Junte uma porção de risadas a uma dose igualmente generosa de romance. Depois, adicione um bonitão ou dois. Salpique um pouco de situações absurdas e espere a mistura ficar leve. Sirva num cenário repleto de charme e finalize com Julia Roberts.
Essa parece ser a receita perfeita, embora um tanto vintage, para uma boa comédia romântica. E os fãs da maior das heroínas noventistas apaixonadas vão ficar felizes em saber que a atriz decidiu repetir a dose em seu novo filme, “Ingresso para o paraíso”, em cartaz nos cinemas de BH.
Roberts retorna ao gênero que a consagrou, por meio de títulos como “Um lugar chamado Notting Hill” e “Uma linda mulher”, depois de duas décadas do que julgou ser escassez de bons roteiros embebidos em romance e humor e nas quais priorizou personagens mais densas e a vida familiar.
Três bonitões e um papel sob medida
“O que me fez aceitar o papel foi a chance de tirar sarro do George, de vê-lo pateticamente apaixonado por mim”, diz Roberts, em conversa com jornalistas, ao lado do outro protagonista, George Clooney, rostinho bonito quase imune à passagem do tempo.
“Já eu fiquei motivado pela oportunidade de trabalhar com a rainha das comédias românticas. Só que ela não estava disponível e acabei trabalhando com a Julia mesmo”, retruca o ator, escancarando a intimidade e amizade que os dois construíram depois de cinco parcerias em cena.
Eles se revezam nas piadas, alternando tiradas sarcásticas e o tom de bajulação na cerca de meia hora que passaram conversando sobre “Ingresso para o paraíso”, na manhã seguinte à première do filme em Londres, no início deste mês.
Foi em “Onze homens e um segredo” (2001) que os dois contracenaram pela primeira vez e, desde então, se esforçam para promover reencontros no set de filmagem. Sorte de Ol Parker, diretor que escreveu os novos personagens com a dupla em mente.
Eles receberam o roteiro ao mesmo tempo e, depois da leitura, ligaram um para o outro. “Isso só vai funcionar se você topar”, disse Clooney a Roberts, selando o acordo. “É divertido trabalhar com amigos. E com a Julia”, diz o ator.
Divórcio, farpas e filha
Em “Ingresso para o paraíso”, eles trocam os mesmos tipos de farpas, mas com um fundo de verdade, pois dão vida a um casal divorciado que se odeia. No telefone de Georgia, o número do ex está salvo sob o nome “ele”. Já David insiste em se embriagar para suportar a companhia da ex numa viagem de avião.
Eles não têm escapatória, afinal, o efêmero e explosivo amor que viveram na juventude teve como fruto uma filha, que, agora, assume o papel da mocinha perdidamente apaixonada. No longa, ela decide largar o recém-conquistado diploma de direito para se casar e ir morar em Bali, onde há poucas semanas foi laçada por um rapaz que ganha a vida cultivando algas marinhas.
Os personagens de Roberts e Clooney podem ter pouco em comum, mas uma dessas coisas é a desaprovação ao estilo de vida que a filha quer adotar. Por isso, decidem pôr as diferenças de lado e embarcar, juntos, para a ilha paradisíaca e sabotar o casório.
“Estar na presença da Julia foi uma aula. Muito do que aprendi foi de forma inconsciente, mas testemunhar seu jeito no set, a forma como ela aborda a atuação e também quem ela é fora do trabalho foi um sonho. Ela é uma lenda”, afirma a atriz Kaitlyn Dever, a mocinha.
Em sua primeira comédia romântica, a jovem diz ter se inspirado nos filmes da própria Roberts e em produções como “Harry e Sally: Feitos um para o outro” e “A proposta” para criar uma heroína romântica própria, mais independente e confiante.
''Estar na presença da Julia foi uma aula. Muito do que aprendi foi de forma inconsciente, mas testemunhar seu jeito no set, a forma como ela aborda a atuação e também quem ela é fora do trabalho foi um sonho''
Kaitlyn Dever, atriz
No elenco também está Billie Lourd – filha de Carrie Fisher que George Clooney diz ter segurado no colo quando era bebê –, como a melhor amiga inconsequente, e Lucas Bravo (o galã francês de “Emily em Paris”), que faz o piloto de avião namorado mais jovem e abobalhado da personagem de Julia Roberts. Uma espécie de “marido troféu”, subvertendo o estereótipo normalmente destinado às mulheres.
“Ingresso para o paraíso” traz a assinatura de Ol Parker, já expert em personagens caricatos e comédias românticas ambientadas em cenários extravagantes. Ele escreveu “O exótico Hotel Marigold”, romance da terceira idade ambientado na Índia, e dirigiu “Mamma mia! Lá vamos nós de novo”, musical escapista que tinha as águas cristalinas da Grécia como palco para números excessivamente felizes.
Auxílio luxuoso de Roberts & Clooney
Para o luxo que cerca os personagens no novo filme, o diretor Parker teve a ajuda de dois produtores – George Clooney e Julia Roberts –, que têm se dedicado cada vez mais às funções por trás das câmeras. Se precisava de dinheiro para algo, por exemplo, bastava a ligação de um dos dois para o estúdio, conta Parker.
É como se o diretor tivesse ganhado duas vezes na loteria. Ele diz, afinal, que nem teria feito o filme se o par de astros não tivesse concordado em atuar nele. Mas como tudo na vida, o conto de fadas nas areias douradas de Bali precisava de um lado negativo.
Reviravoltas vão balançar a leveza de “Ingresso para o paraíso” no meio da trama. “Ei, vocês estão falando com o cara que matou a Meryl Streep em 'Mamma mia'”, brinca o diretor. “A questão é que não há luz sem sombra. Mesmo nas comédias românticas, é preciso mostrar um pouco de tristeza para fortalecer o clima de otimismo do final e, com sorte, tirar um sorriso do público.”