Foi aqui mesmo que o projeto começou. E não poderia ser diferente, pois o ponto de partida da história é Belo Horizonte. Empresária de Milton Nascimento por 15 anos (1994 a 2009), Marilene Gondim há muito não o via no palco, quando foi assisti-lo, em novembro de 2015, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
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Foi também o livro de Márcio Borges, “Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina” (1996), o principal registro sobre o encontro na BH dos anos 1960 de músicos, compositores e letristas que formou uma das principais forças da música brasileira do século 20, a base para a montagem. A adaptação e a dramaturgia ficaram a cargo de Fernanda Brandalise.
Desafio
De projetos do gênero, Dennis Carvalho, que deixou a Globo há poucos meses depois de 47 anos de trabalho na emissora, havia dirigido até então somente “Elis, o musical”. “Eu era mais ‘verde’ neste negócio, então fiquei mais nervoso com ‘Elis’. Mas o barato da profissão é que sempre há um desafio, então você sempre fica nervoso. E só ensaiamos com os atores no Rio. Quando chegamos aqui no teatro, os ensaios passaram a ser com luz, músicos. É muito emocionante”, diz.
É um musical, mas está longe do formato Broadway. “É um musical brasileiro, não tem nada de coreografia. E também não é documentário. Contamos com aquelas músicas lindas, e atores e cantores, todos jovens”, comenta Carvalho.
Amigo de Milton há 40 anos (o cantor e compositor é, inclusive, padrinho de uma de suas filhas), o diretor esteve na casa dele, no Rio, há duas semanas. “Ele gosta de ver novela, ficou brincando e rindo. E estava curioso: ‘Quem vai me fazer?’.”
Amigo de Milton há 40 anos (o cantor e compositor é, inclusive, padrinho de uma de suas filhas), o diretor esteve na casa dele, no Rio, há duas semanas. “Ele gosta de ver novela, ficou brincando e rindo. E estava curioso: ‘Quem vai me fazer?’.”
A resposta está em Tiago Barbosa, de 37 anos. O ator e cantor fluminense ganhou o mundo a partir de 2013, quando interpretou Simba, o protagonista do musical “O rei leão”. A carreira deslanchou, e Barbosa mudou-se, há sete anos, para a Espanha, onde continua atuando em espetáculos do gênero.
O convite para interpretar Milton o trouxe de volta ao Brasil. Até então, visitava o país anualmente, para uma temporada curta, em que fazia seu show, “Estrada”. O repertório incluía “Nada será como antes” (Milton e Ronaldo Bastos) e “Travessia” (Milton e Fernando Brant). Mas nunca tinha visto um show do mineiro. No último mês, sentou-se na primeira fila da apresentação que Milton fez de “A última sessão de música”, no Rio de Janeiro.
“As notas que o Milton alcança são bastante difíceis. Venho de um lugar que é a Broadway, e aqui é Brasil. Tudo que tive que perder para trabalhar fora do país eu fui redescobrir agora para poder fazê-lo”, comenta Barbosa. Para interpretar o cantor e compositor, ele perdeu quase sete quilos, deixou o cabelo crescer (mas em cena utiliza perucas) e fez uma imersão na produção musical.
“Nos últimos três meses tenho ouvido muito Milton. E aí comecei a entender as sensações que a música dele provoca: nostalgia, empoderamento. Quando ele faz as notas mais altas, de onde vem a inspiração? É africana, ancestral. Busquei encontrar esse lugar para tentar fazê-lo da maneira mais honesta e sentimental possível”, acrescenta ele, que interpreta quase 15 canções.
Elenco
Barbosa capitaneia um time de 16 atores e cantores, selecionados entre 300 candidatos. O elenco principal traz Cadu Libonati (Lô Borges), Daniel Haidar (Fernando Brant), Vitor Novello (Wagner Tiso), Tom Karabachian (Beto Guedes), Rômulo Weber (Márcio Borges) e Gab Lara (Ronaldo Bastos).
