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Estado de Minas MÚSICA

Black Pantera quer colher os frutos da visibilidade do show no Rock in Rio

'Black Pantera não vive do Black Pantera ainda', afirma o baterista Pancho, integrante do power trio de Uberaba que abriu o festival, em 2 de setembro


11/09/2022 04:00 - atualizado 10/09/2022 02:51

Sem camisa, baixista Chaene Gama toca no palco do Rock in Rio
Black Pantera, a primeira banda a se apresentar no Rock in Rio 2022, tocou no Palco Sunset na tarde de 2 de setembro (foto: Mauro Pimentel/AFP)

"É uma banda que está levando o nome de Uberaba, levando cultura, pautas conscientes. Mas isso (a falta de apoio) nunca privou a gente de fazer nada. A gente ia lá e fazia por nós mesmos"

Rodrigo "Pancho" Augusto, baterista



Ter a oportunidade de cantar no Rock in Rio é para poucos. Ser a banda responsável pela abertura do maior festival de música do país, então... Mas o Black Pantera, grupo de Uberaba, chegou lá, em 2 de setembro. Homenageou Elza Soares em grande estilo, com sua mistura de hardcore punk e trash metal, recebeu os pernambucanos do pioneiro Devotos e mandou sua autoral “Fogo nos racistas” no Palco Sunset.

O grupo iniciou o show com um poema da escritora peruana Victoria Santa Cruz (1922-2014), “Me gritaron negra”. O baterista Rodrigo “Pancho” Augusto acompanhou de local privilegiado Charles Gama “incendiar” o público naquela tarde ensolarada. O vocalista desceu até a plateia, cantou “Padrão é o cara**”, “Mocha” e “Godzilla”, entre outras do repertório do trio, que se completa com o baixista Chaene Gama, irmão de Charles.

Pessoas da plateia demonstram entusiasmo no show da banda Black Pantera no Rock in Rio
Show da banda de Uberaba conquistou o público no 'Dia do Metal' do Rock in Rio (foto: Mauro Pimentel/AFP)

Telão e plateia animada no bar

Os amigos que não puderam ir à Cidade do Rock se juntaram em um bar em Uberaba para acompanhar a performance de Pancho, Charles e Chaene. Assistiram a tudo no telão.

“Estava parecendo final de Copa do Mundo para os nossos”, conta Pancho, a respeito do público no festival. “Foi incrível a mobilização das pessoas. A sensação foi de que estávamos representando muita gente. Os amigos do interior, as bandas underground, todo mundo mandou mensagem falando o quanto a gente estava representando bem ali”, diz.

Pancho é fã de carteirinha do Devotos, grupo criado em 1988 no Recife, pioneiro do punk e do hardcore em Pernambuco, destaque da cena no Brasil. Para ele, se o Black Pantera “hoje corre”, é porque, lá atrás, Devotos abriu caminhos para as bandas do gênero. Ambas denunciam o racismo e a exclusão social no país. O formato “power trio preto” é outro ponto em comum, observa Pancho.
 
VEJA Charles Gama desce do palco no Rock in Rio:
 
 

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, cantou Elza Soares, fazendo da música de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti uma espécie de grito de guerra. Black Pantera já havia gravado a versão metal desta canção (também sucesso do extinto O Rappa), que foi apresentada no Palco Sunset com o Devotos.

Aliás, a autoral “Fogo nos racistas”, do trio de Uberaba, traz no título outro grito de guerra – o mesmo refrão de “Olho de peixe”, sucesso do rapper belo-horizontino Djonga.

“Isso é o mais legal, o Palco Sunset te permite experimentar, fazer encontros. Poxa, acho que não tinha palco melhor para a gente começar no Rock in Rio, transmitido ao vivo, depois de (o festival) ser adiado por causa da pandemia. Foi um show com vários significados para todos”, diz Pancho. O baterista elogia o vocalista Charles. “Ele teve o domínio do show do começo ao fim. Foi lindo.”
 
