Realizado pela primeira vez em 2003, o Savassi Festival nasceu, segundo seu idealizador, Bruno Golgher, com uma ideia relativamente simples: levar para o espaço público shows que as pessoas estavam habituadas a assistir em locais privados, cuidando para que fossem tão bons ao ar livre quanto no ambiente fechado. “O mundo mudou, a cidade mudou, mas essa faísca permanece”, ele diz.
Ao chegar à 20ª edição – depois de um 2021 sem a presença da plateia, devido à pandemia –, o festival volta a seu lugar de origem, marcando presença na cidade e retomando algumas tradições, como o período de realização, a multiplicidade de ações e a diversidade curatorial.
CLUBE DE JAZZ
De amanhã (15/8) até o próximo dia 22, o evento ocupará ruas, bares, restaurantes, teatros e equipamentos públicos com shows, lançamentos, palestras e workshops, além de novidades, como a estreia do Clube de Jazz do Café com Letras.
Os shows gratuitos ocorrerão na Praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, e na Savassi, entre sexta-feira (19/8) e domingo que vem (21/8). Estão escalados Glaw Nader, Dani Gurgel, Lívia Mattos, Hércules Gomes Trio, Gaia Wilmer e Sexteto Sucupira, além da dinamarquesa Kathrine Windfeld, acompanhada da Big Band do Clube de Jazz, e da cantora Enji Erkham, da Mongólia.
“Voltar a ocupar o espaço público no ano em que o festival chega à 20ª edição representa muita coisa. É algo que está no nosso DNA por uma razão muito forte: a ideia de que ter música e cultura ao ar livre faz bem para as pessoas, torna a cidade melhor. É muito bom voltar a ter vários palcos simultâneos, porque você consegue abarcar uma diversidade maior, as pessoas conhecem coisas novas. É muito estimulante”, aponta Golgher.
Diversidade e novidade são marcas registradas do evento, que tem o foco no jazz e na música instrumental, mas não se limita a eles. Montar a vasta programação é um exercício de organização que passa por várias camadas. “Primeiro, sempre tem aquele monte de coisas que você sempre quis fazer e nunca conseguiu, os desejos curatoriais não realizados. Wagner Tiso é um deles. Nesses 20 anos, ele nunca tinha tocado no festival”, diz o produtor. O pioneiro do Clube da Esquina vai fazer show na próxima sexta-feira (19/8), no CCBB.
ESTUDANTES
Golgher destaca que vários flancos, como se fossem subprojetos do festival, servem de baliza para a programação. Ele cita o Palco UFMG, que contará com quatro alunos e alunas da Escola de Música da universidade e seus grupos, e o Novos Talentos do Jazz, que selecionou, por meio de edital, artistas emergentes.
“Penso a programação com artistas que gostaria de trazer ou que as pessoas indicam. O Sexteto Sucupira, por exemplo, veio de um amigo que disse que eu tinha de ouvir, porque era muito bom. Ouvi e achei incrível. Já o Leandro Cabral foi uma sugestão do Rafael Martini”, conta Bruno Golgher.
Somam-se a isso recortes que apontam caminhos curatoriais. A Praça Floriano Peixoto receberá dois deles, no próximo fim de semana: Mulheres na Música Instrumental e Jazzinho – Jazz para Crianças.
“A gente explora esses recortes com atenção às efemérides”, diz Golgher, aludindo a duas atrações do Jazzinho: “Caetano Veloso para crianças e outras brincadeiras”, show dos paulistas Décio Gioielli e André Perine, que celebra os 80 anos do baiano; e a homenagem aos 50 anos do Clube da Esquina que será feita por Luísa Mitre, Alexandre Andrés e Lucas Telles, em “O Clube da Esquina para crianças”, show dirigido por Rodrigo Borges, sobrinho de Lô e Marcio Borges.
Além dos palcos montados na Savassi e na Praça Floriano Peixoto – em parcerias com o Festival Verbo Gentileza –, outros locais abrigam a programação: Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Conservatório UFMG e Café com Letras, onde tudo começou, além do CCBB e do Clube de Jazz do Café com Letras.
