Provocações, piadas e, convenhamos, algumas pequenas invejas sempre deram tempero à relação entre cariocas e paulistas. Por mais que se negue a contenda, as duas partes gostam de alimentar o conflito. Alheio a isso, Minas Gerais é reconhecido como o estado hábil em aparar arestas. Que o digam os músicos Rodrigo Mendonça e Flávio Danza.
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Quartas de Improviso retoma agenda presencial e aposta na experimentaçãoRobertinho Silva toca clássicos do Clube da Esquina em show gratuito em BHEm 'Txaísmo', Luizga aprende a fazer som com os manos hunikuin da florestaFesta Chilena de BH acontece neste domingo no Mercado Distrital do CruzeiroFlávio, especialista em violão de sete cordas, chamou Rodrigo, que toca flauta transversal e saxofone, para gravar um vídeo no formato on-line, que virou febre durante a pandemia – “cada um no seu quadrado”, como define o violonista. O colega aceitou, mas protelou para mandar sua parte.
“Enquanto ele não me enviava, comecei a compor a música ‘Dois rios', que posteriormente seria o nome do nosso álbum”, conta Flávio Danza.
O start com 'Dois rios"
E e nada de Rodrigo enviar o vídeo prometido. Flávio decidiu dar uma cutucada no colega, dizendo que havia feito uma música enquanto esperava pelo colega. Rodrigo escutou “Dois rios” e, na hora, animou-se com a ideia do duo. Compôs a linha de flauta da nova música e das demais que constam no álbum da dupla.
Assim como a banda criada em Poços de Caldas, o duo deu certo. No início deste ano, ele se inscreveu no BDMG Instrumental e foi o vencedor do prêmio, que traz Flávio e Rodrigo nesta quarta-feira (14/9) à noite ao Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB-BH).
“Vamos fazer um show com repertório 90 por cento autoral. A única música que não é nossa será ‘Síntese”, do Quarteto Novo”, adianta Rodrigo, citando o grupo formado por Hermeto Pascoal, Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira, criado inicialmente para acompanhar Geraldo Vandré na década de 1960.
OUÇA 'Dois rios' com o duo Rodrigo Mendonça e Flavio Lanza:
A afinidade entre os dois é tão grande que na hora de escolher o convidado, o primeiro nome que passou pela mente de ambos foi o do pianista André Mehmari.
“As referências que eu e o Rodrigo temos são muito parecidas. E o André é, de fato, uma referência mútua”, afirma Flávio Danza. “Sem contar que no show desta quarta-feira, ele vai trazer uma sonoridade a mais com o piano. Afinal, nossas músicas são apenas com violão e flauta”, completa Rodrigo Mendonça.
Mehmari vai apresentar três músicas com a dupla: “Luz da primavera” e “Céu e sonho”, de autoria do duo, e “Síntese”, de Heraldo do Monte, que foi gravada pelo Quarteto Novo.
Música para ouvir e 'assistir'
O duo já tem planos para este ano. O principal é o álbum audiovisual com algumas das apresentações que fizerem ao longo deste trimestre. Se depender da animação do flautista e do violonista, o lançamento será ainda em 2022 – no mais tardar, no início de 2023.
“Nosso primeiro projeto também foi lançado em audiovisual de modo que a pessoa, além de escutar, pudesse assistir”, ressalta Flávio. “Música instrumental deve ser sentida, e não acompanhada só pela escuta. Além disso, no palco, tem aquele lance olho no olho entre a gente. Uma conexão mesmo, que faz toda a diferença”.
Por isso, completa Rodrigo, não faz sentido gravar álbum de estúdio, pois em grande parte das vezes, os músicos que tocam juntos nem sequer se encontram.
Flávio Danza e Rodrigo Mendonça sabem que viver de música no Brasil não é fácil. Viver de música instrumental, então... Para ambos, a arte, que os dois fazem questão de definir como realização pessoal, se sobrepõe ao dinheiro e a interesses comerciais.
“Nosso objetivo é comover as pessoas, criar com elas uma conexão forte e maravilhosa. E isso eu consigo fazer com a música instrumental”, avalia Flávio. Rodrigo diz que a ausência de letras permite que o instrumento fale. “É com ela (música instrumental) que consigo dar voz ao saxofone e à flauta transversal. É por meio dela também que consigo falar com o coração”, garante o flautista.
RODRIGO MENDONÇA E FLÁVIO DANZA
Nesta quarta-feira (14/9), às 20h30, no Teatro 1 do CCBB-BH. Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Entrada franca, mediante retirada de ingressos na bilheteria ou pelo site bb.com.br/cultura.