Em mais uma disputa que opôs a tradicional e conceituada HBO e a moderninha e faminta Netflix, na entrega de troféus do 74° Emmy, na segunda-feira (12/9), a primeira levou a melhor, reconquistando seu histórico título de suprassumo da televisão americana.
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Sul-coreano Lee Jung-jae faz história
“Succession” triunfou também em ator coadjuvante, para Matthew Macfadyen, e roteiro. Já “Round 6” foi a preferida em ator principal – vitória histórica para Lee Jung-jae – e direção.
Boa parte dos troféus, vale lembrar, foi entregue antes da cerimônia principal, no Creative Arts Emmy, festa com ênfase nas categorias técnicas. “Round 6” saiu dela com mais quatro prêmios, por direção de arte, performance de dublês, efeitos especiais e atriz convidada, para Lee You-mi.
Ao escolher o drama familiar sobre ricaços em vez do sucesso da Netflix na seção principal, no entanto, o Emmy decidiu não embarcar na onda de cultura sul-coreana que tem tomado o Ocidente, dois anos depois de o Oscar fortalecer tudo isso com o prêmio de melhor filme que deu a “Parasita”. Ao menos não cegamente.
Não que a Academia de Artes e Ciências Televisivas dos Estados Unidos tenha se negado a abraçar o frenesi em torno da produção audiovisual do país. Mas ao optar pela terceira temporada de um drama previamente premiado e, antes mesmo da cerimônia, barrar “Pachinko” das indicações principais, mostrou que a torre de Babel criada pelo streaming com suas superproduções em língua não inglesa ainda encontra resistência.
É também a mensagem que a academia manda às plataformas que se desesperam para aprimorar algoritmos e lançar uma infinidade de produções semanalmente.
O prêmio de “Succession”, afinal, mostra que a indústria não busca diversidade pela diversidade e que apuro técnico e refinamento ainda são imprescindíveis para definir quem se destaca no mar de títulos que desnorteia o espectador.
O caminho para a consagração estava óbvio havia semanas, com a produção da HBO levando também ator coadjuvante (Murray Bartlett), atriz coadjuvante (Jennifer Coolidge), direção, roteiro e, claro, melhor minissérie, além de categorias técnicas previamente anunciadas.
Apesar de apenas confirmar expectativas, a seção foi das mais acirradas na hora de selecionar os indicados, o que insinua o aumento na relevância dessa categoria do Emmy, normalmente preterida em relação a drama e comédia.
Minisséries conquistam espaço
Isso porque o formato tem se consolidado entre nomes poderosos de Hollywood e atraído cada vez mais público, por ficar numa espécie de meio-termo entre cinema e TV. Minissérie, afinal, não é um compromisso de prazo tão longo, mas permite que os fãs passem mais tempo com os personagens.
Várias grandes minisséries do ano ficaram de fora deste Emmy e, mesmo entre as que entraram para os indicados, sobrou pouco espaço diante da rapa de “White Lotus”. “Dopesick” e “The Dropout” conseguiram troféus em ator (Michael Keaton) e atriz (Amanda Seyfried), mas só.
Em comédia, “Ted Lasso” levou pelo segundo ano o prêmio principal. A produção da Apple também recebeu as estatuetas de ator (Jason Sudeikis), ator coadjuvante (Brett Goldstein) e direção.
Entre as poucas surpresas da noite, “Abbott Elementary” venceu em roteiro e atriz coadjuvante de comédia, o que gerou uma reação de incredulidade em Sheryl Lee Ralph e, pouco depois, o agradecimento musical e emocionado.
Quanto à cerimônia, ela optou em seu início pela solução óbvia e excessivamente feliz dos números musicais, já usada à exaustão no Oscar e no Tony.
O apresentador, Kenan Thompson, abriu a noite com dançarinos ao som de temas famosos, como os de “Friends”, “Stranger things” e “Game of thrones”. O resultado foi confuso e, como normalmente acontece nesses casos, levemente embaraçoso.
Também houve mais autorreferência que o normal. Foram montagens homenageando os gêneros televisivos, aparições de personagens de “Os Simpsons” e “Star Wars” no Microsoft Theater e aplausos para elencos de clássicos.
HBO ganha fôlego
Importante é dizer que, no quadro geral, a HBO também reconquistou o trono, depois de a Netflix, no ano passado, a ter superado, com 44 prêmios contra 19. Nesta edição, a primeira embolsou 37, e o gigante do streaming, 26.O resultado pode dar fôlego ao estúdio que passou as últimas semanas mergulhado em instabilidade, o que gerou piadas na cerimônia. Com a recente fusão da defunta WarnerMedia com a Discovery, surgiram promessas de cortes na HBO Max, apagamento de títulos da plataforma e insegurança generalizada quanto aos rumos da produção serializada da HBO.
Agora, os troféus talvez pesem na escolha dos executivos para seus rumos. Mas para saber será preciso sintonizar nos próximos episódios. (LS)
Premiação pulverizada e previsível
Conhecido pela aversão a surpresas, o Emmy Awards salpicou neste ano prêmios para diferentes públicos, ignorou algumas obras-primas e terminou a noite em portos seguros ao coroar “Succession”, “Ted Lasso” e “The White Lotus”.