A Juvenal Dias receberá Rafael Dutra (nesta segunda, 15/8), Vanessa Moreno e Salomão Soares (17/8), Marcelo Magalhães Quarteto (18/8), Marcos Ruffato (19/8) e O Grivo (20/8). Rafael Martini (17/8), André Mehmari e Maria João (18/8) e Enji Erkhan (20/8), além do Wagner Tiso Trio, são as atrações do CCBB.
Golgher hesita, mas acaba entregando, de “bate-pronto”, alguns destaques desta edição. “O Tiso, sem dúvida, é um deles, por ser um monumento da nossa cultura. O trabalho de composição e gravação que o Martini fez com ‘Martelo’ (novo álbum do artista) é uma coisa importante dentro do festival, porque é muito elaborado, muito especial”, aponta.
FESTA
O Sexteto Sucupira, segundo ele, “consegue juntar duas coisas difíceis: a trama da música instrumental com a festa; é um negócio para cima, uma espécie de celebração da música brasileira”, diz.
Golgher chama a atenção para as atrações internacionais – Enji Erkhem e Kathrine Windfeld. “Kathrine é uma compositora europeia que tem alcançado proeminência com seu trabalho focado nas big bands. A Enji vem da tradição do canto gutural da Mongólia. Nesse sentido, seu show se conecta com o Congresso Acadêmico Pensar Música, que tem como tema 'A improvisação nas margens', driblando a ligação estrita do jazz só com os Estados Unidos”, ressalta.
O produtor destaca também o que considera uma revelação: a cantora, compositora e instrumentista Jasmine Godoy. “É uma menina que nasceu na Holanda, morou em Montes Claros e agora está aqui em Belo Horizonte. Excelente cantora e compositora, muito digna de nota.”
Ações educacionais ampliam agenda
Ações conexas ampliam a abrangência do Savassi Festival. Uma delas é o Estúdio de Portas Abertas – fruto da parceria com os principais estúdios de gravação da capital mineira. O objetivo é aproximar o público da rotina de cinco estúdios para conhecer o que ele tem produzido.
O Espaço Cultural do Livro de Música é uma feira, organizada em parceria com a Tipografia Musical, com livros de outras editoras especializadas, como Vitale, MusiMed, Cobogó, Fino Traço e Neutra. Será montada na praça da Savassi, no próximo domingo, das 9h às 20h.
A educação ganhou destaque. Workshop sobre técnicas vocais do canto gutural tradicional da Mongólia será ministrada por Enji Erkhem, na quarta-feira (17/8), às 15h, no Conservatório UFMG.
No dia 19, a partir das 10h, também no Conservatório, haverá masterclass de composição, piano e arranjos com Kathrine Windfeld. Por fim, no dia 20, às 11h, no Clube de Jazz do Café com Letras, acontece o workshop ministrado por Henrik Hansen, baterista que acompanha Windfeld.
CADEIA
“O festival tem um componente educacional importante, sempre pensamos em fugir da esfera exclusiva do espetáculo”, diz Golgher. “Outra intenção, ainda imperfeitamente alcançada, é mobilizar o máximo de elos da cadeia produtiva da música. Você tem as escolas, com o Palco UFMG, você tem os estúdios e a música também gera livro”, complementa.
O desejo é criar ambiente propício para que novos talentos, projetos e colaborações surjam. “É o caso da Enji Erkham. Poderia trazê-la só para o show e ela ir embora, mas se ela participa do congresso e oferece masterclass, isso amplifica sua presença aqui. Projetos novos saem é na hora do cafezinho. O modelo OVNI, que vem, aterrissa, toca e vai embora deixa um rastro muito ralo. A ideia é engrossar esse caldo”, conclui Bruno Golgher.
SAVASSI FESTIVAL 2022
De amanhã (15/8) até a próxima segunda-feira (22/8) nas ruas, praças, teatros e restaurantes de BH. Apresentações ao ar livre têm entrada franca. Ingressos custarão até R$ 25 (inteira) para eventos em espaços fechados. Programação completa: www.savassifestival.com.br