Timothée Chalamet pode até ter dominado a primeira metade do Festival de Veneza, causando especial frenesi ao aparecer no tapete vermelho com um look grená que era pura androginia. Mas nesta etapa final do evento, que será encerrado sábado (10/9), quase ninguém mais se lembra do astro de “Bones and All”. Quase todos os holofotes se voltaram para Harry Styles, músico que se arrisca como ator no filme da namorada Olivia Wilde, “Não se preocupe, querida”, exibido na segunda-feira (5/9) fora de competição.
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A britânica Florence Pugh interpreta uma dessas mulheres, Alice, e Styles dá vida ao seu marido, Jack. Com cenas de sexo com foco no rosto da protagonista, priorizando o prazer feminino – Styles aparece sem camisa uma vez, mas mal dá para ver alguma coisa –, e muitos trechos mostrando famílias que levam uma vida aparentemente sem conflitos, o longa se pretende uma distopia de inclinação feminista, apontando que nem tudo o que parece ser perfeito de fato o é na sociedade americana.
O filme, que deve estrear no Brasil em 22 de setembro, não é grande coisa. Mas é entretenimento razoável, muito embora a produção tenha se celebrizado mesmo por seu portentoso histórico de confusões de bastidores.
Para começar, as filmagens tiveram que ser adiadas logo nos primeiros dias, já que alguns membros da equipe contraíram COVID-19 e forçaram uma quarentena generalizada. O ator Shia LaBeouf era a primeira opção para o papel de Jack, e sua simples escalação já gerou torcidas de nariz, pela reputação do astro de ser pouco afável no convívio, sobretudo com mulheres.
Não deu outra: algum tempo depois que as filmagens começaram, Olivia Wilde se desentendeu com LaBeouf, e o ator deixou o filme.
O que houve de verdade ainda não é 100% conhecido, mas Wilde espalhou para meio mundo que foi ela quem despediu o astro, por ele ter um método de trabalho que não corresponde ao dela. Porém, há alguns dias, o rapaz foi às redes sociais desmentindo a história, dizendo que foi ele quem pediu para sair do elenco.
Seja lá como for, LaBeouf foi substituído por Harry Styles. No set, Wilde não resistiu ao charme do músico e não demorou até que ambos começassem um tórrido romance. A protagonista, Florence Pugh, não disfarçou seu aborrecimento, sobretudo pelo fato de Wilde ainda ser casada com o ator Jason Sudeikis, quando iniciou o affair com o ex-integrante do One Direction.
Além disso, Pugh teria se sentido desrespeitada porque a diretora por vezes se preocupava mais com ficar com o novo namorado que com as filmagens em si.
Trailer foi estopim de irritação
A gota d'água para a britânica foi quando viu o trailer – e talvez um dos cortes finais do longa – e achou que Wilde explorava excessivamente as cenas sexuais de sua personagem. A irritação foi tanta que Pugh veio a Veneza, mas se recusou a participar da entrevista coletiva ao lado do resto da equipe – limitou-se apenas a aparecer no tapete vermelho que antecede a sessão oficial.
Na coletiva de imprensa, Wilde contemporizou. “Não posso dizer o quanto estou honrada em tê-la (Pugh) como minha protagonista. Ela é ótima”, disse. “A internet se autoalimenta (de fofocas). Não preciso contribuir para isso”, completou, recusando-se a confirmar se está mesmo brigada com a atriz.
Styles comentou sua experiência no set. “Trabalho com música, então nessa área eu me sinto confortável. O que me agrada quando atuo é que não faço ideia do que estou fazendo”, confessou o músico na coletiva. Quem vê o filme sabe que ele tem razão.
Martin McDonagh: originalidade na mostra competitiva
Já na competição, o britânico Martin McDonagh mostrou o longa mais original até o momento. “The Banshees of Inisherin” se passa em uma ilha na costa da Irlanda, onde o pacato Padraic, vivido por Colin Farrell, preenche as tardes enchendo a cara com o amigo Colm, papel de Brendan Gleeson. Um dia, sem mais nem menos, Colm deixa de conversar com o companheiro, simplesmente dizendo que não quer mais ser seu amigo, sem maiores explicações.
McDonagh, que ganhou renome mundial após levar a Veneza seu “Três anúncios para um crime”, em 2015, usa essa premissa banal para desenvolver uma história tragicômica sobre a animosidade entre duas pessoas que se gostam, mas que por uma questão menor acabam tendo um desentendimento radical, chegando a nível de truculência com ares absurdos.
Tendo como pano de fundo a guerra civil irlandesa, nos anos 1920, o roteiro propõe uma interessante visão sobre como os conflitos, muitas vezes, surgem em contextos desimportantes, mas podem evoluir para a destruição mútua.
Kôji Fukada: marca autoral
Outro filme bastante autêntico exibido em Veneza foi o japonês “Love life”, de Kôji Fukada. A trama sobre um casal que entra em crise depois que o filho pequeno morre afogado pode parecer batida, mas o cineasta conduz a história por caminhos tão inusitados, com sensibilidade tão peculiar, que o filme não se parece em nada com o que a sinopse pode apontar, em um primeiro momento.
É uma narrativa estranha, por vezes atrapalhada, mas hipnótica. Sem dúvida, um dos filmes desta edição do Festival de Veneza que vão deixar uma marca.