Poderia (deveria?) ser “Ruptura”, “Abbott Elementary” e “Estação 11” (esta nem foi indicada). Muitos reclamarão ainda que “Better call Saul”, chegando ao final, merecia enfim seu Emmy. Mas não dá para dizer que sejam escolhas ruins.
Nas demais categorias, a academia conseguiu pulverizar troféus de “Abbott Elementary” a Zendaya, de “Euphoria”, passando pelo hit sul-coreano “Round 6”, os dramas soturnos “Ozark” e “Dopesick”, cada um sobre um lado da crise dos opioides americana, além de oferecer alguma representatividade, esta sim a maior mudança proporcionada pela era do streaming: duas atrizes premiadas e uma roteirista são negras, duas têm mais de 50 anos, um ator é asiático, etc.
É inegável, contudo, que ao fragmentar a premiação o Emmy parece não ter certeza de com qual público fala. Aclamar “Succession” como drama e roteiro e entregar a estatueta de melhor diretor a “Round 6” parece um aceno furtivo ao público jovem que amou o drama estilo game da Netflix.
As injustiçadas
Deixar a mais provocativa “Abbott”, um “The Office” em escola pública, apenas com roteiro e escolher “Lasso” para melhor comédia tampouco faz sentido. E não dar nada a “Ruptura”, o suspense da Apple sobre a dicotomia vida pessoal-trabalho que tão bem captura o espírito do tempo, é triste.
As duas vencedoras das categorias principais, escritas com excelência, recorrem a formatos e temas consagrados – a família rica e sórdida cheia de problemas, o azarão que muda de habitat e transforma todo um grupo.
Só “The White Lotus”, que ficou com o título de melhor minissérie, corria na direção contrária, e curiosamente foi a única a reunir neste ano os troféus de roteiro e direção, além de levar o de melhor ator coadjuvante em minissérie ou filme para o deliciosamente enervante Murray Bartlett na pele do gerente do hotel.
Na categoria na qual todas as demais produções eram inspiradas em histórias reais, essa comédia sarcástica e caricaturesca sobre ricaços em férias num resort no Havaí sobressaiu este ano, talvez porque a realidade pandêmica só pudesse ser confrontada com essa dose cavalar de escapismo.
A pandemia, que por tanto tempo nos deixou a sós com nossas próprias idiossincrasias, também parece ter estilhaçado a possibilidade de unanimidades. A única saga em cena, no caso deste Emmy 2022, é “Succession”, aquela série em que você torce contra todos os protagonistas.
Mesmo com o advento da segunda tela, temos visto séries e filmes cada vez mais sozinhos, porque a oferta é tanta e a disponibilidade é estreita. Se há algo atualmente em falta na TV, é a catarse coletiva. (LC)
VENCEDORES
• Série de drama
“Succession” (HBO)
. Disponível na HBO Max
• Série de comédia
“Ted Lasso” (Apple TV+)
. Disponível na Apple TV
• Ator em série de drama
Lee Jung-jae, “Round 6”
. Disponível na Netflix
• Atriz em série de drama
Zendaya, “Euphoria”
. Disponível na HBO Max e naClaro TV
• Ator em série de comédia
Jason Sudeikis, “Ted Lasso”
. Disponível na Apple TV
• Atriz em série de comédia
Jean Smart, “Hacks”
. Disponível no HBO Max
• Ator coadjuvante em série de drama
Matthew Macfadyen, “Succession”
. Disponível na HBO Max
• Atriz coadjuvante em série de drama
Julia Garner, “Ozark”
. Disponível na Netflix
• Ator coadjuvante em série de comédia
Brett Goldstein, “Ted Lasso”
. Disponível na Apple TV
• Atriz coadjuvante em série de comédia
Sheryl Lee Ralph, “Abbott Elementary”
. Disponível no Star
• Melhor série limitada, antologia ou filme para TV
“The White Lotus” (HBO)
. Disponível na HBO Max
• Melhor ator em série limitada, antologia ou filme para TV
Michael Keaton, “Dopesick”
. Disponível na Star
• Melhor atriz em série limitada, antologia ou filme para TV
Amanda Seyfried, “The Dropout”
. Disponível na Star
• Melhor ator coadjvante em série limitada, antologia ou filme para TV
Murray Bartlett, “The White Lotus”
. Disponível na HBO Max
• Melhor atriz coadjuvante em série limitada, antologia ou filme para TV
Jennifer Coolidge, “The White Lotus”
. Disponível na HBO Max
• Melhor direção em série de comédia
MJ Delaney, “Ted Lasso”
. Disponível na Apple TV
• Melhor direção em série de drama
Hwang Dong-hyuk, “Round 6”
. Disponível na Netflix
• Melhor direção em série limitada, antologia ou filme para TV
Mike White, “The White Lotus”
. Disponível na HBO Max
• Melhor roteiro em série de comédia
Quinta Brunson, “Abbott Elementary”
. Disponível no Star
• Melhor roteiro em série limitada, antologia ou filme para TV
Mike White, “The White Lotus”
. Disponível na HBO Max