Jornal Estado de Minas

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Recheada de expectativa, série de 'O senhor dos anéis' estreia na sexta


 
Cidade Do México, México – Em 1969, quando o escritor J. R. R. Tolkien finalmente decidiu ceder às pressões e vendeu os direitos de adaptação da sua trilogia literária "O senhor dos anéis" para pagar uma dívida, ele recebeu cerca de US$ 200 mil. Cinquenta e três anos depois, o Prime Video, serviço de streaming da Amazon, lança, na próxima sexta-feira (2/9), "O senhor dos anéis: Os anéis de poder", a série mais cara de todos os tempos, com orçamento sugerido em torno de US$ 1 bilhão – o equivalente a cerca de R$ 5 bilhões.




 
A obra, conduzida pela dupla de novatos Patrick McKay e J. D. Payne, é ambientada milhares de anos antes dos eventos narrados nos livros "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit", que já viraram filmes de sucesso pelas mãos do diretor Peter Jackson a partir de 2001. A série é inspirada em canções, notas de apêndice e até frases isoladas para dar vida ao que Tolkien batizou de Segunda Era da Terra-Média, um tempo de relativa paz que é assombrado pelo ressurgimento de Sauron e pela criação dos anéis que virariam peça-chave no futuro.
 
Apesar de não trazer nomes como Frodo, Aragorn ou Legolas, a série ainda traz personagens conhecidos dos fãs dos filmes e da trilogia literária, como Galadriel, Elrond, Isildur e outros que só saberemos no fim dos oito episódios que compõem a primeira temporada.
"Nós nos vemos como arqueólogos", diz o showrunner e roteirista McKay, em entrevista. "Nosso processo foi mergulhar profundamente nos livros para encontrar o tom real (do passado). Tolkien plantou várias sementes em suas obras para fazer este mundo florescer. Sempre parávamos para pensar o que ele faria."




 
McKay e Payne são amigos há 25 anos, quando se encontraram no grupo de teatro na escola onde estudavam, no estado da Virgínia. Depois de três anos morando em Los Angeles, a dupla começou a trabalhar na área de roteiros da produtora Bad Robot, do cineasta J. J. Abrams, de "Lost", mas nenhum dos seus projetos vingou – nem mesmo uma nova sequência da franquia "Jornada nas estrelas".
 
Mas, ao serem confirmados no emprego, McKay e Payne levaram a produção para a Nova Zelândia, país que serviu de cenário para a “Terra-Média” nos cinemas. Houve uma tentativa da Amazon de se aproximar do próprio Peter Jackson para alguma função, mas a empresa bateu de frente com a proibição legal de a série ter qualquer ligação criativa com os longas, que são de propriedade da Warner.

ELENCO


O processo de seleção do elenco foi outra característica em comum com os filmes de Jackson. A dupla de criadores começou a procurar atores pouco conhecidos do público, mas com passagens em peças shakespearianas, dando uma ideia da importância da dramaturgia na série.




"Encaramos tudo como uma peça de teatro mais organizada", diz o rotei- rista. "Queríamos que fosse uma experiência divertida, porque uma série assim é difícil e exige muito trabalho, compromisso e responsabilidade. É melhor trabalhar com quem você quer ver todos os dias."
 
Para chegar a esse ponto, no entanto, a produção se cobriu de segredos desde que os primeiros atores começaram a ser selecionados, em 2019. "Não sabia que estava fazendo testes para nada relacionado a “Terra-Média”. A descrição do papel dizia apenas que era uma personagem que havia experimentado luto e tristeza e estava tentando se redimir", conta a atriz Morfydd Clark, que faz a versão mais jovem e feroz da protagonista élfica Galadriel, que busca vingança contra o elusivo Sauron, responsável pela morte do seu irmão, Finrod.
 
Já o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova, que faz o elfo silvestre Arondir, um dos personagens originais criados para a série, sabia onde estava se metendo, mas ouviu negativas da produção antes de conseguir o papel.




 
"Estava filmando no meio do deserto, na África do Sul. Fiz uma gravação sem internet, enviei o celular com o arquivo para a vila mais próxima, que ficava a duas horas do set. Não aceitei o 'não'", lembra Córdova, que faz o primeiro elfo não branco da mitologia de Tolkien.
"Quando era pequeno, queria ser um elfo, mas me falavam que eu não podia. Foi uma das razões para que eu virasse ator, pois existe ativismo no ato de existir e de ser visto. Pelos comentários que leio, temos um longo caminho pela frente, mas estou extremamente feliz de chutar esse formigueiro", diz Córdova.

DESAFIOS


Patrick McKay contabiliza os desafios: "Filmamos por 300 dias no total, com 22 personagens fixos, seis mundos diferentes e 45 papéis diferentes com diálogos somente no piloto. Colocar tudo isso junto foi como resolver uma equação matemática que exigiu todos os truques de efeitos visuais que existem, tanto novos quanto antigos."




 
Não é exagero. "Os anéis de poder" é uma viagem que vai do reino élfico de Lindon, onde fica o Alto-Rei Gil-Galad, vivido por Benjamin Walker, passa pelas terras dos hobbits Pés-Peludos – ancestrais dos Bilbo e Frodo –, revela os limites das perigosas Terras do Sul, causa deslumbramento no reino anão de Khazad-Dûm e repousa na ilha de Númenor, cenário principal da série.
 
O tema da primeira temporada de "Os anéis de poder" se conecta claramente ao mundo moderno: o ressurgimento do mal quando as pessoas de bem diminuem a constante vigilância. 
 
Nos livros, o vilão Sauron não surge na Segunda Era como um demônio em armadura, como representado nos filmes passados no futuro da Terra-Média, mas como um sedutor e manipulador que engana elfos e homens, alguém chamado Annatar – identidade mantida em segredo.

NOVAS TEMPORADAS


J. D. Payne e Patrick McKay terão cinco temporadas, já confirmadas pela Amazon, para desenvolver os personagens a seu tempo. Eles costumam citar "O poderoso chefão" e "Better call Saul" como influências. 
 
A dupla logo embarca para o Reino Unido, lar da segunda temporada da série, mas levando a mesma filosofia exigente dos mais de quatro anos de trabalho. Tudo precisa ser fiel a Tolkien e a 'Terra-Média'", conta o simpático McKay. "Cada peça de figurino, cada diálogo e cada momento. É um processo que não acaba. Mesmo hoje, sinto que poderíamos ter feito mais. Acima de tudo, somos fãs." (Folhapress)