Jornal Estado de Minas

CINEMA

Longa-metragem "45 do segundo tempo" encara a vida pelo retrovisor


Em 2013, o diretor Luiz Villaça dirigiu Tony Ramos na minissérie “A mulher do prefeito”, da TV Globo. Não se conheciam até então. O encontro, diz o cineasta paulistano, foi “muito especial”, tanto profissional quanto pessoalmente. 





“Quando terminamos de gravar, lembro-me de o Tony entrando no carro e dando tchau para a equipe. Eu virei de costas e caí no choro, pensei que precisava viver mais aquilo, encontrar o Tony outras vezes na vida.”

Esse é o ponto de partida de “45 do segundo tempo”, comédia dramática que chega nesta quinta-feira (18/8) aos cinemas. Em seu quinto longa-metragem, Villaça reúne Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary França em uma história sobre amizade em meio à passagem do tempo. 

Foi a partir de uma notícia no jornal publicada em 2014, que comemorava os 40 anos do metrô de São Paulo, que Villaça chegou à história do filme, com roteiro assinado por ele, Leonardo Moreira, Rafael Gomes e Luna Grimberg. Na ficção, os três amigos de juventude Pedro Baresi (Tony Ramos), Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) se reencontram para reproduzir, quatro décadas mais tarde, a fotografia que tiraram quando da inauguração do metrô, em 1974.



CONFIRA trailer de '45 do segundo tempo:


Pedro, descendente de italianos, comanda a falida cantina Baresi, que seu avô fundou muito tempo atrás. Ivan é um bem-sucedido e pragmático advogado, mas com uma vida pessoal em crise. E Mariano é, para surpresa geral, padre – mas está apaixonado pela ministra da Eucaristia de sua paróquia.  

Não se viam há muitos anos, desde as Diretas-já. O desconforto inicial é latente, pois, afora os assuntos do passado, o trio não parece ter nada em comum. E há ainda o impacto ao descobrir que hoje eles são três, pois a foto original era de um quarteto – o quarto amigo morreu. 

Aventura a contragosto

É Pedro o responsável por unir este trio improvável. Sem mulher e filhos, com o negócio no buraco, ele decide dar um fim a tudo após a morte de sua cachorra, Calabresa. Pegos de surpresa com a decisão intempestiva do amigo, Ivan e Mariano, ainda que no início a contragosto, decidem entrar numa aventura com ele. Ir até a pequena Areado, onde passaram a melhor época de suas vidas, apaixonados por Soninha (Louise Cardoso). 

A história é universal, ainda que tenha vários elementos paulistanos. Como o protagonista é descendente de italianos, a cantina é no bairro do Bexiga, o colégio é o tradicional Dante Alighieri, uma noitada é também em outro ponto icônico de São Paulo, o Edifício Itália. E como bom italiano, Pedro é fanático pelo Palmeiras – e o resultado do Palestra Itália no Campeonato Paulistano vai definir a vida (ou morte) do personagem.





“A história poderia ser em Belo Horizonte, no Amapá ou na Noruega. Sou paulistano, então o filme tem muito do olhar de quem viveu a vida inteira na cidade. E o ponto de partida, a história do metrô, foi algo que acompanhei. Tenho 56 anos, então me lembro dele começando nos anos 1970 e venho acompanhando a mudança da cidade. Como queríamos falar da questão do tempo, de como ele transforma, isso também foi para os personagens”, diz Villaça.

A partir deste encontro, “45 do segundo tempo” toca em temas caros às pessoas, sejam um padre em crise com a vocação ou um advogado em um momento crucial do casamento. Família, desejo, orientação sexual, falta de dinheiro e de perspectiva, tudo vai se encontrar numa cidade do interior idealizada pelo trio. O longa foi rodado em 2018 – estrearia em março de 2020, quando foi atropelado pela pandemia.  

Villaça já havia trabalhado com os três atores, todos próximos do diretor. Pedro Baresi foi escrito para Tony Ramos. Cássio foi o primeiro nome que veio à cabeça do diretor para o advogado Ivan. Já Mariano foi entregue para Ary França de outra maneira. 

“Eu estava fazendo uma peça com ele e outros atores e pedi um dia para eles fazerem uma leitura do roteiro, para eu entender como a história estava indo. Estávamos eu e os outros roteiristas. Com 10 minutos de leitura, nós nos olhamos e vimos que não havia outra possibilidade de o padre Mariano ser outra pessoa que não o Ary.”




Elenco de primeira

Com bom texto e direção segura, o filme é centrado na performance do trio central – que traz bom elenco de coadjuvantes, como Denise Fraga e a já citada Louise Cardoso. Tony Ramos nos lembra, a todo momento, o grande ator que é.

“Quando fechamos o roteiro, tivemos 15 dias de ensaio. O Ary não conhecia o Tony e o Cássio. No primeiro dia, me preparei para decupar o roteiro com eles. Entramos na sala e saímos seis horas depois. Meu corpo doía de tanto rir. Vi que era aquilo, tinha que deixar fluir a relação. Não tem improviso, houve muito respeito ao roteiro. Mas o que rolou na relação entre eles (na preparação) foi fundamental para o filme”, comenta Villaça.

“45 DO SEGUNDO TEMPO”

(Brasil, 2022, 110min, de Luiz Villaça, com Tony Ramos, Ary França e Cássio Gabus Mendes) – Estreia nesta quinta-feira (18/8), no BH 10, às 14h30, 17h30 e 20h15; Boulevard 1, às 18h30 e 20h45; Cidade 3, às 18h30 e 20h40 (qui), 16h25, 18h40 e 20h55 (sex a qua, exceto dom) e 15h25, 17h40 e 20h (dom); Contagem 8, às 14h (exceto dom), 16h10, 18h30 e 20h40; Del Rey 5, às 14h, 16h10, 18h30 e 20h40; Estação 6, às 19h15 (exceto dom) e 21h45; Monte Carmo 4, às 18h30 e 20h50; Pátio 2, às 15h50 (qui, sab, seg e qua) e 16h (sex, dom e ter); Pátio 7, às 21h10 (exceto dom) e 20h50 (dom).