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Estado de Minas CINEMA

Jordan Peele volta a surpreender com o terror alienígena 'Não! Não olhe!'

No filme em cartaz em BH, vencedor do Oscar conta a história mirabolante de irmãos que cuidam de animais em meio a violência, Ovnis e racismo


27/08/2022 09:15 - atualizado 27/08/2022 09:19

Daniel Kaluuya, Keke Palmer e Brandon Perea em cena do filme 'Não! Não olhe!'
Daniel Kaluuya, Keke Palmer e Brandon Perea em "Não! Não olhe!" (foto: Universal Pictures/divulgação)

"Conforme escrevia o roteiro, comecei a me aprofundar na natureza do espetáculo, nosso vício em espetáculo e a natureza insidiosa da atenção. Então, é disso que se trata"

Jordan Peele, diretor e roteirista



Tão logo chamou a atenção do mundo com Corra!, vencedor do Oscar de roteiro original em 2018, Jordan Peele foi imediatamente comparado a Quentin Tarantino. Ainda que reafirme a fonte de inspiração no mestre Alfred Hitchcock, Peele faz por onde sustentar essa comparação com o seu Não! Não olhe!, ficção científica que acaba de estrear nos cinemas de BH.
 
A premissa do filme que reencaminha bases do faroeste traz a forte participação de atores negros e reconfigura papéis a eles reservados, ao estilo de Os oito odiados (assinado por Tarantino). Mas há diferenças na trama sobre os irmãos OJ Haywood (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer) sobre a tentativa de perpetuar a fama da família deles, os Haywood, fortemente ligados ao desenvolvimento de um rancho no Vale de Santa Clarita, na Califórnia.

Trauma à moda Stanley Kubrick

Além de treinar cavalos, há estrita ligação de OJ e Emerald com a rica indústria de Hollywood. Vizinho ao rancho em que vivem, um decadente parque temático é administrado por Ricky Jupe (Steven Yeun), oportunista ex-ator de TV traumatizado por um episódio que, narrado com a grandeza de um Stanley Kubrick, engrandece o cinema de Peele.

Se o parque temático remete à decadência de A última sessão de cinema (1971), Jordan Peele traz em seu embrião criativo o cinema de reconquista alardeado pelo astro Sidney Poitier, fundamental ao chamado cinema negro.
 
Ator Steven Yeun, usando chapéu, olha para cima no filme Não! Não Olhe!
Ricky Jupe (Steven Yeun) experimentou atrocidades de arrepiar os cabelos (foto: Universal Pictures)
 

Não por acaso, um poster do faroeste Um por Deus, outro pelo diabo (1972), estreia de Poitier na direção, estampa cena de Não! Não olhe!. No filme setentista, havia interessados em reacender o modelo escravagista.

Também diretor de Nós (2019), Peele se arvora em remeter seu novo filme a Sinais (de M. Night Shyamalan) e a duas produções de Steven Spielberg - Contatos imediatos do terceiro grau (do qual aproveita a imersão sonora) e ET (na icônica cena do toque de dedos).
 
 

Disco voador e teoria da conspiração

Sem insistir na tecla de conteúdos e choques sociais, Peele deixa que as forças da natureza ajam em Não! Não olhe!. Junto de uma teoria da conspiração, o aparecimento de objeto voador não identificado traz uma guinada. Entram em cena dois personagens capacitados a, com uso de tecnologia, registrar episódios inexplicáveis: o entusiasmado Angel (Brandon Perea) e o cineasta Antlers (Michael Wincott).

Depois da frustrada tentativa de integrar uma equipe de cinema, os irmãos protagonistas investirão no desvendar de UAPs (fenômenos aéreos não identificados).

Um elemento é evidente em Não! Não olhe! e diz respeito à coleta e eternização de imagens. Para além do visual que, à luz do dia, crava a existência da mansão que lembra a de Terror em Amityville (1982), o filme examina a importância do tataravô do cinema, o zoopraxiscópio, criação do século 19 do fotógrafo britânico Eadweard Muybridge. O porquê da falta de notoriedade do negro que participou indiretamente daquele invento é parte da discussão de Não! Não olhe!.
 

Dentro do foco central do longa, em que cavalos e um macaco têm forte importância, os personagens, acostumados a domar e amestrar animais, topam com o indomável. O inesperado desponta com o nítido surgimento de um disco voador, bem naquele esquema batido de aventura sci-fi.


A instabilidade da isolada região californiana remete à cômica intromissão de sensacionalismo, relacionado a fatos que cercam o filme, capaz de adotar ramificação de tema assemelhada à do experimentalismo do ousado diretor Gus van Sant (dos áridos Gerry e Garotos de programa).

Panqueca voadora e plasma

A perda do controle desperta teoria que lembra a percepção de que animais afastados do hábitat natural tendem a voltar ao ponto de origem. Numa escolha arriscada, a equipe da designer de produção Ruth de Jong aposta no visual questionável do Ovni, misto de plasma e panqueca voadora, que acopla em si aparatos de câmera fotográfica.

Discutindo a demarcação de território e captando imagens aterradoras de uma zona de completo caos para os humanos, o longa de Jordan Peele convence. Mas o roteiro, do próprio diretor, se atrapalha ao desprestigiar a elaborada e envolvente trama que cerca o passado de Ricky Jupe (Steven Yeun), testemunha traumatizada de extremada atrocidade. Se perde, de certo modo, o cineasta que discutiu sadismo e construção de identidade em Nós e apelou, em Corra! para um thriller de tirar o norte.


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