Porto – A uma hora do início do concerto, fim de tarde na Casa da Música, o maestro Fabio Mechetti repassa detalhes do repertório com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Um bis estava garantido; dois, dependendo da recepção do público.
Pois foram duas aberturas de óperas de Carlos Gomes (“O Guarani” e “Fosca”), o maior compositor brasileiro do século 19, que encerraram a primeira noite da turnê da orquestra mineira na Europa. Até sexta (9/9) a Filarmônica celebra o bicentenário da Independência com quatro apresentações em Portugal.
No programa, que durou 2h10, a plateia luso-brasileira ouviu peças de autores dos dois países: o lisboeta Joly Braga Santos (1924-1988) abriu a noite com a “Abertura sinfônica no. 3”; seguido por Villa-Lobos (1887-1959) com as “Bachianas brasileiras no.3”, com o pianista Jean-Louis Steuerman como solistas convidados.
Após o intervalo, a intensidade de Carlos Gomes (1836-1896) seria ouvida pela primeira vez na noite com “Prelúdio” (puxado pelo oboísta Públio Silva) e “Alvorada”, da ópera “O escravo”. Villa-Lobos encerrou o programa com todas as cores dos “Choros no.6”.
Colosso da arquitetura contemporânea, com projeto do holandês Rem Koolhaas, a Casa da Música é apenas três anos mais “velha” do que a Filarmônica. Inaugurada em 2005, é a primeira – e até então única – instituição portuguesa criada exclusivamente para se dedicar à música.
“É bom para o público mas, para a orquestra, nem tanto. Tem que maneirar um pouco a dinâmica. (Quando se apresenta em outras salas) Sempre tem a questão de ajuste de acústica. Esta tem muita coisa, madeira, metal, vidro, que ajuda a rebater o som”, disse Mechetti ao final do ensaio geral.
Na plateia foi uma noite quente e calorosa, iniciada com os hinos nacionais de Brasil e Portugal. Brasileiros, portugueses e turistas de outros países ocuparam quase que a totalidade da sala principal, com pouco mais de 1 mil assentos.
Oitenta mil brasileiros estão aptos a votar em Portugal, o segundo maior colégio eleitoral brasileiro no exterior. Um pequeno grupo de apoiadores da candidatura de Lula à presidência fez, durante a tarde, uma manifestação pacífica na Rotunda da Boavista. O local, uma das mais importantes praças do Porto, foi escolhido justamente porque fica ao lado da Casa da Música. O grupo estava na plateia do concerto – mas não houve nenhuma manifestação na apresentação.
“Há muito tempo a gente está querendo mostrar o nosso trabalho para o pessoal da Europa. É um momento muito importante para nós, principalmente por ser um repertório brasileiro pouco conhecido, mesmo em Portugal”, disse Mechetti sobre a estreia. Nos músicos, a alegria era latente – alguns não se furtaram a tirar uma foto com o maestro em cima do palco.
Desde segunda-feira (5/9) em Portugal, a Filarmônica está viajando com uma equipe de 114 pessoas – 89 são instrumentistas. Na manhã desta quarta (7/9) todo o grupo deixa o Porto rumo a Lisboa. A segunda noite de concertos será ao ar livre.
A Filarmônica se apresenta nesta quarta-feira (7/9) no jardim da Torre de Belém, como atração do festival “Lisboa na Rua”. O repertório vai apresentar peças de vários autores brasileiros – além do supracitado Carlos Gomes, haverá Alberto Nepomuceno, Francisco Mignone, César Guerra-Peixe, Lorenzo Fernandez. Braga Santos é o único português no repertório.
E o concerto será exibido no Brasil no 7 de setembro – a partir das 21h30 (horário de Brasília), pelo canal do YouTube da Filarmônica e pela Rede Minas. Na quinta (8/9) e na sexta (9/9) a orquestra volta para as salas de concerto (Centro Cultural de Belém, em Lisboa e Convento São Francisco, em Coimbra, respectivamente) com o mesmo repertório que foi executado no Porto.
A repórter viaja a convite da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais