O músico David Mour embarcou, no início de agosto, em um ônibus de Londrina (PR) com destino a Três Pontas, no interior de Minas Gerais. Chegando lá, encontrou-se com 19 dos mais de 100 músicos que, assim como ele, buscavam a primeira colocação nesta 52ª edição do Festival Nacional da Canção (Fenac). Subiu ao palco, apresentou “Juro”, balada romântica de sua autoria, e depois voltou para a casa aguardando o resultado. Dias depois, recebeu a notícia de que tinha sido classificado para as semifinais, realizadas na quinta e sexta-feira (8 e 9/9), em Boa Esperança. David voltou, então, para Minas Gerais, tocou “Juro” novamente e teve uma grande surpresa: estava classificado para a grande final, marcada para o último sábado (10/9).
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Com Axl-Slash-Duff, Guns N' Roses desembarca nesta terça em BHPlaneta Brasil volta após 2 anos e será palco de estrelas do rapFernanda Porto segue 'diferentona' em seu novo álbumNoventa expositores trazem o artesanato do Jequitinhonha para BH'All the beauty and the bloodshed' leva o Leão de Ouro em VenezaAlém de David, foram premiados Valéria Pisauro e Márcio Pazin em segundo lugar pela música "Intensa", interpretada por Déia Silva; Kico Zamarian em terceiro por "Solicitudes"; Nano Vianna e Bruno Koh em quarto por "Acalma", interpretada Nano Vianna; e Ronaldo Tobias dos Santos em quinto por "A artista", interpretada por Ariel Moura.
PENEIRADA
Desde que abriu o edital no primeiro semestre deste ano, o Fenac recebeu a inscrição de mais de mil composições de 22 estados brasileiros e de cinco países diferentes. Houve uma primeira seleção para escolher as 100 músicas que seriam apresentadas na segunda etapa do festival. Nessa fase, foram realizados shows em Perdões, Coqueiral, Três Pontas, Nepomuceno e Elói Mendes. Em cada um deles, eram selecionadas quatro canções para as semifinais.
Os músicos que chegam a essa penúltima etapa já garantem R$ 2.500 e continuam a concorrer aos principais prêmios – os cinco primeiros colocados ganham, respectivamente, R$ 20 mil, R$ 15 mil, R$ 10 mil, R$ 7 mil e R$ 5 mil, cada. “Eu viajei por mais de 15 horas para participar do festival”, afirma David. “Sempre acompanhava as notícias e tinha como um sonho poder participar algum dia”.
Mesmo querendo participar de alguma das edições do Fenac, o músico nunca chegou a submeter qualquer música sua para o crivo dos jurados. Este ano, contudo, foi o amigo e parceiro de música, Vitor Malta, o responsável por quebrar a barreira que David criou e convencê-lo a se inscrever.
“Eu conheço o Vitor desde 2015. Ele já toca comigo há um tempo no projeto que tenho e sempre me apoiou nas coisas que faço. Foi ele, inclusive, que me incentivou a colocar a música no festival e a lançá-la”, afirma ele.
“Juro”, conta o artista, nasceu em 2019. Não houve, no entanto, um processo de gestação da música. David, acostumado com o violão, resolveu sentar ao piano e, em pouco tempo, nasceu a canção. Em formato inédito para ele, a música é interpretada somente com piano e voz.
OPORTUNIDADES
Criado há 52 anos – e realizado ininterruptamente durante esse período – pelo jornalista Gleizer Naves, o Fenac surgiu com a proposta de, mais do que selecionar a melhor música da edição, dar palco para artistas que, embora competentes, não têm atenção do mainstream. Também fazem parte do evento atrações gratuitas de teatro, dança e artes circenses, apresentadas ao longo do dia ou entre os shows dos músicos competidores.
Gleizer, no entanto, reconhece que é difícil manter o festival. O principal entrave é conseguir parceiros e patrocinadores – hoje, o maior montante de patrocínio vem das prefeituras das cidades que recebem os shows.
“Já aconteceu de prefeito virar para mim e falar que o festival tinha que acabar porque ele traz muito maconheiro para cidade”, conta o fundador e idealizador do evento. “Como se a cidade dele não tivesse gente que fuma maconha, e eu fosse o responsável por levar essas pessoas até lá”, acrescenta.
Ele conta que outra dificuldade que chegou a enfrentar foi a de estimular o público a sair de casa a fim de assistir shows de artistas que não conhece ou sequer ouviu falar. Para isso, lançou mão de estratégia eficaz: em cada apresentação, convida um nome consolidado no cenário musical para fechar a programação. Só nesta edição, passaram pelo festival a banda Ira!, Diogo Nogueira, Zeca Baleiro e Zé Ramalho, que tocou no encerramento do festival.
FAMOSOS
“É muito legal porque os artistas com carreira consolidada que passam por aqui sempre fazem questão de gravar um vídeo dando um depoimento sobre o festival e a importância que ele tem para os músicos que estão começando ou que não têm espaço na grande mídia. Foi assim com o Ira!, com o Diogo Nogueira, com o Zé Ramalho e todos os artistas que já passaram por aqui em outras edições”, destaca Gleizer.
Não só os músicos com carreira consolidada no mainstream que reforçam a importância do festival. Os próprios artistas inscritos são os que mais reconhecem a importância do Fenac. “Eventos como esse são muito importantes para apresentar novos artistas da música brasileira e mostrar como a arte no Brasil é rica. Existem artistas incríveis que a gente nem conhece por todo canto e que acaba conhecendo nos festivais”, afirma David.
SUPER BOWL
Por mais que realize o Fenac por mais de 50 anos e a cada edição receba ótimos feedbacks, Gleizer não está cem por cento satisfeito com o evento. “Eu queria que o festival fosse igual ao Super Bowl: um megaevento, em que as apresentações vão acontecendo sem haver nenhum tipo de interrupção”, revela à reportagem.