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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Carla Camurati dirige 'A flauta mágica', que estreia hoje em BH

Nova montagem operística da Fundação Clóvis Salgado tem sessões nesta quinta (22/9), no sábado e no domingo, com elenco predominantemente de artistas mineiros


22/09/2022 04:00 - atualizado 21/09/2022 22:23

A cantora Camila Titinger encolhe os braços com expressão assustada enquanto a atriz Daiana Melo exibe um punhal com expressão de fúria em cena de a flauta mágica
Camila Titinger é Pamina e Daiana Melo interpreta a Rainha da Noite na encenação da ópera de Mozart com libreto de Emanuel Schikaneder (foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
 

A Fundação Clóvis Salgado estreia nesta quinta-feira (22/9) sua nova montagem operística. “A flauta mágica”, de Mozart, tem direção cênica de Carla Camurati e regência do maestro titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), Silvio Viegas. 

 

Considerada uma das obras-primas do compositor austríaco e com libreto de Emanuel Schikaneder, a ópera conta a história de Tamino, um príncipe que, com a ajuda de uma flauta mágica, enfrenta o desafio de tentar resgatar a princesa Pamina, filha da Rainha da Noite, que está presa por Sarastro.

 

Contemporânea à Revolução Francesa, a história trata alegoricamente dos conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade em várias de suas passagens, fazendo apelos à racionalidade, à justiça e à igualdade entre os homens. Por muitos considerada excêntrica, “A flauta mágica” alinhava uma narrativa repleta de simbolismo místico que representa o processo de iluminação da humanidade ao sair do pensamento medieval rumo ao conhecimento.

 

Quando questionada se a montagem, que reflete a luta do bem contra o mal, tem paralelo com a polarização do atual cenário político brasileiro, Camurati prefere pensar que nem tudo é tão preto no branco e que há beleza no cinza produzido pela mistura das duas cores. 


''A noite e o dia se misturam, como na vida. Tudo bem, quando chega o dia, a noite vai embora, mas a noite faz parte do dia, e isso é lindo na obra. As coisas são mais interessantes e mais ricas nos simbolismos do que na obviedade de uma visão polarizada que só empobrece a gente, em todos os sentidos''

Carla Camurati, encenadora

Simbolismo

"A noite e o dia se misturam, como na vida," diz. "Tudo bem, quando chega o dia, a noite vai embora, mas a noite faz parte do dia, e isso é lindo na obra. As coisas são mais interessantes e mais ricas nos simbolismos do que na obviedade de uma visão polarizada que só empobrece a gente, em todos os sentidos." 

 

“A flauta mágica” é a quarta direção de Carla Camurati para uma montagem operística da Fundação Clóvis Salgado. Ela assinou as encenações de “Tosca”, de Puccini, em 2012; “O barbeiro de Sevilha”, de Rossini, em 2003, e “La serva padrona”, de Pergolesi, sob a regência do maestro Sérgio Magnani, em 1997. 

 

Atriz e diretora de filmes (“Carlota Joaquina”, “Irma Vap: O retorno”), Camurati buscou dar um tratamento cinematográfico à ópera, tomando o cuidado de não infantilizar a obra, a despeito de seu caráter lúdico. 

 

"Acho que é uma ópera tão única – e por isso a 'Flauta’ é tão montada, talvez seja uma das mais montadas do mundo –, porque Mozart faz uma coisa tão inovadora nesse universo, que é conseguir prescindir de palavras para expressar emoções", comenta a diretora. 

 

"É um primor. Não à toa as pessoas ficam totalmente apaixonadas, porque você tem ali a expressão de tantos sentimentos sem nenhuma palavra. Foi uma inovação à época, porque todas as letras têm textos e palavras, e se dizem coisas nas músicas, mas ele expressa emoções tão intensas, musicalmente, e toda a construção da própria ópera é cheia de simbolismos. Simbolismos importantes, pois eles nos ajudam a compreender coisas de outras maneiras."

 

Para ela, “A flauta mágica” é uma declaração de amor à música por parte de Mozart, na qual o compositor usa de todas as capacidade musicais e interpretativas para transmitir a ideia da transcendência da música, ressaltando seu potencial de conduzir a uma elevação da consciência e, por consequência, à transformação do mundo. 

 

A opção da diretora de evitar que a montagem caísse diretamente no infantil, embora tenha elementos lúdicos, não significou, entretanto, sua transposição para um universo contemporâneo, evitando perdas históricas importantes.

