Jornal Estado de Minas

DIVERSIDADE

Exposição revela o protagonismo do negro no cinema dos EUA


Muito antes de Denzel Washington, Spike Lee e Sidney Poitier, gerações de diretores negros desempenharam papel fundamental na formação do cinema americano e no combate aos estereótipos raciais. O tema é destaque de nova e importante exposição em Hollywood.





“Regeneration: Black cinema 1898-1971” (“Regeneração: O cinema afro-americano 1898-1971”), em cartaz no Museu da Academia de Artes em Los Angeles, relembra momentos emblemáticos na história do audiovisual afro-americano que foram ignorados pelos principais estúdios de Hollywood e pelo público até cair no esquecimento.

Race films em destaque

Imagens de 1898 encontradas recentemente mostram artistas negros de vaudeville (gênero teatral) e contam a quase desconhecida história dos "race films" – centenas de produções independentes feitas por afro-americanos, com negros e para negros, na época em que as salas de cinema eram palco de segregação.

"Está pronto para ouvir um segredo? Nós, os pretos, sempre estivemos presentes no cinema americano, desde o início. Não como estereótipos, mas como criadores, inovadores e com um público ávido", afirmou Ava DuVernay, indicada ao Oscar pelo filme "Selma" (2014), em entrevista coletiva promovida pelo Museu da Academia de Artes.

Cartaz do faroeste "Harlem on the prairie", lançado em 1937 (foto: Reprodução)
Entre os objetos expostos estão o histórico Oscar de melhor ator conquistado por Sidney Poitier, em 1964, por "Uma voz nas sombras", os sapatos usados por Nicholas Brothers, um trompete tocado por Louis Armstrong e o figurino de Sammy Davis Jr. em "Porgy and Bess".





A ideia da mostra surgiu em 2016, quando curadores encontraram no grande arquivo da Academia os primeiros cartazes de divulgação de filmes com elenco totalmente afrodescendente.

O público pode ver imagens cuidadosamente restauradas   desses filmes, incluindo o musical de faroeste "Harlem on the prairie", os gângsteres de "Dark Manhattan" e a comédia "Mr. Washington goes to town".

Várias produções se perderam para sempre e seus cartazes são "uma espécie de prova de que existiram", explica Rhea Combs, cocuradora da exposição.

Enquanto os filmes de maior sucesso em Hollywood colocavam negros em papéis de mordomos e babás, os "race films" os faziam brilhar como advogados, médicos e cowboys.

A exposição também retrata a ascensão do gênero blaxplotation (exploração negra), no início da década de 1970, cujo pioneiro, Melvin van Peebles, como Poitier, morreu meses antes da inauguração da mostra.



Comédia "Mr Washington goes to town" estreou em 1941 (foto: Reprodução)

Protestos desgastaram a Academia de Cinema 

O evento é estratégico para a Academia, que nos últimos anos teve de lidar com acusações de falta de diversidade. Criado em 2015, o movimento  #OscarsSoWhite (Oscar muito branco) a criticou pela escassez de indicados negros ao prêmio mais badalado do cinema.

Desde então, Hollywood se esforça para cumprir a promessa de contemplar de forma expressiva negros, mulheres e minorias.