Depois de lançar álbuns em homenagem ao saxofonista americano Wayne Shorter e aos brasileiros Tom Jobim (1927-1994) e Milton Nascimento, o compositor e pianista Antonio Adolfo manda para as plataformas o autoral “Octet and originals” (AMM Music). O repertório traz clássicos dele, como “Teletema”, e a inédita “Boogie baião”. Já “Sá Marina” comparece na versão em inglês, “Pretty world”.
“Depois de produzir os discos ‘Hybrido’ (dedicado a Shorter), ‘Jobim forever’ e ‘Bruma’ (com releituras de Milton), pensei: agora vou mostrar as minhas músicas, mas com a formação de octeto”, conta Adolfo. Com 10 faixas, o novo trabalho é homenagem ao grupo formado por ele, Ricardo Silveira (guitarra), Rafael Barata (bateria), Jorge Helder (baixo), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Rafael Rocha (trombone), Danilo Sinna (sax-alto) e Marcelo Martins (sax-tenor e flauta).
“Reuni canções autorais mais antigas e 'Boogie baião', tema baseado no folclore nordestino, para o qual fiz a melodia e o arranjo”, diz. “Octet and originals” foi lançado simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos.
“Gravamos o disco em apenas três dias. Não teve percussionista em separado, pois quem fez alguns detalhes na percussão foi o próprio Rafael Barata. Pensei: desta vez, vamos fazer sem percussão mesmo, apenas com um detalhe ou outro, ou seja, colocando percussão, pandeiro e tamborim quando for samba, e triângulo quando for baião”, explica.
Adolfo faz questão de ressaltar que “Octet and originals” traz os maiores sucessos dele, “Sá Marina” e “Teletema”. “Elas estão aí firmes até hoje. Inclusive, acabei de receber um elogio do guitarrista norte-americano Pat Metheny, dizendo que ‘Sá Marina’ é uma das canções mais bonitas que ele conhece.”
'Sá Marina' rodou o mundo
Composta por Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (1943-2017), “Sá Marina” virou sucesso internacional – foi gravada por Stevie Wonder e Sérgio Mendes como “Pretty world”. No Brasil, virou hit na voz de Wilson Simonal (1938-2000).
“O novo disco tem duas que já gravei de forma instrumental, ‘Zabumbaia’ e ‘Minor chord’. Esta última, aliás, é toda feita em acordes menores. Também tem 'Coração do Brasil’, lançada no exterior pela cantora norte-americana Dionne Warwick. Lá, ela ficou conhecida como ‘Heart of Brazil’”, diz ele.
“O clima do álbum ficou muito legal”, garante, ressaltando que a formação de octeto combinou com o repertório. “Levo certo tempo para conceber um disco, escolher o repertório e tal. No caso deste, parti da ideia do octeto e comecei a ver quais músicas minhas ficariam melhor dessa forma.”
Equilibrar o repertório é fundamental, ensina o experimentado compositor, arranjador e pianista. “'Emaú', a segunda faixa, tem ritmo bem frenético, próprio daquelas quadrilhas que se apresentam nas festas de são-joão no Nordeste”, compara. Já “Toada moderna” encerra o disco com outro clima. “Mais romântica, essa canção foi influenciada por Bill Evans (1929-1980), a quem eu ouvia muito nos anos 1960. O balanço e o equilíbrio são muito importantes nessa junção toda. E leva um tempo para elaborar isso”, comenta Adolfo.
O clipe de “Boogie baião” já está no YouTube. “Foi muito bem-feito, com direção do Rafael Saar”, elogia. A capa é assinada por Arisio Rabin.
"Acabei de receber um elogio do guitarrista norte-americano Pat Metheny, dizendo que 'Sá Marina' é uma das canções mais bonitas que ele conhece"
Antonio Adolfo, compositor
Pioneiro da música independente
Antonio Adolfo, de 75 anos, fez história ao lançar o LP “Feito em casa”, em 1977, marco da produção fonográfica independente no Brasil. O carioca estudou música nos Estados Unidos e na Europa, fez carreira no exterior paralelamente ao seu trabalho no Brasil.
O músico se destacou em trilhas de novelas (“Teletema”, por exemplo, fez parte de “Véu de noiva”, sucesso da Globo), participou de festivais e gravou “Scarlet” com Mick Jagger, nos anos 1970. Aliás, esta versão jamais veio a público.
O stone estava no Rio de Janeiro e se reuniu, no estúdio da Philips, com Dadi, Paulo Braga, Luiz Cláudio, Marçal e Adolfo, entre outros, para gravar a canção. Em 2020, ela foi lançada na versão estendida do álbum “Goat's head soup”, mas com os Stones acompanhados de Jimmy Page.
Vários discos de Antonio Adolfo foram indicados ao Prêmio Grammy, como “Rio choro jazz” (2014), “Tropical infinito” (2018) e “Hybrido – From Rio to Wayne Shorter, (2018)”.
“OCTET AND ORIGINALS”
.Disco de Antonio Adolfo
.AMM Music
.Disponível nas plataformas digitais