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Estado de Minas SINGLE

Em 'Txaísmo', Luizga aprende a fazer som com os manos hunikuin da floresta

Cantor e compositor lança single- clipe inspirado nas lições que aprendeu no Acre, no coração da Amazônia. Izem, Txana Tuin Hunikin e Oreia são os convidados


13/09/2022 04:00 - atualizado 13/09/2022 00:17

Músico Luiz Gabriel Lopes e indígenas da etnia hunikuin sorriem para a câmera
Por meio dos indígenas, o cantor e compositor mineiro Luizga recriou suas conexões com a música (foto: Luiz Gabriel Lopes/divulgação)

"Eu me lembro de pensar: esses txai pegam o violão, tocam por horas e horas seguidas e só param quando vão dormir. Isso me causou até certo conflito, ao repensar qual era minha relação com a pureza da música''

Luizga, cantor e compositor

“‘Txaísmo’ é a possibilidade, a potência e a necessidade de criar relações de amizade com os povos indígenas originários”, afirma Luiz Gabriel Lopes, o Luizga, sobre o seu novo single. Produzida em parceria com o produtor francês Izem, a canção, que fará parte do novo EP do cantor e compositor mineiro, chegou às plataformas digitais acompanhada de videoclipe.

Criado por Jaider Esbell (1979-2021), pintor, performer e escritor macuxi, o termo foi poeticamente apropriado por Luizga para conduzir a faixa. “Txai significa ‘cunhado’ em hatxa-kuin (língua hunikuin), mas, para eles, na verdade, todo mundo é cunhado um do outro. Tornou-se um termo para se referir aos brothers”, explica Luizga.

Rosa Neon e TiãoDuá

Conhecido por seu trabalho como fundador das bandas mineiras Graveola, Rosa Neon e TiãoDuá, Luizga, ultimamente, tem experimentado um mix de formatos, estilos musicais e lugares, desenvolvendo projetos em vários estados do Brasil e países da Europa.

“Venho de família tradicionalmente nômade, principalmente do lado do meu pai. Sempre nos movemos muito, por muitos territórios, e construímos histórias em lugares diferentes. A facilidade de me mover pelo mundo é algo muito natural, algo que consegui conquistar através da música”, afirma o músico.

Ele explica que sua inconstância é guiada pela música, pela vontade de levar seu trabalho a público cada vez maior e pela necessidade de aprofundar estudos musicais. Atualmente, Luizga mora em Lisboa. “Na verdade, é igual ao que os hippies do Rainbow Gathering falavam: estou demorando em Lisboa, não morando”, brinca.

Apesar do desapego em relação a locais de moradia e do nomadismo que está no sangue, Luizga possui forte identificação com Minas Gerais. “Me sinto menino do interior de Minas, mesmo que viaje pelo mundo inteiro. Minha formação, onde virei gente, digamos, foi em Entre Rios de Minas, cidadezinha perto de BH, onde passei minha infância”, revela. O sentimento de pertencimento mais forte vem de lá.
 
O mineiro também destaca sua ligação com a floresta e com o povo hunikuin, com o qual desenvolveu fortes laços recentemente. “Quando tive a oportunidade de estar em contato com eles, fazer trabalhos, aprender, trocar, dar aula, conhecer e me reconhecer, também foi como reencontrar a raiz”, explica.
 
CONFIRA o clipe de Txaísmo:
 

Residência na aldeia Chico Curumim

Devido a uma série de viagens pelo território brasileiro, motivadas pela curiosidade a respeito dos povos originários, Luizga entrou em contato com a aldeia Chico Curumim, na região do Rio Jordão, no Acre. Lá, ele trabalhou em projeto de residência musical com os hunikuin.
 
Foi desse projeto que nasceu o disco “Ni Ishanai – Floresta futuro”, disponível no Spotify. “Fiquei muito tocado, resolvi voltar outras vezes por conta própria, sem ligação com o projeto, e comecei a frequentar a floresta”, conta Luizga.

A experiência na Amazônia mudou a visão dele sobre os povos indígenas. Percebeu como a colonização europeia deixou profundas marcas e cicatrizes na sociedade brasileira.

“A gente não sabe nada sobre as populações indígenas do Brasil. Eu era mais uma dessas pessoas que não conhece nada desta realidade e de repente me vi lá, trabalhando com os txai”, comenta. “Eu me lembro de pensar: esses txai pegam o violão, tocam por horas e horas seguidas e só param quando vão dormir. Isso me causou até certo conflito, ao repensar qual era minha relação com a pureza da música.”

O resultado dessa vivência é uma canção com arranjo simples, que preza pela amizade e aliança com os povos indígenas, como o título define.

“A reconciliação com essas matrizes de conhecimento é uma das grandes urgências da sociedade brasileira neste momento. Estamos vendo a crescente vontade da população indígena de ocupar os espaços de poder, o que é necessário para todos nós”, defende o cantor.

'Yemamaya' sai em novembro

“Txaísmo” fará parte de “Yemamaya”, EP de Luizga com lançamento programado para novembro. O primeiro single do álbum, homônimo, foi lançado em 24 de junho.
 
Além do produtor francês Izem, participam de “Txaísmo” Txana Tuin Hunikuin, um dos professores hunikuin de Luizga, que introduz a canção com palavras sagradas em hatxa-kuin, e o rapper mineiro Oreia, cujas letras, há alguns anos, têm povos originários como tema.

O videoclipe, dirigido por Aline Xavier Mineiro e Victor Dias, traz imagens gravadas em celular.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

Capa do disco Txaísmo mostra o músico Luisga posando para a foto com indígenas
(foto: Elis Records/reprodução )

“TXAÍSMO” 

• Single de Luiz Gabriel Lopes
• Com Izem, Txana Tuin Hunikin e Oreia
• Elis Records
• Disponível nas plataformas digitais


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