A partir de uma proposta da Funarte-RJ, o violonista, compositor, arranjador, jornalista e produtor Luís Filipe de Lima fez vasta pesquisa que resultou no livro “Para ouvir o samba”. Para o lançamento, no início deste ano, ele convidou o cantor e compositor Pedro Miranda para que, juntos, montassem um show ilustrativo do conteúdo da obra.
No final da manhã deste domingo (14/8), a dupla se apresenta no Museu Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte, como convidada do projeto Música no Museu. O repertório vai contemplar vertentes do samba surgidas em diferentes épocas.
Do choro ao pagode
Luís Filipe e Pedro Miranda vão passear pelo samba de terreiro, samba-choro, partido-alto, samba-canção, samba-enredo, pagode dos anos 1980, samba de breque, sambalanço, bossa nova e samba sincopado. O repertório abarca Zé Kéti, Ismael Silva, Noel Rosa, Dona Ivone Lara, Silas de Oliveira, Jovelina Pérola Negra, Chico Buarque, Tom Jobim e Ary Barroso, entre outros compositores.
“Além de contar a história do samba, o foco do livro é explicar para o público leigo as diferenças entre os diversos estilos que o gênero abrange, porque não é uma coisa só. Você tem sambas que atendem a grupos sociais, faixas etárias e aspectos regionais que são muito diferentes entre si. No livro, separei por estilos, sublinhando com exemplos cada um deles. O roteiro do show segue essa proposta”, informa Luís Filipe.
O pesquisador recorreu a 315 gravações – 210 são acompanhadas de análises que passam pela questão dos arranjos, particularidades das letras e histórias de bastidores das gravações.
“São 23 ou 24 estilos diferentes de samba retratados no livro. Na hora de transpor para o palco, tivemos de sacrificar alguns para o show não ficar muito longo, mas a gente mostra desde o samba maxixado da Cidade Nova – contexto em que surgiu ‘Pelo telefone’, que não é o primeiro samba gravado, como ficou consagrado pelo senso comum – até composições atuais, que apontam novos caminhos”, destaca o pesquisador. O bairro Cidade Nova, na área central do Rio de Janeiro, foi celeiro de talentosos sambistas.
Pedro Miranda observa que a seleção de canções do show foi orientada pelo desejo de simplificar o trabalho da dupla. “Como, em função da pandemia, não havíamos tido tempo de ensaiar e nem de elaborar muita coisa, pegamos músicas com as quais já tínhamos intimidade”, diz.
Ele assente que, da forma como está estruturado, o show tem caráter didático. “A gente mostra os diferentes subgêneros e a linha evolutiva do samba, porque uma coisa deriva da outra. Então, é um panorama histórico do gênero, bastante abrangente”, pontua.
Luís Filipe ressalva que o didatismo não compromete a fluência da apresentação. “A gente vai tentando contar a história de maneira mais leve. Não é uma aula, não tem tom professoral. Tem, sim, casos que a gente vai lembrando ao longo do show”, adianta. “Às vezes o público faz perguntas. O difícil é justamente falar pouco, porque são muitas histórias muito saborosas.”
A paixão pelo gênero é o lastro que lhe permite transitar com propriedade por esse campo, seja como músico ou como pesquisador, admite Luís Filipe.
Atuante na cena do samba há mais de 35 anos, ao longo desse período ele acumulou bibliografia robusta, que lhe permitiu dar cursos sobre o tema a partir do início da década de 2000, quando ministrou o primeiro de uma série no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS), a convite da então diretora da instituição, Marília Trindade Barboza.
Músico, jornalista e doutor
Essa experiência serviu de motivação para que Luís Filipe se dedicasse à pesquisa e à escrita de “Para ouvir o samba”. “Tenho formação como músico, depois me formei em jornalismo, segui fazendo mestrado e doutorado em comunicação na UFRJ. Eu me distanciei do mundo acadêmico, fiz outras coisas, fui para o teatro, mas trabalhar com samba sempre foi uma constante”, destaca.
A lista de intérpretes e compositores com quem atuou – seja tocando junto ou produzindo – inclui Elton Medeiros, Bezerra da Silva, Dona Ivone Lara, Luiz Carlos da Vila, Nelson Sargento, Noca da Portela e Monarco, entre outros.
“Também toquei muito na noite, por mais de 20 anos. Minha asma asma vem daquele tempo em que se podia fumar nos bares e casas noturnas. Passei a produzir discos, fazer direção musical e arranjos. Essa bagagem vem sendo acumulada desde o final dos anos 1980”, explica.
Luís Filipe submeteu o projeto do livro ao conselho editorial da Funarte e, mediante a aprovação, dedicou-se integralmente ao projeto por quatro meses, entre o final de 2020 e o início de 2021.
“O livro foi meu companheiro durante a pandemia. O que faz a diferença, no meu caso, é que, além da pesquisa, posso dar a visão de dentro, do músico que ajuda a construir a sonoridade e do produtor que já trabalhou em mais de 30 discos de grandes nomes do samba”, destaca.
“PARA OUVIR O SAMBA”
Show de Pedro Miranda e Luís Filipe de Lima. Neste domingo (14/8), às 11h30, no Museu Histórico Abílio Barreto, Av. Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim. Entrada franca. Informações: (31) 3222-5271.