 

O maestro Silvio Viegas é só elogios ao trabalho da diretora na construção da ópera e na escolha do elenco.

 

Ao lado da Orquestra Sinfônica, do Coral Lírico de Minas Gerais e do Grupo de Dança do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), integram o elenco o baixo Sávio Sperandio, no papel de Sarastro, e a soprano Daiana Melo, como a Rainha da Noite; o tenor Anibal Mancini é Tamino; a soprano Camila Titinger dá vida a Pamina; a soprano Melina Peixoto interpreta Papagena; o baixo-barítono Fellipe Oliveira é o Papageno; as sopranos e a mezzosoprano, respectivamente, Sylvia Klein, Fabíola Protzner e Aline Lobão, são as damas da noite; o tenor Geilson Santos é Monostatos; os sacerdotes são vividos pelo tenor Lucas Damasceno e o baixo Pedro Vianna; e as cantoras Alicia Maciel, Marcela Alves Bento, Bela Amy e Camile Monteiro são os gênios. Os figurinos são de Sayonara Lopes, e a cenografia de Renato Theobaldo. Fábio Retti assina a iluminação. 


''Quem fala que não gosta de ópera pode ter certeza de que nunca assistiu a uma ópera ao vivo, porque, se um dia assistir a uma ópera ao vivo, não vai falar mais isso. A ópera pertence a todo mundo. Você não precisa ter preparação, você não precisa ter nenhum tipo de conhecimento prévio, ou ser um erudito. Você não precisa nem gostar de ópera, inicialmente. Vá assistir a uma ópera ao vivo para ter essa experiência de vida. Isso é único''

Silvio Viegas, regente

 

"Nós conseguimos construir um elenco extremamente talentoso, competente e adequado para o papel. Todas as vozes estão no lugar certo. Trabalhar com a Carla é sempre um prazer. A Carla é uma grande artista e ela montou ao redor dela uma equipe maravilhosa", afirma Viegas.

 

"Fazer Mozart é sempre um grande desafio. Mozart é um compositor muito transparente. A música dele é muito transparente. O trabalho que nós fizemos com a orquestra foi muito detalhado, muito detalhista, com muita atenção, com muito esmero. A orquestra respondeu muito bem”, diz o maestro.

Elenco

Viegas comenta estar “muito feliz, pois grande parte do elenco é brasileiro. Stephen Bronk, apesar de ser americano e ter vivido a vida inteira na Alemanha, é casado com Sylvia Klein, fala português, viveu aqui muitos anos, e está fazendo uma participação especial. Aceitou fazer o orador. Ele que é um artista superlativo”. 

 

O maestro comenta ainda que "é muito bacana ver Minas Gerais produzindo tanta gente, tendo tantos talentos e esses talentos tendo oportunidade de subir ao palco para mostrar a qualidade que eles têm. Fico muito feliz de fazer uma obra dessas com tanto artista brasileiro, tanto artista mineiro e com tanta qualidade".

 

Ele ressalta, no entanto, que os artistas não foram escolhidos por sua naturalidade ou nacionalidade, e sim por sua qualidade, que os gabaritou para os papéis. Apaixonado pela ópera – "É onde me encontro, é onde me realizo. É onde acho que sou feliz de verdade, é quando eu estou fazendo uma ópera" –, Viegas diz ser um privilégio viver em uma das poucas cidades do país que produzem ópera e volta a defender que se trata de um gênero musical de vocação popular. 

 

"Quem fala que não gosta de ópera, pode ter certeza de que nunca assistiu a uma ópera ao vivo, porque, se um dia assistir a uma ópera ao vivo, não vai falar mais isso. A ópera pertence a todo mundo. Você não precisa ter preparação, você não precisa ter nenhum tipo de conhecimento prévio, ou ser um erudito. Você não precisa nem gostar de ópera, inicialmente. Vá assistir a uma ópera ao vivo para ter essa experiência de vida. Isso é único", convida. 

 

“A FLAUTA MÁGICA”

Ópera de Mozart. Direção: Carla Camurati. Regência: Silvio Viegas. Com Sávio Sperandio, Daiana Melo, Anibal Mancini, Camila Titinger, Melina Peixoto, Sylvia Klein, Stephen Bronk e elenco. Grande Teatro do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Nesta quinta (22/9) e no sábado (24/9), às 20h; domingo (25/9), às 18h. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Vendas na bilheteria e no site Eventim

 

 

*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes

 


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