Na opinião de Dennis Carvalho, para além da produção musical, o mais marcante na trajetória do Clube da Esquina é a amizade. “Foi isto que aprendi com o Bituca durante uma vida inteira. Uma amizade consegue sobreviver a tudo, e quando a gente vê a história do Clube, vai descobrindo que um fica amigo do outro, e do outro.” Para formar o elenco, o diretor se valeu de três quesitos: interpretação, canto e semelhança física, “se possível”.
A equipe do musical traz nomes muito conhecidos do meio, como o iluminador Maneco Quinderé e a figurinista Marília Carneiro. O diretor musical, no entanto, é um estreante no gênero. Músico, compositor e produtor, Alexandre Kassin já trabalhou com vários grandes, como Caetano Veloso, Los Hermanos, Jorge Mautner, Erasmo Carlos, Vanessa da Mata. Mas nunca havia feito nada parecido com um musical.
“Mesmo não acompanhando o mundo dos musicais, quando assistia pensava na maneira como a música era realizada, que é muito diferente de um disco ou um show. Você tem que calcular o tempo da música para o diálogo, por exemplo. O que sempre me encantou foi o lado meio operístico da coisa”, conta Kassin.
Para o projeto, ele montou uma banda base com seis músicos. Kassin trabalhou basicamente em cima dos arranjos originais das 25 canções que integram o repertório. “Fui absolutamente respeitoso, tentei levar aquilo o máximo possível como é. O que mudei foi para que servisse à cena, um pouco mais de ritmo em uma canção, por exemplo, para dar mais impacto (ao que acontece no palco)”, continua.
As clássicas harmonias da produção musical do Clube tiveram diferentes graus de dificuldade na hora de serem transpostas para o musical. “Tem coisas simples e outras que são tão complicadas que não tem outro ponto de vista (do que o original)”, afirma Kassin, citando “Saudades dos aviões da Panair” (Milton e Fernando Brant), como uma delas.
Mas a canção que mais deu trabalho foi “Travessia”. “Por incrível que pareça, mas como número, sua realização foi complicada. Tem muitas sutilezas e foi a que mais tivemos que repetir (nos ensaios). Para mim, é o momento de cair para trás no musical, inesquecível. O ‘Travessia’ que o Tiago fez é histórico”, comenta o diretor musical.
Neste fim de semana, a estreia do musical será uma prova de fogo para o elenco, já que muitos dos envolvidos nesta história de mais de 50 anos estarão na plateia. Lô Borges, por sinal, conheceu recentemente os atores, que foram a um show dele no Rio.
O parceiro de Milton no antológico (e cinquentão) álbum “Clube da esquina” chamou todos para o palco e, emocionado, disse para a plateia que naquela noite estava conhecendo “minha mãe, meu pai, meus irmãos”.
Depois de BH, “Clube da Esquina – Os sonhos não envelhecem” segue para apresentação única, em 2 de setembro, no Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, e para temporadas no Rio de Janeiro (a partir de 9/9, no Teatro Riachuelo) e em São Paulo (a partir de 28/10, no Teatro Liberdade).
WORKSHOP GRATUITO
Dennis Carvalho e parte da equipe do musical farão um workshop sobre o processo criativo de “Clube da Esquina – Os sonhos não envelhecem”. O encontro será destinado a atores, músicos, diretores e produtores de artes cênicas, bem como a estudantes. O bate-papo será na sexta (26/8), das 10h às 12h, no Sesc Palladium. Inscrições gratuitas pelo Sympla.
“CLUBE DA ESQUINA – OS SONHOS NÃO ENVELHECEM”
Estreia nesta sexta (19/8), às 20h30, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Temporada até 28/8. De quinta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Duração: 120 min. (15min. de intervalo). Ingressos: Plateia 1: R$ 240; Plateia 2: R$ 220; Plateia 3: R$ 190; Plateia 4: R$ 75. Valores referentes à inteira. À venda na bilheteria e no site Sympla.