Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Roberto Corrêa dá 'curso' de viola no disco 'Concerto para vaca e boi'


Considerado um dos maiores violeiros brasileiros, Roberto Corrêa acaba de mandar para as plataformas Concerto para vaca e boi, seu 20º álbum, com 12 faixas autorais, além do livro digital com as partituras do repertório.





As composições foram feitas especialmente para cada uma das seis violas brasileiras: repentista, de buriti, caiçara, machete baiana, de cocho e caipira. Todas devidamente tocadas em duo com a viola da gamba. Pela primeira vez, Roberto compôs para este instrumento oriundo da Renascença e do Barroco, muito utilizado no segmento da música antiga.
 
A viola da gamba, explica o músico e pesquisador, pertence à linhagem dos instrumentos de corda dedilhadas, tem trastes e é afinada como as violas tradicionais.

“É um instrumento com sete cordas, o que deu um ganho muito grande. Gosto muito. O estilo que mais gosto e ouço é o da música barroca, na qual viola da gamba está sempre presente.”

Concerto para vaca e boi é fruto da trilha que Roberto Corrêa compôs para o documentário Bravos valentes - Vaqueiros do Brasil (Globo Filmes), lançado em 2021.

“Tive a ideia de colocar o instrumento de cada região. Isso junto com a viola da gamba, por conta do grave que ela tem. Funcionou muito bem e nasceu a ideia de fazer o concerto para todas as violas tradicionais brasileiras”, conta.




 
Ouça Roberto Corrêa e Gustavo Freccia:
 

 

Cocho, buriti, caipira, machete baiana...

A viola de cocho está ligada ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A de buriti é encontrada em Tocantins, Sul do Maranhão, Piauí, Goiás e Minas Gerais. “A região desse instrumento ainda não está bem definida, pois é muito recente em termos de pesquisa”, explica.

A viola machete baiana é a menor delas - algumas têm apenas quatro cordas. “Como a caipira, a machete baiana tem 10 cordas, instrumento pequeno, muito bonito. Chama-se assim porque é encontrada no samba chula do Recôncavo Baiano”, detalha.

Já a repentista, a viola dos cantadores de repente, é encontrada em todo o Nordeste; a caipira, no Brasil Central; e a caiçara vem dos litorais, Sul do estado de São Paulo e Norte do Paraná.
 
Cada qual tem a sua afinação. Roberto diz que preparou os instrumentos para música de câmara. “Trabalhei cada um deles de maneira superafinada, de forma a fazer música para concerto. É preciso entender que não estou fazendo música tradicional, mas moderna, usando a linguagem barroca e renascentista”, destaca.





O violeiro faz questão de ressaltar que não se trata de música regional ou tradicional. “Criei uma coisa nova, original, com grau de dificuldade até grande. É, realmente, música de concerto.”

Cordas de tripas e raquete

O livro traz “apontamentos de memória” de Roberto e sua trajetória. “E também as escolhas de cordas que fiz. As violas de cocho e buriti, por exemplo, têm cordas feitas de tripas”, detalha.

“Conto sobre as calibragens e como cheguei nelas. Na viola de buriti, uso corda de raquete de badminton. Fui experimentando para ver o que soava melhor no instrumento.”

O projeto do violeiro foi aprovado pelo programa Rumos Itaú Cultural, que contemplou artistas às voltas com a pandemia. “Todo mundo estava recolhido, então foi um projeto de composição. Fiquei toda a pandemia compondo esse material.”





(foto: Reprodução)
O álbum saiu do estúdio da casa de Roberto, em Brasília. “Gravei com o Gustavo Freccia, que toca viola da gamba comigo. Professor da Escola de Música de Brasília, ele foi o meu parceiro no disco”, destaca.
 
Nascido em família de violeiros de Campina Verde (MG), o compositor e professor Roberto Corrêa se dedica à viola há 40 anos.

Radicado em Brasília, ele é graduado em música pela UnB, tem doutorado em musicologia pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e é um dos pesquisadores de viola mais respeitados do Brasil.

“CONCERTO PARA VACA E BOI”

O álbum e o livro digital de Roberto Corrêa estão disponíveis nas plataformas digitais.