Já faz mais de cinco anos que a atriz e escritora Mônica Martelli subiu ao palco para apresentar pela primeira vez “Minha vida em Marte”. Concebido como continuação do sucesso “Os homens são de Marte… E é pra lá que eu vou”, o espetáculo avança na saga de Fernanda, protagonista vivida pela atriz, que precisa lidar com dilemas do relacionamento conjugal.
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Marisa Orth traz a BH peça baseada em autobiografia de dependente de álcoolJanela de Dramaturgia apresenta o trabalho de seis novos autores de BHO musical 'Clube da Esquina - Os sonhos não envelhecem' estreia em BHCultura do Guetto apresenta 'Espiral', símbolo da vitória sobre a pandemiaChega a BH o diretor francês Philippe Vallois, pioneiro do cinema LGBT+“A peça fala de crise”, comenta a atriz. “É uma mulher de 45 anos que está lutando pelo casamento, procurando respostas para lidar com a crise conjugal.” Mônica assina o texto da montagem, que tem sessões neste sábado (20/8) e domingo, no Palácio das Artes.
Pandemia mudou a rotina de casais
Ela conta que, ao escrevê-lo, em 2017, partiu de histórias pessoais que ocorreram no passado e, precisamente por isso, quando planejou voltar com a montagem, concluiu que seria necessário fazer diversas modificações no texto, a fim de atualizá-lo. Contudo, ao reler o que havia escrito, avaliou que o texto seguia atual e tinha até se ressignificado durante a pandemia.
“A pandemia forçou os casais a ficarem um de frente para o outro o tempo inteiro. Então, muitos daqueles problemas que eram deixados de lado, jogados para baixo do tapete, vieram à tona agora. O reflexo disso foi o aumento do número de divórcios nesse período”, afirma.
Ela assegura, entretanto, que não há nada como a dinâmica da vida real para manter saudável a relação. “Esse afastamento temporário um do outro, como sair para trabalhar, fazer uma viagem também a trabalho, é bom para a relação. Isso acaba proporcionando momentos muito bacanas e assuntos para conversar com o parceiro”, aponta.
A atriz cita como exemplo a própria vida. “Quando estou em cartaz, faço muitas viagens. Aí, ao chegar em casa e encontrar meu namorado, tenho um monte de histórias para contar a ele, assim como ele também tem várias coisas para me contar.”
“Minha vida em Marte” almeja traduzir os dilemas de muitas mulheres e provocar a reflexão sobre como garantir a sobrevivência conjugal e, principalmente, até que ponto manter determinados relacionamentos é algo saudável.
"As mulheres não devem suportar tudo para manter o relacionamento. Nós ainda vivemos numa realidade retrógrada. Ainda hoje, muitas mulheres agem apenas para agradar aos homens, reforçando os estereótipos de beleza e reafirmando aquela falsa ideia de que, quando a mulher passa dos 50, já é uma vovozinha”, afirma.
O monólogo tem direção de Susana Garcia, irmã de Mônica. Formada em medicina, ela se enveredou pelo meio artístico há alguns anos e firmou parceria com a irmã em 2014, quando codirigiu a adaptação para o cinema de “Os homens são de Marte… E é pra lá que eu vou”, estrelada por Mônica e Paulo Gustavo, morto no ano passado em decorrência da COVID-19.
Em seguida, assumiu a direção de “Minha vida em Marte” e sua adaptação cinematográfica, também estrelada por Mônica e Paulo Gustavo. Agora, retoma a direção do espetáculo.
“Não tem ninguém melhor para dirigir essa peça do que a Susana. Ela conhece a Laura, minha personagem, como ninguém. Ela sabe da essência da personagem, o que garante um resultado superbacana no palco”, diz a atriz.
Frio na barriga e adrenalina
Embora tenha estreado “Minha vida em Marte” em 2017, Mônica diz que ainda sente aquele “frio na barriga” antes de subir ao palco. “O teatro é ao vivo. E ele é vivo também. Tudo pode acontecer ali. Por isso, é uma adrenalina maravilhosa que ele proporciona para a gente”, conta.
Ela parte do princípio de que os espectadores que foram assistir à peça ainda não conhecem a história de Fernanda e que, por esse motivo, deve entregar a eles o seu melhor.
A gênese de Fernanda, entretanto, data de 2005. Na época com 37 anos, Mônica expressou na personagem hesitações que ela própria enfrentava na época e que eram compartilhadas por muitas mulheres de sua geração.
Pensamentos machistas e completamente equivocados de que a mulher tem “prazo de validade” para se casar e ter filhos, ou então que elas devem suportar todos os erros do companheiro, eram fantasmas que atormentavam a atriz.
Ao final de cada apresentação, Mônica costuma escutar de espectadoras que a personagem expressa seus medos, inseguranças e desejos. “Hoje, nós estamos vivendo um momento em que a discussão sobre o machismo está posta. Estamos falando sobre o assunto e vivendo um período de mudanças. No entanto, esse é um problema que está enraizado na sociedade brasileira”, afirma.
Machismo e Simone de Beauvoir
Ela ressalta que, mesmo nascida e criada em uma família progressista, cuja mãe lia Simone de Beauvoir para ela e os irmãos, o machismo chegou a influenciar seu comportamento.
“Por muito tempo, acreditei naquela ideia de que as mulheres devem ficar à espera de seus príncipes encantados. Aquela coisa meio Cinderela mesmo, onde há diversas moças e o homem escolhe uma. Eu alimentava essa ilusão. Hoje, já estou mais para Moana, que corre atrás do que quer e garante a segurança do seu povo”, brinca, em referência à princesa empoderada da Disney.
A solução para a mudança de pensamento e de comportamento, de acordo com a atriz, está na arte. Mônica não hesita em afirmar que o contato com a arte transforma as pessoas. “Por ela, é possível conhecer outras culturas, outros lugares e até mesmo nos conhecer. A arte é fundamental no processo de autoconhecimento. Eu não seria a mesma se não fosse a arte.”
“MINHA VIDA EM MARTE”
Texto: Mônica Martelli. Direção: Susana Garcia. Com Mônica Martelli. No Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. 31-3236-7400). Neste sábado (20/8), às 21h, e domingo (21/8), às 19h. Ingressos: R$ 130 (plateia 2/inteira) e R$ 100 (plateia superior/inteira). Meia-entrada na forma da lei. À venda na bilheteria do teatro e no site Eventim