Criado em 2012 com o intuito de divulgar novos autores teatrais da capital mineira, o Janela de Dramaturgia chega à sua 10ª edição a partir deste sábado (20/8), com o desejo de espelhar suas origens.
Leia Mais
Mônica Martelli volta a BH com seu monólogo sobre a solidão a doisO musical 'Clube da Esquina - Os sonhos não envelhecem' estreia em BHChega a BH o diretor francês Philippe Vallois, pioneiro do cinema LGBT+Sarau revive a obra literária do mineiro Bartolomeu Campos de QueirósFronteiras do Pensamento debate os impasses que desafiam a humanidadeEm suas primeiras edições, o projeto era voltado exclusivamente para a produção belo-horizontina, mas, a partir da terceira, passou a receber dramaturgos de todas as regiões do Brasil e de outros países, como Argentina e Portugal. Nomes importantes, como Grace Passô, Marcio Abreu, Eid Ribeiro, Dione Carlos, Silvia Gomez, Cida Falabella e Rita Clemente já passaram pelo projeto.
Nesses 10 anos, mais de 80 textos teatrais inéditos foram apresentados. Desses textos, vários foram encenados – como “Vaga carne”, de Grace Passô, “Get out!”, de Assis Benevenuto, e “Danação”, de Raysner de Paula – e muitos publicados pela Editora Javali. A Editora Perspectiva chegou a publicar a “Coleção Janela de Dramaturgia”, com os textos das três primeiras edições.
Um dos idealizadores e coordenador do Janela de Dramaturgia, Vinícius de Souza diz que a curadoria desta 10ª edição buscou um perfil de autores que fosse parecido com o dos que participaram na edição inaugural do projeto.
“Fomos atrás de uma novíssima geração teatral; são artistas que têm entre 20 e 30 anos, que acabaram de cursar teatro ou não necessariamente passaram por uma escola de teatro. Escolhemos nomes que têm no máximo três peças montadas”, aponta.
Diversidade de perfis
Ele explica que esse direcionamento curatorial atende ao desejo de dar visibilidade à nova cara da dramaturgia na capital mineira. “Queremos refrescar a cena teatral da cidade”, ressalta. Vinícius chama a atenção, ainda, para a diversidade no que diz respeito ao perfil dos autores, em vários sentidos.
“Essa diversidade contempla desde a região da cidade em que moram até as parcerias que estabelecem. A diversidade é também de estilo: tem uns mais voltados para a poesia, outros para a narrativa e outros, ainda, para a fragmentação do texto teatral. É uma seleção que abarca uma variedade de formas e de estilos, buscando entender como esses autores articulam as ideias no papel”, destaca.
Essa diversidade se reflete também nas temáticas, conforme aponta o coordenador do projeto. Ele observa, contudo, que há um ponto de contato entre os textos que serão lidos nesta edição do Janela de Dramaturgia: todos eles têm o foco no momento presente.
“São textos que dizem de questões e urgências contemporâneas, coisas que, imagino, atravessam a vida desses autores. A relação entre o ser humano e a natureza e a opressão que sofrem as mulheres e o povo preto, por exemplo, são questões que estão em pauta.”
Ele diz ainda que “nos seis textos selecionados a gente vê uma busca por tocar o nosso tempo, nossa época; eles não escapam a questões pungentes do atual momento. É o que caracteriza esses autores como contemporâneos, a forma como se defrontam com questões da nossa época”.
Homenagem aos veteranos
A despeito do foco no que Vinícius chama de novíssima geração, a 10ª edição do Janela de Dramaturgia promove o encontro e o diálogo entre diferentes faixas etárias, reservando espaço para homenagear veteranos da cena. A abertura do projeto celebra a vida e a obra de Ione de Medeiros, diretora teatral e realizadora do festival Verão Arte Contemporânea.
Ela, que este ano comemora 80 anos de vida e 45 de fundação de seu Grupo Oficcina Multimedia, vai ler, junto aos atores do coletivo, fragmentos de textos que fizeram parte do repertório da companhia, além de alguns escritos inéditos que não entraram nas peças teatrais.
Já o encerramento do 10º Janela de Dramaturgia, que ocorre em dezembro, vai contar com a presença do ator, diretor e dramaturgo Eduardo Moreira, que este ano está às voltas com as comemorações pelos 40 anos do Grupo Galpão, que fundou em 1982, ao lado de seus companheiros. Ele, que já publicou vários livros e diários de montagem do Galpão, vai ler duas peças inéditas, autorais, que falam sobre a técnica do ator e as relações entre teatro e vida.
“Muitos aniversários com datas redondas estão sendo comemorados este ano, de artistas, grupos de teatro e festivais. Percebendo isso, achei que era importante que o Janela de Dramaturgia acolhesse essas festas, fosse um lugar também para essas comemorações, já que é um projeto que sempre esteve muito ligado aos movimentos da cidade”, diz Vinícius.
Arte experimental
O coordenador ressalta que Ione segue ativa, inquieta, e que sempre foi um nome importante para o pensamento acerca da arte experimental na cidade. “Nos trabalhos que ela propõe, não há hierarquia entre os elementos da cena; a atuação é tão importante quanto o texto, a palavra, então a relação que ela tem com a dramaturgia é bem particular. Chamar Ione é querer ouvir um pouco sobre esses processos criativos. Ela traz um outro olhar sobre a palavra no teatro, o que nos interessa muito”, aponta.