VEJA o clipe de 'Fogo nos racistas':

O Rock in Rio é marco na carreira da banda de Uberaba, mas as coisas não são nada fáceis para o trio. Na última terça-feira (6/9), quatro dias depois do show, Charles e Chaene batiam ponto no trabalho. Pancho, por sua vez, é músico freelancer em eventos em Uberaba.

“Quem sabe depois do Rock in Rio, com a repercussão, a coisa melhora. Este ano já está muito bom para a gente. Temos feito muitos shows, os cachês melhoraram, mas o Black Pantera não vive do Black Pantera ainda”, revela Pancho.

O baterista diz esperar que agora, “aparecendo no 'Jornal Nacional'”, o grupo não precise contar apenas com os amigos. Espera também que a administração de Uberaba valorize a banda por divulgar a cidade.

“A gente nunca teve muito apoio do poder público. Acho importante esse apoio em todos os lugares. É uma banda que está levando o nome de Uberaba, levando cultura, pautas conscientes. Mas isso (a falta de apoio) nunca privou a gente de fazer nada. A gente ia lá e fazia por nós mesmos”, afirma.

Pancho revela o desejo em tocar em Belo Horizonte. A última apresentação antes do festival seria realizada na Autêntica, casa de shows no bairro Santa Efigênia, mas a banda optou por se concentrar na performance que faria no Rock in Rio.

Três integrantes da banda Black Pantera olham para a câmera. Um deles usa máscara
Letras do power trio mineiro denunciam o racismo e a injustiça social no Brasil (foto: Black Pantera/divulgação)

Cover do Sepultura

Rodrigo “Pancho” Augusto, Charles Gama e Chaene Gama já trabalhavam juntos antes de o Black Pantera existir. O trio fazia cover de Sepultura e System of a Down, entre outras estrelas do metal. O grupo se desfez quando Charles decidiu seguir carreira solo. A reaproximação veio em 2014 e, de lá para cá, os três se apresentaram em festivais de música no Brasil e no exterior. Em 2016, cantaram no Afropunk, em Paris.

“Aquilo ali foi a primeira virada de chave da banda. Para a gente poder falar: Cara, 'pera' aí. Se a gente chegou na França, do outro lado do oceano, vamos levar a sério essa parada. Vamos começar a produzir conteúdo com mais qualidade, mais clipes”, relembra Pancho. “E aí é só dinheiro saindo, né? Ali a gente estava só plantando. A gente está plantando há oitos anos, uma hora a gente vai colher.”

O trio formado por rapazes negros de famílias humildes vai à luta na cidade que tem a fama de conservadora, onde predomina a música sertaneja. Black Pantera se apoiou nos amigos para construir seu caminho na cena independente, sobretudo abordando o racismo.

O nome de batismo veio do Panteras Negras, partido criado nos anos 1960, nos Estados Unidos, que defendia a revolução, o socialismo e justiça para o cidadão afro-americano.

O nicho do rock foi o ponto de apoio tanto para o Black Pantera quanto para as demais bandas do gênero no país. O grupo de Uberaba conquistou reconhecimento depois de se apresentar nos Estados Unidos, na França e na Colômbia, em eventos com participação de Green Day, Slayer e System of a Down, entre outras estrelas internacionais.

“É uma cena pequena, mas é uma cena fiel”, diz Pancho. “Cada vez que a gente ia para fora do país, a gente voltava mais forte. Dava bagagem”, diz o baterista.

“Sou muito fã da minha banda. A gente tem de gostar do que faz. Não quero ser clubista, mas é porque realmente tenho muito orgulho do trabalho que a gente está fazendo”, conclui.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

ME GRITARON NEGRA

E vou rir daquelas pessoas que,
por educação e por nos evitar,
chamam os negros de “gente de cor”.
E que cor é essa?
Negra!
E que linda soa!
Negra!
E que ritmo tem,
Negra,
Negra,
Negra!

. Trecho do poema de Victoria Santa Cruz que abriu o show do Black Panterano Rock in Rio


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