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Estado de Minas ARTES VISUAIS

CCBB abre individual do italiano radicado em BH Umberto Nigi

Com 100 obras, mostra refaz seu percurso artístico, indo dos dias atuais até o início da carreira, quando ainda não havia abraçado a arte abstrata


21/09/2022 04:00 - atualizado 20/09/2022 22:31

Imagem abstrata nas cores azul, amarelo, vermelho e branco, em fundo preto
Obras em acrílica sobre tela integram a exposição, que fica em cartaz até novembro (foto: Raquel Guerra/Divulgação)

Passando pelas duas primeiras salas do andar térreo do Centro Cultural do Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB-BH), o visitante se depara com pinturas abstratas, que mesclam nas telas areia, juta, papel, rede metálica, gesso, entre outros materiais recicláveis. As cores quentes e frias das telas, juntamente com a luz morteira do local, compõem o cenário, que, embora pareça mórbido num primeiro momento, é sereno e agradável. Ali estão as obras mais recentes do artista plástico italiano Umberto Nigi.

À medida que o visitante vai avançando, as telas abstratas de Nigi vão dando lugar a imagens de estilo naif, também criadas pelo artista italiano. No final da exposição, saem de cena as formas geométricas criadas com jutas, gesso e areia para entrar personagens concretos que fumam, bebem e jogam uma partida de cartas na taberna, todos concebidos enquanto Nigi iniciava sua carreira artística, ainda na Itália, na década de 1970.

Essa espécie de cronologia invertida é uma das propostas da mostra “Cor e forma: A poesia do equilíbrio”, individual de Umberto Nigi que entra em cartaz nesta quarta-feira (21/9), no centro cultural na Praça da Liberdade. Ao todo, são 100 obras do artista italiano que percorrem seus 50 anos de carreira. 

“Comecei a fazer telas no estilo naif e figurativo. Depois, rodando o mundo e vivendo em outros países, acabei tendo contato com obras de artistas de vanguarda e me afastei do que vinha fazendo. Passei, então, a me dedicar a um tipo de arte que está entre o figurativo e o moderno, que é o que faço hoje”, observa Nigi, que está radicado em BH e conduziu uma visita guiada à mostra para um grupo de jornalistas, na manhã de terça (20/9).

Além das telas figurativas e abstratas reunidas na exposição, há também pinturas sobre madeira, “um material que não há nada que se compare na natureza”, segundo o italiano.

obra abstrata em acrílica e juta sobre papel
O artista italiano incorporou a juta ao seu trabalho quando se deparou com esse material na Itália, em sacos de café brasileiro (foto: Raquel Guerra/Divulgação)

A busca do equilíbrio

O visitante mais atento perceberá que essas peças em madeira parecem ter sofrido algum tipo de desmazelo devido às falhas e imperfeições na matéria-prima. No entanto, isso é intencional, garante o artista. É uma forma de estabelecer um equilíbrio entre o abstrato – que para Nigi é a não representação da realidade – e a própria realidade.

A busca por esse equilíbrio, portanto, é o que guia o italiano ao longo de sua trajetória. Em mais de uma oportunidade, ele cita o jornalista e escritor americano Robert Bridge ao dizer que “a nossa estabilidade é somente equilíbrio e a nossa sabedoria está no controle do imprevisto”.

“Manter o equilíbrio em todas as coisas é muito importante para mim”, diz ele. “No abstrato, é difícil conseguir isso, mas é extremamente necessário”. 

Como exemplo, o artista cita a juta, “um material que, se você não domina, ela o domina. Assim, eu preciso colocá-la do jeito que eu quero, e não do jeito que ela quer ser colocada. Porque, se não tem equilíbrio nos quadros, o sentido deles acaba”, afirma.

com guarda pó branco manchado de tinta, Umberto Nigi pinta tela em seu atelier
Depois de se casar com uma brasileira, Umberto Nigi adotou o Brasil como seu país de residência (foto: Raquel Guerra/Divulgação)

Da Itália ao impressionista Van Gogh

Nascido em Gorgona, menor ilha do arquipélago toscano, Nigi se mudou cedo para Livorno. Lá, teve contato com obras dos conterrâneos Amedeo Modigliani (1884-1920) e Renzo Casali, cujo estúdio frequentou. Também foi em Livorno que conheceu o Macchiaioli – movimento composto por pintores que buscavam no ufanismo a oposição ao academicismo no intuito de romper com o Neoclassicismo e com o Romantismo.

