Jornal Estado de Minas

MUTIRÃO AUTORAL

No boca a boca, Tranquilo BH leva 500 pessoas a um show em plena 3ª feira


É na base do boca a boca que um dos projetos musicais mais bem-sucedidos de Belo Horizonte vem se amplificando. Não há endereço fixo, a programação muda todas as semanas, só participam artistas autorais e independentes.




 
O público paga o valor que quiser pelo ingresso – a organização divulga o preço sugerido de R$ 20. A trajetória do Tranquilo BH, iniciativa encabeçada pelo músico Thales Silva (ex-A Fase Rosa), é repleta de ousadias que deram certo.

Tem sido assim há quatro anos, quando Thales deu o primeiro passo. Ele achava que sua ideia teria adesão apenas de alguns amigos próximos. “Fazia os encontros na minha casa, começou com 30 pessoas”, relembra.

Marina Sena, muito antes de se tornar estrela pop, cantou no Tranquilo BH músicas que bombaram na web (foto: Fernando Tomaz/divulgação)

Três artistas de cada vez

O tempo foi passando e o público foi crescendo. Desde então, a agenda semanal, que recebe três artistas autorais por edição, passou a ser movimentada. Atualmente, é um dos eventos mais interessantes e disputados de Belo Horizonte – este ano, chegou a atrair cerca de 800 pessoas em uma noite.




Todas as terças-feiras, os shows costumam atrair público interessado em ouvir música nova e independente – a média de frequentadores atinge a surpreendente marca de cerca de 500 pessoas.
 
CONFIRA: Thales Silva fala sobre o Tranquilo BH no Divirta-se Podcast.

Incentivar o segmento da música independente mineira é o maior ganho do projeto, na avaliação do seu criador. “Essa turma (da música autoral) foi sendo jogada para escanteio, não há oportunidade. Criei o Tranquilo pensando neles”, diz Thales.

Além do retorno positivo do público, o projeto tem a aprovação dos artistas. Nas contas de Thales, cerca de 300 músicos já passaram por lá, com ao menos um nome inédito a cada edição. A seleção chama a atenção também pela vontade nítida de contemplar a máxima variedade de perfis, de novatos a nomes mais conhecidos.





Maurício Tizumba, Vitor Santana, Tulipa Ruiz, Tadeu Franco, Leo Minax, Pedro Morais, Nath Rodrigues, Douglas Din e Chico Amaral são da turma com anos de carreira. Com menos tempo de estrada, Maíra Baldaia, Kdu dos Anjos, Malaca, Felipe Bedetti e Amorin já estiveram naquele palco. Agora estrela nacional, Marina Sena fez no Tranquilo uma de suas primeiras apresentações em BH.

Público se diverte no evento itinerante (foto: Tranquilo BH/Instagram)

Barulhinho bom

O quintal de Thales, no bairro Floresta, foi ficando pequeno. À medida que crescia o sucesso do projeto, o incômodo da vizinhança aumentava em proporção parecida. A visita semanal da PM para reclamar do ruído – o idealizador jura que não era tanto barulho – acabou obrigando o Tranquilo BH a mudar de endereço.

Assim também, no improviso, o projeto virou itinerante. Desde então, o Tranquilo faz um passeio semanal por lugares diferentes em Belo Horizonte. Houve edições no Museu Mineiro, no Museu de Artes e Ofícios, na Quadra da Escola de Samba da Cidade Jardim e até no quintal do Noca Restaurante.





Nas contas de Thales, o projeto já percorreu cerca de 50 endereços diferentes na capital mineira. Na edição desta terça-feira (16), ele será apresentado em um canto inédito, na Região Leste. A organização só divulga o endereço no Instagram: @tranquilobh

Questionar ideias anteriormente estabelecidas, como a de que evento de música autoral não dá público, é apenas um dos feitos do Tranquilo BH. Há outros paradigmas quebrados pelo projeto, que costuma atrair plateia com diversidade um tanto incomum em outros eventos do gênero na cidade.

A divulgação dos encontros musicais também é heterodoxa, pois tudo se dá pelas redes sociais. No domingo, é feita uma enquete perguntando quem deseja comparecer ao evento de terça. “Quem responde positivamente depois recebe uma mensagem com a programação, o local e outras orientações”, informa Thales Silva.

Tadeu Franco está entre os artistas que fizeram show no projeto (foto: Tranquilo BH/Instagram)

Silêncio é a lei

Entre os traços que deixam a identidade do Tranquilo BH bastante delineada, certamente o silêncio é um dos principais. Sempre antes das apresentações, Thales faz questão de pegar o microfone e relembrar recomendações importantes. Dedicar atenção total ao artista e evitar a distração da conversa ou celular é um dos principais pedidos, quase sempre atendido por todos.





Sempre com discurso afinado sobre a política cultural, Thales avalia que Belo Horizonte precisa se organizar melhor para dar conta da potência musical que tem surgido na cidade nos últimos tempos.

“É um dos momentos mais bonitos (da música em BH)”, diz. Para ele, o que falta é aprimorar a sintonia entre os atores que participam dessa cadeia criativa com o poder público, empresários e até a imprensa. A avaliação parte de quem recebe semanalmente uma gama variada de talentos, e vários deles veem no Tranquilo um dos poucos espaços abertos à apresentação de sua criação.

“Temos muitos talentos, artistas geniais. BH é um terreno pronto”, acredita Thales. “Acho que BH será protagonista nacional da música nos próximos quatro anos, mas se nada for feito, vamos continuar mandando artista para São Paulo”, conclui.