Roberto Carlos faz dois shows em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (23/9) e também amanhã – data extra aberta após os ingressos se esgotarem rapidamente –, no Expominas. Habitualmente, o público sabe o que esperar de uma apresentação do Rei, e a expectativa é plenamente satisfeita. Um episódio ocorrido em julho deste ano, no entanto, demonstrou que a regra sobre a previsibilidade dos shows de Roberto Carlos, assim como todas as outras, comporta exceção.
Durante a execução da música “Como é grande o meu amor por você”, o tal fã inconveniente berra, chamando a atenção de Roberto: “Minha mãe está aqui, ó”. O cantor aproveita uma pausa na melodia, afasta o rosto do microfone e, dirigindo-se a alguém que está bem próximo, dá o pito.
O assessor de imprensa do cantor disse que ele ficou “totalmente desconcentrado” após dezenas de fãs incautos saírem de suas cadeiras e se juntarem em torno do palco – antes do que seria o momento adequado, conforme o roteiro habitual – gritando enquanto ele cantava. “Você vê que tem um falatório, um cara fala alguma coisa, e ele tentando cantar, mas ele não consegue, porque o sujeito está atrapalhando”, disse o assessor à época.
Em outro vídeo que viralizou, é possível ver Roberto, já no ato de encerramento da apresentação, distribuindo as flores com uma expressão sisuda, sem beijá-las antes de lançá-las ao público, como sempre foi a praxe. Ter suprimido esse gesto, contudo, está menos relacionado com sua irritação no momento do que com o fato de ter contraído COVID-19 em junho.
Na abertura da temporada de shows, em São Paulo, em 27 de julho, ele relembrou o ocorrido, explicou para o público e pediu aos fãs que não ficassem tímidos quando chegasse o momento em que ele distribui rosas.
''Você está ali cantando, vivendo a música, e tem um cara que fica logo na sua frente gritando, tirando sua atenção, não dá. Já aconteceu comigo e eu tive que ter muita paciência. O Roberto, com quase 82 anos, não tem mais a paciência que já teve. Ele ficou irritado mesmo. Artista também é gente, também surta''
Wilmar Braga, cover de Roberto Carlos
“Nem a Juma”
“O que eu falei (no Rio de Janeiro) não foi para a plateia. Foi para um cara que estava dizendo o tempo todo que queria uma rosa. Aí eu fiquei bravo, e quando fico com ‘réiva’, nem a Juma segura”, brincou, imitando a maneira como a personagem da novela “Pantanal” (Globo) se expressa.
Roberto Carlos também se estressou em show aproximadamente uma semana depois daquele em que mandou o fã calar a boca. Dessa vez, o motivo de seu descontentamento não foi uma pessoa, especificamente, mas a aglomeração dos fãs à beira do palco para ganhar rosas. “Depois do que aconteceu na semana passada, para quem vier pegar as rosas, espera acabar ‘Jesus Cristo’ (a última música do repertório). É que, senão, posso ficar nervoso”, alertou à plateia paulistana, em tom jocoso.
Esse Roberto Carlos “modo pistola” surpreendeu porque era desconhecido do público, mas depois que o episódio foi esclarecido, os fãs, pelo menos em BH, consideram que aquele tenha sido um fato isolado, que não houve uma mudança súbita de humores e que o Rei chega para as duas apresentações no Expominas cortês e gentil como de costume.
Figura cativante
Fã do cantor e compositor desde a época da Jovem Guarda, a dona de casa Maria Marta Júnior Rosa, de 67 anos, veio de Piumhí, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, especialmente para assistir à apresentação desta noite. Ela não acredita que verá no palco um artista irritadiço, mas sim a figura cativante, o cantor romântico, do tipo que ainda manda flores, que acompanha desde o início da carreira.
“Sou apaixonada por Roberto Carlos desde que tenho 17 anos. Tenho a impressão de que ele deve ser uma pessoa muito boa. Não sei nada dele, a não ser como artista, mas ele passa esse sentimento de bondade de uma forma muito sincera”, diz. Sobre o episódio no Rio de Janeiro, ela põe o imbróglio na conta da falta de educação da plateia.
“Achei normal que ele tivesse gritado para alguém calar a boca, porque não o estava deixando cantar. A pessoa sai do sério. Ser fã é admirar e respeitar, entender que ele não tem como sair dando flor para todo mundo, pegando na mão de todo mundo”, afirma.
''Achei normal que ele tivesse gritado para alguém calar a boca, porque não o estava deixando cantar. A pessoa sai do sério. Ser fã é admirar e respeitar, entender que ele não tem como sair dando flor para todo mundo, pegando na mão de todo mundo''
Maria Marta Júnior Rosa, fã de Roberto Carlos
Sem paciência
Um dos artistas cover de Roberto Carlos mais requisitados de Belo Horizonte, Wilmar Braga também isenta o Rei de culpa pela destemperança.
“Você está ali cantando, vivendo a música, e tem um cara que fica logo na sua frente gritando, tirando sua atenção, não dá. Já aconteceu comigo e eu tive que ter muita paciência. O Roberto, com quase 82 anos, não tem mais a paciência que já teve. Ele ficou irritado mesmo. Artista também é gente, também surta”, diz.