Foi o Impressionismo de Van Gogh, contudo, que deteve a atenção do italiano, de modo que Nigi partiu para Paris somente para ver as obras do holandês. De lá, voltou com outra cabeça e começou a pintar com maior intensidade. 

“A arte é como uma droga. Ela dá aquele estímulo para continuar a viver, continuar progredindo. Ela é importantíssima. Precisamos de algum objetivo na vida, e ela dá a você um objetivo que não tem fim”, afirma Nigi.

A arte de Nigi também se propõe a aguçar a criatividade e a imaginação de quem a contempla. De todas as 100 obras reunidas em “Cor e forma: A poesia do equilíbrio”, nenhuma conta com título. Isso porque não foram concebidas de uma única vez. Todas elas passaram por um período de gestação. 

“A vida e a arte são feitas de momentos. Quando começo a fazer um quadro, nunca sei se vou fazer da maneira que o concebi em minha mente. Por exemplo, começo a fazer e não termino no mesmo dia. Deixo de lado para continuar no dia seguinte. Quando retomo, não estou vivendo mais aquilo que vivia no dia anterior. Já é outro momento da minha vida”, diz.

"Por que não o Brasil?"

Em se tratando de momentos da vida, um especial é o que Nigi tem vivido nas últimas duas décadas, desde que resolveu se instalar definitivamente no Brasil, depois de ter morado em mais de 30 países – já viveu na Inglaterra, Egito, Iraque, EUA, Itália, entre outros.

Ao longo dos cerca de 20 anos no país, Umberto Nigi já realizou ao menos cinco exposições na capital mineira. “Não sei dizer quantas já fiz no Brasil. Sei que fora de Belo Horizonte já expus em São Paulo, Petrópolis, Brasília, Ouro Preto e Tiradentes”, cita.

“Quando me perguntam por que escolhi o Brasil, devolvo a pergunta: por que não o Brasil?”, provoca. Morando atualmente na capital mineira, ele conta que, do Brasil – mais especificamente de Belo Horizonte –, o que mais o fascina é o azul do céu, que, conforme ressalta, tem uma pigmentação singular.

A cor do céu, contudo, não foi o motivo da vinda para o Brasil, admite Nigi. E nem foi o primeiro contato que ele teve com o país. Uma de suas primeiras interações com o Brasil se deu ainda na Itália, quando começou a usar materiais recicláveis em suas obras. Na época, estava em um café italiano e viu ali um saco de juta com a impressão: “Café do Brasil”. 

O país não lhe chamou a atenção mais do que o material do qual era feito o saco. O artista comprou todos eles no intuito de inseri-los em suas obras e, assim, desde que começou a criar telas abstratas com materiais que vão além das tintas, já estavam ali fragmentos do Brasil.

A vinda de Nigi, entretanto, só ocorreu por motivo de força maior: a mulher por quem se apaixonou e que se tornou sua esposa é brasileira. Assim, tão logo se casou, Nigi fez para si mesmo a pergunta que hoje usa para rebater jornalistas: “Por que não o Brasil?”.
 
Em paralelo à mostra “Cor e forma: a poesia do equilíbrio”, o CCBB promove na próxima quarta-feira (28/9) show do acordeonista italiano Pietro Roffi e do quarteto de cordas Família Barros. No repertório, peças de Astor Piazzolla (1921-1992) e Vivaldi (1678-1741). A apresentação é gratuita mediante retirada de ingressos na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura.

“COR E FORMA: A POESIA DO EQUILÍBRIO”

Individual de Uberto Nigi. No Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400). Em cartaz desta quarta (21/9) a 14/11, de quarta a segunda-feira, das 10h às 22h. Entrada franca, mediante a retirada de ingressos na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura


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