Com relação a Eduardo Moreira, ele diz que, além de ser um grande dramaturgo, se insere nesta 10ª edição do projeto representando o Grupo Galpão, um verdadeiro patrimônio de Minas Gerais. Trata-se de um artista que reflete muito sobre o teatro, sobre o ofício do ator, e é, possivelmente, o integrante do Galpão mais ligado à palavra, segundo Vinícius.
“Ele já lançou uma série de diários de montagem, ele é quem escreve os livros de memória do grupo, então a presença de Eduardo Moreira no Janela de Dramaturgia é um elogio à palavra, à memória e à profissão de ator. Os textos que ele vai ler, um mais cômico e outro mais denso, refletem sobre essas questões”, destaca o coordenador do projeto.
Além da mostra de textos e das homenagens, a 10ª edição do evento também abre inscrições para o Laboratório de Escrita, um espaço de prática e reflexão sobre a dramaturgia. O laboratório, que vai ser realizado uma vez por semana de setembro a dezembro, se divide em quatro módulos.
Cada um dos módulos é conduzido por um artista convidado, que compartilha com os participantes sua pesquisa, suas ferramentas de escrita e seu processo criativo. Os artistas, todos com intensa atividade na cidade, são a dramaturga e atriz Marina Viana, o poeta e performer Renato Negrão, o ator e roteirista Germano Melo e o dramaturgo e ator Marcos Coletta.
Aula-performance
Além de todas essas frentes, na abertura do 10º Janela de Dramaturgia, neste sábado, Vinícius de Souza vai apresentar uma aula-performance que inclui muitos elementos característicos da cena, de forma que reflexões sobre a palavra, o teatro e a arte se misturam a temas mais amplos, como o medo e a brevidade da vida.
“Já faz 10 anos que dou aula de teatro, em Belo Horizonte e em outros lugares do país. O que vou fazer na abertura é meio que uma síntese desse percurso como docente, só que atravessada por vários elementos artísticos, cênicos. A proposta dessa aula-performance é mesclar a figura do professor com a do artista, tentando compreender como se elabora uma dramaturgia. Essa pergunta é lançada e respondida de um jeito nada óbvio; é uma aula bem labiríntica”, adianta.
JANELA DE DRAMATURGIA
10ª edição, a partir deste sábado (20/8). Todas as atividades da programação serão realizadas no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, 31.3270-8100). Ingressos para as sessões da mostra de textos a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Informações sobre as inscrições para o Laboratório de Escrita na página do Instagram @janeladedramaturgia.
QUEM É QUEM
Confira o perfil dos autores da 10ª edição do Janela de Dramaturgia
» AMORA TITO vai apresentar o texto “Rebordose”, que conta a história de um personagem que não sabe mais onde começa seu corpo e onde termina o planeta. A autora entende seus textos teatrais como ações de legítima defesa, um modo de enfrentar o mundo.
» NAYARA LEITE vai apresentar o texto “Receita”, escrito a partir da observação de mulheres da sua família e da percepção de um ciclo de violência em que estão inseridas, de geração a geração. Também atriz e arte-educadora, ela se diz muito influenciada pela oralidade e, assim, escreve a partir das histórias que ouve.
» TOMÁS SARQUIS vai apresentar o texto “Milumestórias”, que problematiza a relação da espécie humana com a natureza. Formado como ator na Escola de Teatro do Palácio das Artes, ele entende que a experiência humana é um grão na história do planeta.
» CARMEN MARÇAL vai apresentar o texto “Botão zíper”, que reflete sobre os modos como uma pessoa transgênera vivencia o tempo e os ciclos da vida. Idealizadora do coletivo Diz Trava Através do Olhar, ela entende sua escrita a partir de uma perspectiva decolonial.
» ARTHUR BARBOSA vai apresentar o texto “Caleidoscópio”, por meio do qual propõe muitos pontos de vista sobre um mesmo acontecimento. Formado em dramaturgia pela SP Escola de Teatro, ele desenvolve seus textos a partir de um fluxo de escrita.
» EDUARDA FERNANDES vai apresentar um texto sem título cheio de símbolos, narrativas ilógicas e oníricas. Uma das fundadoras do grupo Quartatela, ela considera que também se aprende a escrever com as pedras, os animais, a geografia, a biologia, os mapas, as cidades em ruínas, a história contada e a história de fato.
PROGRAMAÇÃO
Sessão de abertura
20 de agosto, sábado
17h: Aula-performance, com Vinícius de Souza
18h: A dramaturgia de Ione de Medeiros, com Grupo Oficcina Multimedia
19h: Discotecagem de Para-vinícius
1ª sessão da mostra
3 de setembro, sábado
17h: “Milumahistórias”, de Tomás Sarquis
18h: Texto de Eduarda Fernandes
19h: Bate-papo com os autores, mediado por Mario Rosa
2ª sessão da mostra
1º de outubro, sábado
17h: “Caleidoscópio”, de Arthur Barbosa
18h: “Rebordose”, de Amora Tito
19h: Bate-papo com os autores, mediado por Daniel Toledo
3ª sessão da mostra
5 de novembro, sábado
17h: “Botão Zíper”, de Carmen Marçal
18h: “Receita”, de Nayara Leite
19h: Bate-papo com as autoras, mediado por Guilherme Diniz
Sessão de encerramento
3 de dezembro, sábado
17h: “Método Domec de interpretação”, de Eduardo Moreira
18h: “O ator das multidões”, de Eduardo Moreira
19h: Bate-papo com Eduardo Moreira