A continuação de um projeto que começou há dois anos. É assim que o rapper Rico Dalasam concebeu seu novo EP, "Fim das tentativas", lançado nas plataformas digitais na última quarta-feira (3/8).
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Ao declarar o novo EP como a continuação de seus projetos mais recentes - o que inclui o single "30 semanas", lançado em maio - Rico Dalasam assume que o registro só existe em relação aos outros. Portanto, são inevitáveis as comparações entre eles. No entanto, assim como em "DDGA" e "Dolores Dala guardião do alívio", em "Fim das tentativas" o rapper segue tratando de temas sensíveis e íntimos com franqueza.
Desde a primeira faixa, "De longe", que, na verdade, é um áudio que funciona como manifesto para o restante do EP, ele defende com franqueza as dores que enfrentou no passado e ainda o atormentam no presente. Em um dos versos, parece comentar a chamada “cultura do cancelamento”, o hábito de linchar pessoas na internet. "Me vi na parte que, de longe, a dor vira arte e meu passo em falso ganha aplauso/ De longe, enganei desejos; de perto, espantei vários", ele diz.
Fim das tentativas
Na faixa seguinte, "Guia de um amor cego", Dalasam canta e recita versos que falam sobre a afetividade de "garotos negros", como ele mesmo diz. A música não fala de coração partido, mas é uma sofrência sobre o racismo estrutural que reflete inclusive nas relações mínimas. "O que sei sobre o amor, eu inventei/ Inventei um jeito pra me amar/ E quando alguém se sente amado por mim/ Eu penso que deu certo o que eu precisei inventar", ele defende. A faixa conta com a participação da cantora Céu.Em "Ando me perguntando", Rico Dalasam exibe um flow afiado para falar de como encara a própria carreira, das escolhas que fez desde que surgiu, em 2015, quando lançou o álbum "Modo diverso", e ganhou projeção nacional por ser um rapper gay e principal representante do queer rap. A faixa traz um sample da música "Meu filho, minhas regras", do grupo de rap Visão de Rua.
Na quarta faixa, "Tarde d+", Dalasam resgata a abordagem pop de algumas faixas de "Dolores Dala guardião do alívio", como "Braille" e "Mudou como?". Assim como nessas duas músicas, o rapper fala sobre decepções amorosas no mundo contemporâneo, mas parece encontrar conforto na própria autoestima. "Me deu calma quando vi/ O sol refletir minhas marcas/ Me vi ave rara em um céu aberto sem fim", diz um dos versos.
Novo EP
Já na derradeira "Fim das tentativas", o EP ganha um clima épico e Rico Dalasam se liberta do peso que o final das relações carregam e declara: "Se esse é o fim da tentativa/ Também tive que morrer/ Pra deixar tu morrer da minha vida", como um cessar-fogo de quem já sofreu o bastante e deseja seguir em frente. A música conta com a participação do trio curitibano Tuyo.
Musicalmente, "Fim das tentativas" é também uma continuidade. Nele, Rico Dalasam volta a trabalhar com o produtor Dinho Souza, e não se afasta do universo sonoro criado para "DDGA" e "Dolores Dala guardião do alívio", marcado por beats eletrônicos e viradas melódicas que não mascaram, mas acentuam a melancolia por trás das letras do rapper. A escolha faz sentido e não representa uma involução, mas uma forma de mostrar que a história continua.
Agora, resta saber se o novo EP terá o mesmo destino de "DDGA", que depois de quase um ano de lançamento ganhou um desdobramento em um disco consistente e inventivo, responsável por restabelecer o artista como um dos destaques do rap nacional.
Antes disso, Rico Dalasam apresenta o universo de seus trabalhos em show n'A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia), no próximo dia 20. A noite também terá a participação do cantor belo-horizontino Kaike e da DJ Bebela. Os ingressos estão à venda no site da casa de shows a R$ 80 e R$ 40 (meia estudante ou social).
"FIM DAS TENTATIVAS"
• Rico Dalasam
• 5 faixas
• Independente
• Disponível nas plataformas digitais