Comparando com a capital do final do milênio, o que a Belo Horizonte, neste quase um quarto de século 21, tem a dizer sobre si mesma? A resposta é “um pouco afiada e amarga, mas no final esperançosa, ainda que bastante crítica”, afirma o arquiteto Carlos M. Teixeira.
Em 1999, ele lançou a primeira edição de “Em obras: história do vazio em Belo Horizonte”, livro de fotografias e textos que propunha uma leitura sobre a cidade não a partir de suas construções, mas dos espaços com potencial para se pensarem outras formas de relação da população. Agora com nova edição, revista e ampliada, a obra continua no mesmo caminho, mas atualizando a cidade para os dias de hoje. O lançamento será na manhã deste sábado (13/8), na Livraria da Rua.
Não há respostas fáceis para uma cidade que hoje está próxima dos 4 milhões de habitantes. “O que dá para dizer é que algumas coisas que a primeira edição falava se concretizaram”, diz Teixeira, que previa, lá atrás, que a periferia viraria Centro e que o Centro se tornaria periferia.
“Isso, de certa maneira, aconteceu. O Plano Diretor da cidade hoje incentiva a criação de pequenos centros que deixariam os bairros menos dependentes do Centro da cidade. Houve uma tentativa de colocar um pouco mais de eficiência no transporte público, que é o caso do BRT, que não sei se é uma grande mudança, mas não deixa de ser mencionável.”
Canteiro de obras
Na época da primeira edição, BH tinha grandes canteiros de obras nos bairros Buritis, na Região Oeste, Belvedere, Região Centro-Sul, e Castelo, Região Norte. “Era como uma esperança de que um novo tipo de espaço urbano pudesse surgir a partir de grandes obras”, continua Teixeira.
Ainda que os bairros tenham “certa autonomia”, na opinião do arquiteto, eles têm problemas de infraestrutura, “gargalos de conexão com o Centro da cidade”. Além disso, ele diz, a arquitetura desses bairros “não se preocupa com um diálogo com a cidade, havendo até certa recusa entre o espaço privado e público, com grandes muros, que não é uma questão única dos bairros, mas um problema mais estrutural do país”.
A nova edição traz, além de novo posfácio, em que Teixeira reflete sobre as questões acima, o prefácio do sociólogo francês Jacques Leenhardt, “Urbanismo e destruição criativa”. O volume reúne dezenas de fotografias tiradas pelo próprio arquiteto na década de 1990 – além de imagens de arquivos da BH de outras épocas.
“O design gráfico está muito diferente do livro original. Aquele tinha um problema de interposição entre as imagens, textos com vários efeitos sobre as fotos. Nesta segunda edição, houve uma nova edição de imagens”, acrescenta Teixeira.
Serra do Curral: eterno desafio
O livro também apresenta cinco projetos concebidos pelo arquiteto na década de 1990 como soluções para vazios. Um deles, sobre a Serra do Curral, está exposto na capa do livro. “Vários desses projetos hoje são talvez ainda mais importantes para a cidade do que há 23 anos”, comenta.
“Em 1999, o projeto para a Serra do Curral era revelar o vazio escondido em torno da cava da mineração Águas Claras, logo atrás do eixo da Avenida Afonso Pena.” Na época, o projeto era lotear a área, então de propriedade da mineradora MBR, para a criação de um condomínio.
Pouco tempo após a publicação do primeiro livro, a mina foi desativada. Hoje, a cava que aparece na capa do livro não existe mais. “Virou um grande lago e a profundidade da cava é impossível de ser vista, pois há um espelho d’água gigantesco.”
Para Teixeira, a proposta feita mais de duas décadas atrás, de fazer da região da Serra do Curral um grande parque, é factível. “O proprietário hoje é a Vale, que ganha vendendo minério, não edifício. A imagem dela está bastante negativa com o que aconteceu de oito anos para cá.” Para ele, a ocupação da região com uma área pública, um parque com equipamentos culturais e sociais, criado a partir das “cicatrizes deixadas na serra”, teria uma dimensão simbólica para Belo Horizonte. “Não acho que seja uma proposta totalmente utópica. Talvez seja o futuro de lá, em médio prazo”, finaliza Teixeira.
“EM OBRAS: HISTÓRIA DO VAZIO EM BELO HORIZONTE”
. De Carlos M. Teixeira
. Romano Guerra Editora
. 384 páginas
. R$ 100
. Lançamento neste sábado (13/8), às 10h30, na Livraria da Rua, Rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi