Saem os anos 1930 e Campos dos Goytacazes, que ferveu com as intrigas atrapalhando a paixão de Davi (Rafael Vitti) por Isadora (Larissa Manoela) em “Além da ilusão”. Entra 2012, com o triângulo amoroso formado por Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes), que reaparece, após 10 anos dado como morto, e encontra a noiva casada com outro.
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A trama escrita por Mário Teixeira promete clima ameno para o início da noite, diz Allan Fiterman, diretor do folhetim.
“O Brasil precisa de leveza e humor, de ser retratado como ele deveria ser. Estamos tão sofridos que a novela vem alegrar o coração de todo mundo”, afirmou Fiterman na entrevista coletiva on-lin, realizada na semana passada.
No encontro virtual com os jornalistas, Mário Teixeira explicou que a ideia da trama não veio de fatos ocorridos recentemente. "O que me inspira é a história do Brasil, de exploração e penúria, que sempre se repete."
O novelista afirma que o humor é a essência da novela. "É rindo que se castiga os costumes", diz, citando a frase de Gil Vicente, dramaturgo português. “O que há são fatos como a questão da água, (crucial) tanto para o mundo quanto para o Nordeste."
Teixeira elogiou o trabalho de Alan Fiterman, que "conseguiu traçar um microcosmo do país, traçar com uma geografia inventada".
Além de nomes conhecidos – José de Abreu, Debora Bloch, Caio Blat, Érico Brás –, o elenco traz vários atores do Nordeste.
"Não cabe mais falar de novela que se chama 'Mar do sertão' com atores do eixo Rio-São Paulo. Cabe a nós trazer diversidade para a televisão, apresentando esses talentos para que não caiamos na mesmice”, comenta.
José de Abreu, que interpreta o coronel Tertúlio, elogia o texto de Mário Teixeira.
“Ele escreve muito bem. Não à toa tem um (prêmio) Jabuti, por 'A linha negra' (2015). O que mais encanta nesta novela é a criação de uma cidade que não existe, um estado geográfico que não existe. Me lembra muito as novelas de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Esse universo brasileiro tão rico, que dá prazer tanto para nós que representamos quanto para o telespectador", afirma.
“Ele escreve muito bem. Não à toa tem um (prêmio) Jabuti, por 'A linha negra' (2015). O que mais encanta nesta novela é a criação de uma cidade que não existe, um estado geográfico que não existe. Me lembra muito as novelas de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Esse universo brasileiro tão rico, que dá prazer tanto para nós que representamos quanto para o telespectador", afirma.
Odilon Esteves faz sua primeira novela
Catorze anos depois de estrear na TV com a série “Queridos amigos”, de Maria Adelaide Amaral, o ator mineiro Odilon Esteves volta à telinha em sua primeira novela.
“Sempre quis fazer televisão, adoro fazer televisão, mas acho que investi pouco nela. Fiquei concentrado nos trabalhos no teatro com a Luna Lunera (companhia de teatro), continuei morando em Belo Horizonte. Precisava ter dado um passo, ter ido para o Rio de Janeiro ou São Paulo, onde a indústria se concentra. Fiquei fazendo teatro e esperando que a oportunidade acontecesse”, pondera.
Odilon Esteves comenta que leva um tempo para atores como ele compreenderem se são aptos para o formato. “Cresci ouvindo que para fazer televisão precisava ter um perfil, um determinado padrão de beleza, um padrão de masculinidade, padrões em que não me encaixava. Eu não tinha o padrão de beleza que a indústria exigia”, diz.
“Agora a televisão está muito mais democrática. Há perfis muito variados fazendo televisão. A coisa está muito mais plural”, acredita o mineiro.
A maturidade é importante para essa avaliação. “Chega uma hora, depois dos 40 anos, em que você fala: cara, a vida é muito curta. Sou este, com qualidades e defeitos. É este corpo que tenho, é esta cara que tenho. As ferramentas de que disponho. Não serei outra coisa, não serei outra pessoa. Vou tentar, sendo eu, estar nesses lugares”.
Isso não quer dizer que Odilon, de 43 anos, esteja totalmente seguro a respeito da nova empreitada. “Dá medo? Dá medo. O teatro, de certa maneira, é mais democrático. Teatro de grupo é seu grupo, onde você tem proteção mútua, coletiva, um protege o outro de alguma maneira. O mercado é outro tipo de luta”, explica.
Licenciado da Luna Lunera desde 2017, Odilon conta que se sentiu acolhido desde os primeiros encontros com o elenco de "Mar do sertão".
"São muitos atores de fora do eixo Rio-São Paulo. São em torno de 20 de estados nordestinos. A protagonista, Isadora Cruz (Candoca), é paraibana. Rolou um acolhimento geral. Os diretores foram carinhosos com todo mundo."
Essa "cultura de boa recepção", segundo ele, é diferente do imaginário em torno da TV dos anos 1980. "O que ouvíamos de boato de estrelismo ou grosseria... A Globo tem construído outro tipo de cultura. Sinto-me acolhido e os meus colegas também. Recepção calorosa”.
Lavrador vira advogado
O convite a Odilon Esteves veio do diretor Vinícius Coimbra, depois de conhecer leituras do ator mineiro abordando o universo de Guimarães Rosa. Vinícius não participa do projeto, mas Allan Fiterman, que assumiu a direção-geral de "Mar do sertão", manteve o convite.
O ator interpreta Firmino, lavrador que sonha em estudar direito, na primeira fase da trama, e se torna advogado na segunda parte.
"O personagem representa uma possibilidade recente no Brasil. A novela começa em 2012. Talvez ele tenha sonhado em ser advogado porque em 2012 havia políticas que ampliaram a educação superior”, observa o ator.
As cenas de Firmino serão esporádicas até quase a metade do terceiro mês, quando ele se torna advogado do protagonista Zé Paulino (Sergio Guizé). "É um papel secundário. Estou achando muito bom que seja assim, pois tenho tempo para observar o trabalho dos colegas. Tem dia que peço para ficar no estúdio vendo a gravação das cenas”, conta.
Experiente no teatro, Odilon se impressiona com o volume de trabalho dos protagonistas. Diz não entender como os colegas conseguem fazer tantas cenas em pouco tempo.
"Dependendo do cenário, são gravadas 50 cenas em dois dias. É muita coisa. Vem sendo um exercício incrível. Para falar a verdade, estou apaixonado", diz.
As pessoas têm a ilusão de que fazer TV é mais fácil do que teatro, aponta o ator. "Não é. Uma peça pode ter 40, 80 páginas, que são ensaiadas por meses. A novela pode ter 4,1 mil páginas, feitas ao longo de nove meses. Não dá tempo para para ficar errando. Vejo diversas cenas gravadas de primeira. É uma faculdade para mim."
O mineiro relembra a primeira reunião do elenco com Mário Teixeira. "Ele contou que Gilberto Braga dizia que novela só é possível porque existe. Você gravar um capítulo por dia, de segunda a sábado, é um ritmo alucinante. Mas eu não fazia ideia de que era tanto", conclui