Wilmar conta que estava presente na plateia no Rio de Janeiro e que, antes do “cala a boca”, viu Roberto fazer um gesto com a mão, pedindo para que o fã parasse de gritar. Ele também diz se recordar de um outro episódio em que o Rei perdeu a compostura.
“Foi num show em Recife. As mulheres que estavam próximas do palco puxaram a perna dele. Se não fossem dois seguranças, ele tinha caído no meio do público. Ele ficou puto. Jogou as rosas para cima e saiu do palco”, recorda.
Nascido em 1968 e súdito do Rei desde que tinha 9 anos, Wilmar diz que tem oito CDs e dois DVDs gravados e que, em sua trajetória de artista cover, já cantou com Jair Rodrigues, Jerry Adriani e Erasmo Carlos.
“As pessoas sempre falaram que eu canto muito parecido com o Roberto. Fui deixando o cabelo crescer, começaram a aparecer convites para eu me apresentar como cover, então pensei em fazer um corte igual ao dele e investir nisso profissionalmente. Tenho agenda de shows até abril do próximo ano”, conta.
Pessoas inconvenientes
Outro artista cover de destaque na cidade, Carlos Roberto também entende a reação do Rei ante o fã sem noção como natural e perfeitamente compreensível.
“As pessoas, às vezes, são muito inconvenientes. Só quem está no palco é que sabe. Eu mesmo já tive vontade de xingar gente que estava atrapalhando minha apresentação. Achei mais para divertido o que ele fez. Roberto é um gentleman, isso não é a cara dele, mas é normal perder as estribeiras de vez em quando”, opina.
Carlos se dedica à obra do Rei há 35 anos, e sua paixão pelo ídolo vem desde os 13. “Sempre fui fã, mas eu cantava de tudo na noite, até que um amigo me chamou a atenção para o fato de que meu timbre era parecidíssimo com o de Roberto Carlos.”
Ele comenta que, na década de 1990, gravou um disco com 16 canções do Rei, como material promocional, e que, desde então, se dedica exclusivamente à obra do autor de “Detalhes” e “Emoções”.
“Eu faço cover mesmo, sempre caracterizado. Faço shows toda semana, em aniversários, festas, eventos empresariais e coisas do tipo. A gente tem que caprichar, porque até nesse negócio de cover existe o original e o paraguaio”, diz.
''As pessoas, às vezes, são muito inconvenientes. Só quem está no palco é que sabe. Eu mesmo já tive vontade de xingar gente que estava atrapalhando minha apresentação. Achei mais para divertido o que ele fez. Roberto é um gentleman, isso não é a cara dele, mas é normal perder as estribeiras de vez em quando''
Carlos Roberto, cover de Roberto Carlos
Músicas conhecidas
Se os dois shows de Roberto Carlos em Belo Horizonte transcorrerem sem incidentes, o público ouvirá repertório que privilegia as músicas mais conhecidas. Na estreia da temporada carioca, em 9 de julho, o cantor se ancorou na tradição, mas abriu espaço para algumas surpresas tanto no repertório quanto na parte técnica.
Os carros-chefe foram mantidos. Após a abertura instrumental, o cantor foi anunciado aos primeiros acordes de “Emoções”. O roteiro musical seguiu com “Como vai você”, de Antônio Marcos, gravada por Roberto no início dos anos 1970. Canções como “Detalhes” e “Outra vez” (composta por Isolda) também estiveram presentes no repertório.
Ele incluiu no roteiro músicas que nem sempre constam em seus shows, como “Sua estupidez” e “Fera ferida”. Roberto se mostrou em plena forma vocal e física. O artista manteve-se de pé durante quase toda a apresentação, sentando-se somente para cantar “Detalhes” – o que já é uma de suas marcas.
“Mulher pequena”, “É preciso saber viver” e “Jesus Cristo” são outros temas que ele revisita em sua atual turnê e que o público de BH muito provavelmente vai poder conferir hoje e amanhã.
Shows em série
Roberto iniciou o ano a todo vapor, com turnê pelos EUA, que passou por 12 cidades e reuniu público de cerca de 100 mil pessoas. No início de junho, ele esteve na Bahia, na semana dos namorados, com o Projeto Emoções Praia do Forte.
Os outros shows previstos para aquele mês tiveram que ser adiados em razão da COVID-19 que ele contraiu. Já recuperado, fez, a partir do início de julho, as apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em agosto, seguiu para uma pequena turnê no México. Desde seu retorno ao Brasil, se apresentou em Ribeirão Preto e Goiânia.
Roberto Carlos lançou em 2018 seu mais recente álbum, “Amor sin límite”, com músicas inéditas em espanhol, e, mais recentemente, gravou o dueto “A cor do amor”, com Liah Soares, e uma nova versão de “Outra vez” – ambas fizeram parte da trilha sonora da novela “Um lugar ao sol” e estão disponíveis em todas as plataformas digitais.
ROBERTO CARLOS
Shows nesta sexta-feira (23/9), com ingressos esgotados, e sábado (24/9), às 20h30 (os portões serão abertos às 18h30), no Expominas (Av. Amazonas, 6.200, Gameleira). Ingressos: Setor azul, R$ 780 + taxas e R$ 390 + taxas (meia); Setor amarelo, R$ 460 + taxas, R$ 230 + taxas, à venda no site Eventim.