O cineasta dinamarquês Lars von Trier, de 66 anos, sofre de mal de Parkinson, anunciou sua produtora na segunda-feira (8/8). “Lars está em forma e vem sendo tratado por seus sintomas”, informou o comunicado da empresa Zentropa.
O diretor é um dos idealizadores do manifesto Dogma, lançado em 1995, que propõe um cinema conectado com a realidade, em contraposição a filmes comerciais e ao imaginário hollywoodiano, resgatando o papel do diretor como artista.
Inspirados no movimento francês da Nouvelle Vague, Von Trier e companheiros, como o diretor Thomas Vinterberg, rejeitaram efeitos especiais e recursos milionários de blockbusters para oferecer cinema autêntico, sem artifícios e com orçamentos em conta.
Dogma 95 defende regras rígidas para filmes alinhados com sua proposta, priorizando a trama e a performance dos atores.
O manifesto estipula que o filme deve ser realizado em cores, com a câmera na mão. As filmagens devem ocorrer em locações, não em estúdios. Iluminação especial e filtros são proibidos. Se houver pouca luz, a cena é cortada, por exemplo.
“Melancolia”, “Ninfomaníaca” e “A casa que Jack construiu” são alguns trabalhos do cineasta dinamarquês.
Veja trailer do filme "Melancolia":
Obra marcada pela polêmica
Peso-pesado da indústria cinematográfica, Von Trier é artista polêmico, conhecido por filmes que provocam muita discussão por incluir cenas de violência incômodas para o espectador.
“Melancolia” (2011), protagonizado por Kirsten Dunst, é considerado obra-prima do diretor, ao abordar a depressão e o mito da felicidade, por meio da crise existencial de uma publicitária bem-sucedida em meio ao fim do mundo, devido à iminente colisão de um planeta com a Terra. Dunst ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por este trabalho.
Em “Ninfomaníaca”, lançado em dois volumes, Von Trier não poupa o espectador ao abordar a jornada erótica e existencial de Joe (Charlotte Gainsbourg).
Indicado para maiores de 18 anos, o filme traz cenas cruas dos relacionamentos de Joe com os homens, abordando a sexualidade feminina. O longa faz parte da “trilogia da depressão” ao lado de “Melancolia” e “Anticristo” (2009), este último sobre o casal que se isola numa cabana na floresta após a morte do filho.
Outro filme de destaque de Von Trier é “Dogville” (2003). Nicole Kidman interpreta Grace, jovem que chega a um lugarejo fugindo de gangsteres. Inicialmente protegida pelos moradores da pequena comunidade, ela descobre, aos poucos, a perversidade e a hipocrisia daqueles “bondosos” cidadãos dos EUA.
O cineasta ganhou a Palma de Ouro, no Festival de Cannes, com o longa “Dançando no escuro” (2000), protagonizado pela cantora e compositora Bjork, sobre o drama de imigrante que luta para salvar o filho doente, mas acaba condenada à morte.
Von Trier roteiriza a série 'The kingdom exodus'
Este ano, o diretor anunciou o lançamento de “The kingdom exodus”, a terceira parte da série “The kingdom” (“O reino”) que a produtora Zentropa espera concluir de acordo com o cronograma traçado originalmente.
Lars von Trier se dedica aos novos episódios do seriado noventista sobre um hospital dinamarquês considerado mal-assombrado devido a fatos inexplicados que costumam ocorrer lá.
A produção estreou com quatro episódios, em 1994, e ganhou mais quatro em 1997. Posteriormente, deu origem a um filme.
Von Trier é o responsável pelo roteiro dos novos capítulos em parceria com Niels Vorsel, que roteirizou as temporadas anteriores da atração.