala da cantora.
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Ela adianta que não estará o tempo inteiro no palco, vai fazer apenas algumas canções, porque, conforme ressalta, o espetáculo é de Caetano com os filhos, e o que lhe cabe é apenas uma participação. “Caetano me pediu que fizéssemos uma coisa muito harmônica”, diz, observando que o clima de afeto familiar já pôde ser sentido em “Ofertório”, turnê com que o cantor e sua prole circularam entre 2017 e 2019 e que gerou álbum e DVD homônimos.
“É aquele núcleo, aquela beleza, aquela entrega, a cumplicidade e as canções deslumbrantes de Caetano”, diz. Ela recorda que também chegou a dividir palco com o irmão e os sobrinhos na edição 2018 do Prêmio da Música Brasileira, quando o homenageado foi Luiz Melodia e, juntos, cantaram “Pérola negra”.
Roteiro em sigilo
Caetano já adiantou três músicas que estão no roteiro do show comemorativo por suas oito décadas de vida: “Irene” e “Milagres do povo”, de sua autoria, e “O sopro do fole”, de Zeca Veloso. Instada a revelar outros temas que compõem o repertório, Bethânia se recusa, enfática: “De jeito nenhum. Não vou estragar a surpresa. Isso é com o chefe, vai perguntar para ele”. Não foi possível, porque, de acordo com a assessoria de Caetano, ele está com a agenda cheia e não está concedendo entrevistas.Mas a cantora não se furta a falar de suas experiências musicais em família. Ela – que, ao lado do irmão, lançou, em 1978, um LP gravado ao vivo no Canecão, no Rio de Janeiro (com músicas como “Tudo de novo”, “João e Maria”, “Meu primeiro amor” e “Maninha”, entre outras) – lembra que gravou “O sopro do fole” no álbum “Noturno”, lançado no ano passado. Também pontua que participou, recentemente, de um projeto capitaneado por Moreno Veloso.
Trata-se de “Clarice Clarão”, em homenagem a Clarice Lispector, que veio na esteira de seu centenário, comemorado em 2020, e que tem o filho mais velho de Caetano e a poeta e compositora Beatriz Azevedo como idealizadores. O projeto consiste em uma apresentação que une música, teatro e poesia para construir uma narrativa inspirada na obra da escritora, e que gerou um álbum recém-lançado nas plataformas digitais.
Música em família
Bethânia, que comparece em “Clarice Clarão” recitando textos da escritora, ressalta que, para além da esfera profissional, a música está sempre e naturalmente presente na relação com o irmão e os sobrinhos. “Está e sempre esteve presente em nossa família, mesmo antes de nos tornarmos cantores profissionais. Mesmo quando meninos, a música sempre permeou tudo, os caminhos dos nossos descobrimentos; foi o farol das nossas buscas. E os filhos de Caetano puxaram isso de maneira linda, porque trabalham com música de uma forma muito apaixonada”, diz.Ela assente que esta é, sem dúvida, uma herança da matriarca Dona Canô. “Minha mãe sempre gostou muito de música. Lá em casa sempre teve do clássico ao mais popular, cada filho com suas escolhas, suas preferências, de cantor, de compositor, de intérprete. Temos uma cultura de ópera também, minha mãe sabia árias, gostava de cantar. Ela sempre cantou lindo, sempre foi muito afinada”, diz, aproveitando para reiterar a grandeza da arte do irmão aniversariante.
“Todos tínhamos essa cultura, agora, o talento de Caetano para a música é uma coisa fora do comum. Eu sou apenas uma intérprete, e tenho a felicidade de que minha mãe adorava me ouvir cantar, gostava de me ver no palco, mas sobretudo ela era deslumbrada com o filho poeta, compositor, inteligentíssimo, sensibilíssimo, um príncipe encantador”, aponta.
Fora do comum
Ela se diz incapaz de apontar, na vasta discografia do irmão, qual é seu álbum favorito – ou os álbuns favoritos –, mas destaca que o mais recente, “Meu coco”, lançado no ano passado, a tocou de maneira muito profunda.
“É um trabalho fora do comum, muito à frente, quase inalcançável. Difícil pensar outro compositor brasileiro capaz de propor algo tão inovador. É um disco muito significativo para mim. Mas também há momentos inesquecíveis em outros trabalhos. Caetano tem muita coisa gravada”, sublinha.
“É um trabalho fora do comum, muito à frente, quase inalcançável. Difícil pensar outro compositor brasileiro capaz de propor algo tão inovador. É um disco muito significativo para mim. Mas também há momentos inesquecíveis em outros trabalhos. Caetano tem muita coisa gravada”, sublinha.
Voltando ao lugar que o irmão ocupa no panteão da MPB, ela diz que Caetano pode não estar sozinho no topo, mas não consegue enxergar ninguém acima dele. “Caetano para mim é um modelo. Não que não existam compositores do mesmo gabarito, mas eu o acho um excelente compositor. Penso que o lugar dele é muito alto; não está sozinho, absolutamente, uma canção dele em ‘Meu coco’ até fala sobre isso”, diz, aludindo a “Sem samba não dá”, cuja letra enumera diversos outros artistas da canção brasileira. “Mas que ele está no topo, está”, complementa.
Sobre os próprios projetos, com que está às voltas no momento e que orbitam seu horizonte, Bethânia diz que vai cumprir os compromissos de shows que foram adiados devido à pandemia e depois vai se dar um tempo. “Se Deus quiser, teremos fevereiro em Santo Amaro, que é onde me alimento, é o lugar onde renasço, é onde gosto de estar. Aí, depois disso, vou ver o que fazer, se me der vontade de fazer alguma coisa”, conclui.
ESPECIAL CAETANO VELOSO 80 ANOS
Com Moreno, Zeca e Tom Veloso. Participação especial de Maria Bethânia. Neste domingo (7/8), às 20h30, no canal Multishow e na plataforma Globoplay.