Principal eixo de formação da nova capital mineira na virada do século 19 para o século 20 e observadora do vivaz desenvolvimento da Cidade de Minas, a Avenida Afonso Pena é tema de palestra que acontece nesta terça-feira (20/9), às 8h, na Escola de Arquitetura da UFMG, na Savassi.
O evento faz parte da programação do projeto Novos Registros – Banco de Teses sobre BH. que, em 2023, completa 30 anos de existência, iniciativa do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) em parceria com a fundação e secretaria municipais de Cultura.
Com o tema “Identidade sociedade-espaço: Transformação e permanência na Avenida Afonso Pena”, a palestra será proferida pela arquiteta Tatiana Pimentel. Pesquisadora do assunto, ela apresentou em março a dissertação sobre o tema para o seu programa de mestrado, também da federal mineira.
Tatiana identifica a Avenida Afonso Pena como ponto de encontro para manifestações culturais e políticas, por parte da população da capital. Desde o carnaval, até a Feira Hippie, comemorações de títulos de Atlético e Cruzeiro e a vivência cotidiana do Centro da cidade.
A mudança na paisagem da avenida foi uma constante ao longo da via no século passado. A pesquisa de Tatiana Pimentel, portanto, veio responder o que sustenta a perenidade dessa potência simbólica que a Afonso Pena carrega até hoje como ponto de encontro. Para ela, o que sustenta essa perdurabilidade é a relação intrínseca entre o espaço físico e características simbólicas do bulevar. Ela destaca a responsabilidade dos arquitetos tanto na manutenção do cenário que existe quanto na criação de novos cenários.
Na palestra, a arquiteta aborda a substituição de grandes ícones da Avenida Afonso Pena, como o primeiro Mercado Público Municipal e, posteriormente, a Feira de Amostras, onde hoje é a rodoviária, por exemplo, mas também a história de edifícios marcantes como o Acaiaca, o Automóvel Clube e o antigo prédio dos Correios.
O PASSEIO DO PIRULITO
Tatiana aborda também o período em que o Obelisco da Praça Sete foi retirado, substituído por outro monumento e levado para a Praça da Savassi. O retorno se deu após 18 anos, em 1980.
"O Centro ficou, principalmente a Praça Sete, muito desfigurado. Foi uma mudança muito radical na paisagem, porque você tinha aquela massa de arborização e da noite para o dia não tinha mais nada. O elemento que é referência principal, talvez até da cidade, um dos nossos ícones de Belo Horizonte, o Pirulito da Praça Sete, saiu. Ele não foi automaticamente para a Savassi, teve um período em que ele ficou guardado. Nas fotos, a gente custa a reconhecer a praça," comenta.
O convite para a palestra veio a partir de uma relação já antiga entre a arquiteta e o Arquivo Público. No primeiro parágrafo da dissertação, Tatiana conta que a ideia da pesquisa surgiu de outros trabalhos que ela realizava no espaço do acervo.
"Lá, você consegue pesquisar o histórico de construções para um determinado lote e eu fiz muitas pesquisas do tipo sobre vários lotes. Eu pesquisava, na verdade, casas e fui reparando que tinham muitos projetos para um mesmo lote. É normal ter quatro projetos para um lote, por exemplo, e BH tem 125 anos de história. Isso já faz 20 anos, ou seja, cento e poucos anos, e você tinha quatro camadas, às vezes. Então, fiquei pensando se isso acontecia só nas casas ou se nos grandes ícones também. Fui vendo que sim, aconteceu, na cidade como um todo."
A escolha da Afonso Pena se deu em função da importância da avenida e da reunião dos principais prédios do início da ocupação da capital e eram esses que ela queria conferir se haviam sido demolidos e reconstruídos. Ela revela, de antemão, a vontade de seguir nessa linha de pesquisa em um futuro doutorado.
"As pesquisas no Arquivo Público e a oportunidade de estar lá que reforçaram essa ideia de levar essa pesquisa para os grandes ícones. A pesquisa foi toda feita durante a pandemia. Tanto o pessoal do Arquivo Público quanto do setor de patrimônio da prefeitura, estiveram sempre muito disponíveis on-line. Me mandaram tudo o que eu precisei. O embrião da pesquisa foi no Arquivo Público mesmo," conta. Para ela, a arquitetura é a materialização da história. "Se a gente deixa renovar completamente, apaga-se completamente a memória.”
ACERVO
Gerente do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, Denis Soares da Silva destaca a parceria com universidades e universitários na difusão do acervo disponível no APCBH. Os produtos das pesquisas desenvolvidas por mestrandos e doutorandos acabam sendo incorporados ao acervo em um processo de retroalimentação, ficando ambos disponíveis para um público mais amplo.
"Ele também vira um instrumento de apoio para ajudar as pessoas a se orientarem pelo acervo. Como a gente tem um volume muito grande de documentos e nosso trabalho de organização e descrição acaba sendo mais superficial, quando você tem essa oportunidade de utilizar uma pesquisa para iluminar pontos do acervo que a gente não conhecia muito, acaba sendo interessante em termos de ganho para o público," oberva Denis. Todo o material produzido pelo projeto é publicado na revista digital lançada anualmente pela instituição.
*Estagiário sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro
PROJETO NOVOS REGISTROS – BANCO DE TESES SOBRE BH
Palestra sobre “Identidade sociedade-espaço: Transformação e permanência na Avenida Afonso Pena”, com Tatiana Pimentel, nesta terça-feira (20/9), às 8h, no Auditório da Escola de Arquitetura da UFMG (Rua Paraíba, 697 – Savassi). Entrada gratuita sem necessidade de inscrição prévia