Jornal Estado de Minas

SÉRIE

'Cinco dias no Hospital Memorial': novo olhar sobre a tragédia do Katrina


Um dos maiores furacões da história dos Estados Unidos, o Katrina atingiu New Orleans em 29 de agosto de 2005. A devastação provocada pelo desastre natural foi acompanhada pelo mundo inteiro – assim como o despreparo do governo, tanto em nível local, estadual quanto federal, para conter a tragédia e salvar a população. Cerca de 1,8 mil pessoas morreram em decorrência do Katrina – a maior parte na maior cidade da Louisiana.





“Cinco dias no Hospital Memorial”, minissérie do AppleTV+, coloca uma lupa na tragédia a partir do que ocorreu na instituição médica pública.

Morfina nos tribunais

Em 11 de setembro de 2005, 45 corpos foram descobertos no hospital. A investigação do escritório do procurador-geral da Louisiana acusou uma médica e duas enfermeiras, que teriam administrado doses letais de morfina e outras drogas em alguns desses pacientes.

A série foi adaptada do livro “Five days at Memorial: Life and death in a storm-ravaged hospital” (“Cinco dias no Memorial: Vida e morte em um hospital devastado pela tempestade”), da jornalista Sheri Fink, que em 2010 venceu o Pulitzer de reportagem investigativa com essa obra.





Os cinco primeiros episódios – nesta sexta (26/8), entra no ar o quinto – acompanham cada um dos dias em que o hospital, sem energia e com remédios e suprimentos acabando, lidou com 2,5 mil pessoas – pacientes, parentes deles, equipe médica e famílias que buscaram abrigo no local. Os últimos três capítulos acompanham a investigação.

Após o ocorrido, o Hospital Memorial ficou 10 anos fechado – só reabriu em 2015.
 

 

Cada episódio começa com trechos da entrevista de um dos membros do corpo médico durante a investigação. A partir dessa apresentação, a narrativa volta no tempo até cada um dos cinco dias em que o hospital ficou à deriva, a partir de 29 de agosto. A otorrinolaringologista Anna Pou (Vera Farmiga) foi o principal alvo da acusação.

O Sul dos EUA é alvo constante de furacões. Tanto que a série mostra, no início, a equipe do hospital se preparando tranquilamente para a chegada do Katrina. Já houve grandes desastres e todos estavam acostumados. Pou não foi escalada para aquele dia – a médica se dirigiu ao hospital por conta própria, para ajudar os colegas.





Só que ninguém esperava o que estava por vir. Katrina perdeu a força ao chegar a New Orleans, e o segundo dia foi de relativa tranquilidade. O problema foram as inundações que ocorreram a partir do terceiro dia, depois que os diques de contenção de água se romperam.

Sem plano de evacuação

O Memorial não estava sozinho na tragédia. Em um dos andares do edifício localizava-se o LifeCare, basicamente um hospital dentro de outro. Instalação de cuidados de longo prazo, ele tinha equipes médica e administrativa separadas. A série mostra que os pacientes do LifeCare não faziam parte do plano de evacuação original da empresa proprietária do Memorial, o que contribuiu para o número de mortos.

A narrativa, de forma contida e atenta aos fatos (várias imagens reais da época são exibidas), acompanha com detalhes a sequência de acontecimentos. Os olhares são diversos.
 
Além de Vera Farmiga, os papéis principais trazem Cherry Jones (Susan Mulderick, a responsável por todos os protocolos de segurança do hospital), Robert Pine (Horace Baltz, um dos médicos veteranos do Memorial), Cornelius Smith Jr. (Bryant King, jovem médico negro que atesta a diferença com que a população negra estava sendo tratada) e Julie Ann Emery (Diane Robichaux, a enfermeira grávida responsável pelo LifeCare).

Drama forte e filmado de forma intensa, com sequências de tirar o fôlego, “Cinco dias no Hospital Memorial” recupera histórias que passaram ao largo da cobertura jornalística da tragédia e ficaram esquecidas. O que fica claro, desde o início, é que a noção de certo e errado se torna algo muito difuso em meio ao caos.

“CINCO DIAS NO HOSPITAL MEMORIAL”

• Minissérie em oito episódios no AppleTV . Nesta sexta (26/8), será lançado o quinto. Novos episódios às sextas