Muito antes de Denzel Washington, Spike Lee e Sidney Poitier, gerações de diretores negros desempenharam papel fundamental na formação do cinema americano e no combate aos estereótipos raciais. O tema é destaque de nova e importante exposição em Hollywood.
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Imagens de 1898 encontradas recentemente mostram artistas negros de vaudeville (gênero teatral) e contam a quase desconhecida história dos "race films" – centenas de produções independentes feitas por afro-americanos, com negros e para negros, na época em que as salas de cinema eram palco de segregação.
"Está pronto para ouvir um segredo? Nós, os pretos, sempre estivemos presentes no cinema americano, desde o início. Não como estereótipos, mas como criadores, inovadores e com um público ávido", afirmou Ava DuVernay, indicada ao Oscar pelo filme "Selma" (2014), em entrevista coletiva promovida pelo Museu da Academia de Artes.
Entre os objetos expostos estão o histórico Oscar de melhor ator conquistado por Sidney Poitier, em 1964, por "Uma voz nas sombras", os sapatos usados por Nicholas Brothers, um trompete tocado por Louis Armstrong e o figurino de Sammy Davis Jr. em "Porgy and Bess".
A ideia da mostra surgiu em 2016, quando curadores encontraram no grande arquivo da Academia os primeiros cartazes de divulgação de filmes com elenco totalmente afrodescendente.
O público pode ver imagens cuidadosamente restauradas desses filmes, incluindo o musical de faroeste "Harlem on the prairie", os gângsteres de "Dark Manhattan" e a comédia "Mr. Washington goes to town".
Várias produções se perderam para sempre e seus cartazes são "uma espécie de prova de que existiram", explica Rhea Combs, cocuradora da exposição.
Enquanto os filmes de maior sucesso em Hollywood colocavam negros em papéis de mordomos e babás, os "race films" os faziam brilhar como advogados, médicos e cowboys.
A exposição também retrata a ascensão do gênero blaxplotation (exploração negra), no início da década de 1970, cujo pioneiro, Melvin van Peebles, como Poitier, morreu meses antes da inauguração da mostra.
Protestos desgastaram a Academia de Cinema
O evento é estratégico para a Academia, que nos últimos anos teve de lidar com acusações de falta de diversidade. Criado em 2015, o movimento #OscarsSoWhite (Oscar muito branco) a criticou pela escassez de indicados negros ao prêmio mais badalado do cinema.
Desde então, Hollywood se esforça para cumprir a promessa de contemplar de forma expressiva negros, mulheres e minorias.