Jornal Estado de Minas

ARTES VISUAIS

Carlos Barroso apresenta a mostra 'Deslocamento' na galeria da Assembleia


Buscando a interseção entre poesia e artes visuais, a exposição “Deslocamento”, com trabalhos do jornalista e poeta Carlos Barroso, será aberta nesta segunda-feira (5/9) à noite, na Galeria de Arte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.





A curadoria é assinada pelo escritor e ensaísta Anelito de Oliveira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Carlos Barroso busca explorar o viés poético de objetos do cotidiano por meio de caixas, vidros, metais, placas, latas de lixo, molas, areia e roupas.

“Pensei em deslocamento no sentido de mudar as coisas de lugar mesmo, conferindo a elas outras utilidades”, afirma Barroso.

Poesia marginal

Jornalista experiente – foi repórter do Estado de Minas e da TV Bandeirantes –, ele se dedica há décadas à poesia marginal, abraçando estéticas de vanguardas modernistas, do concretismo, dadaísmo e do poema-processo. Barroso é fundador das revistas culturais “CemFlores” e “AquiÓ”.

“Venho da geração que trabalhou com poesia mimeografada, vendida de mão em mão, que saiu das livrarias para se oferecer ao público nas ruas. Nesta exposição, tento ampliar a linguagem poética para objetos do cotidiano”, explica.





O público verá instalações, ready-mades, objetos, quadros, videopoemas, LED backlights e poemas visuais.

“A poesia serve para fundir a palavra com as artes plásticas e com a música. Torquato Neto, grande poeta que faleceu prematuramente, dizia que a poesia é a mãe das artes”, comenta Barroso, dizendo que o fazer artístico pode estar escondido em paisagens corriqueiras e inusitadas do dia a dia.

“Na Rua da Bahia, tem uma placa velha, muito bem trabalhada em ferro, no Edifício Andrade & Campos. Tirei uma foto dela e fiz um poema visual que remete antologicamente à poesia brasileira do século 20”, comenta.

Política é o foco de ''Tribo dos encolhedores de cabeças: De Cabral a Cabral'' (foto: Carlos Barroso/divulgação)
O interesse dele por objetos cotidianos surgiu quase por acaso. Um de seus primeiros trabalhos foi a série “Enterráguas”, na qual explorava o potencial estético de aquários de vidro.





“Em 1982, dei um aquário redondo de vidro para meu filho, então com 5 anos, e ele me pediu para comprar peixinhos. Falei que não compraria, porque não queria aprisionar os bichinhos. Daí surgiu a ideia de usar os aquários para fazer arte”, relembra.

“Minhas peças são ironias que buscam fazer a pessoa refletir. ‘Salvar’, por exemplo, brinca com a questão da salvação. Costumamos dizer ‘só isso salva’, ‘só aquilo salva’, ‘só Cristo salva’, ‘só Ogum salva’, mas, no final, só ‘crtl + S’ salva realmente”, diz Barroso.

Trata-se de um letreiro de LED que exibe várias frases, com as quais o artista propõe reflexão a respeito da salvação da humanidade por meio da fé e da ciência.

Fotografia e tecidos

A Galeria da Assembleia Legislativa também recebe “Nós”, exposição de Ana Bouissou. Ela trabalha fotografias impressas em tecidos e telas, com intervenções como bordados, sementes e cascas, buscando retratar a passagem do tempo.





Ana usa agulhas em todos os trabalhos, que deixam marcas simbolizando as cicatrizes presentes na experiência humana.

“DESLOCAMENTO”

Trabalhos de Carlos Barroso. Abertura nesta segunda-feira (5/9), às 19h. Em cartaz até 23/9. Galeria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Rua Rodrigues Caldas, 30, Santo Agostinho. O espaço funciona de segunda a sexta, das 8h às 18h. A galeria também apresenta “Nós”, mostra de trabalhos da fotógrafa Ana Bouissou

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria