Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Paulinho Pedra Azul festeja seus 40 anos de carreira e 400 canções gravadas


Paulinho Pedra Azul vai comemorar seus 40 anos de carreira no Museu Histórico Abílio Barreto, na manhã deste domingo (25/9). Todo mundo está convidado, pois o show tem entrada franca. A festa promete: ele calcula já ter gravado 400 canções – e ainda há cerca de 800 inéditas. São mais de 150 parceiros, “promiscuidade” que o deixa feliz.





Clássico de Milton Nascimento e Fernando Brant, “Travessia” foi uma espécie de “madrinha” de Paulinho. “Esta música me induziu a compor, a querer ser músico e a querer cantar”, revela.
 
Ao ouvir “Travessia” pela primeira vez, o mineiro de Pedra Azul, cidade do Vale do Jequitinhonha, sentiu-se como se tivesse criado aqueles versos. “Pode parecer pretensão, mas foi só um desejo. Achei-a tão bonita e tão parecida com as minhas coisas, com a minha forma de ver o mundo”, relembra.

O Clube da Esquina será lembrado na festa deste domingo. Mas ele apresentará, sobretudo, sua produção autoral (“Ave cantadeira”, “Jardim da fantasia”, “Precisamos de amores” e “Recado para um amigo solitário”), além de canções de autores que admira.





Entre elas estão “O violeiro e o pedido” (Elomar Figueira de Melo), “As vitrines” (Chico Buarque), “Sentado à beira do caminho” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) e “Esperando a feijoada” (Tadeu Franco e Heraldo do Monte).

Repertório diferente neste domingo

Nessas quatro décadas de estrada, Paulinho gravou 27 discos independentes além do vinil de estreia, que saiu pela RCA. Está pensando em cantar uma música de cada álbum no show de hoje.

“Vou tentar fazer repertório um pouco diferente”, adianta. “Como a apresentação será de manhã, acho que será momento de muita inspiração, porque devem ir muitas crianças e famílias, a turma toda reunida, além de pessoas mais velhas que, às vezes, não têm oportunidade de ir a shows à noite”, diz.





O show faz parte da programação do projeto Domingo no Museu. Clóvis Aguiar (teclados) e Serginho Silva (percussão) o acompanharão no palco.

“Vou mostrar algumas canções novas e, logicamente, fazer homenagem ao Clube da Esquina, uma vez tem muita gente fazendo também. Muitos sabem que fui influenciado, em parte, pelo Clube”, observa.

De volta ao palco depois do recesso imposto pela pandemia, ele conta que prepara outro disco, “não novo, mas a coletânea que diria ser do meu lado B”. Não foi fácil selecionar faixas entre as centenas de canções que diz ter em seu repertório.

“Consegui, finalmente. Fui lapidando, buscando daqui e dali. Reuni 40 canções. Agora estou fazendo a remasterização para poder lançar e comemorar estes anos todos de estrada.”
 
Paulinho se orgulha dos arranjos de Wagner Tiso para seu disco 'Jardim da fantasia''. Nesta foto, a dupla ensaia em 2000 (foto: Gualter Naves/divulgação/2000)
 

O remake de 'Jardim da fantasia'

Paulinho, recentemente, teve ideia para outro projeto. “Venho regravando as músicas do meu primeiro LP, ‘Jardim da fantasia’, lançado em 1982 pela RCA, cujo CD saiu nos anos 1990. A única que não regravei foi ‘Nascente’ (Murilo Antunes e Flávio Venturini). Estou pensando em refazer o álbum colocando as faixas na mesma sequência, mas apenas com regravações”, conta. “Seria interessante juntar o mesmo repertório, mas com arranjos diferentes.”





Orgulhoso, Paulinho informa que “Jardim da fantasia” trouxe arranjos assinados por Wagner Tiso, o maestro do Clube da Esquina. A faixa-título é um clássico da música romântica (“Bem-te-vi, bem-te- vi/ Andar por um jardim em flor/ Chamando os bichos de amor/ Tua boca pingava mel”). “Nele, há a participação de 40 músicos. Por coincidência, o número 40 está aí de novo, com 20 instrumentistas de cordas da Orquestra Sinfônica de São Paulo e 20 músicos de base”, diz, referindo-se a seu novo projeto. “Então, 40 parece ser bem significativo na minha carreira.”

Baião, jazz e MPB

Aos 68 anos, Paulinho Pedra Azul tem trabalhado bastante, processo que se acelerou na fase mais dura da pandemia. “Já passei de 150 parceiros. Aliás, são cerca de 800 inéditas já compostas, acredito. Estive calculando há algum tempo as canções que venho fazendo com vários amigos.”

Um desses parceiros é Lima Júnior, da cidade de Almenara, no Vale do Jequitinhonha. “Cheguei a fazer 150 canções com ele”, diz. “Tem também o Paulo Henrique, um compositor novo de São Paulo, com quem fiz umas 100. E o Pedrinho Calado, que é de Fortaleza (CE) e mora em Belém (PA), além do Eudes Fraga, do Wilson Chaves e do Geraldinho Alvarenga.”

Outro dessa turma é Branco do Cavaco. “Outro dia, nos encontramos e cobrei uma música. Ele, então, me mandou a melodia e coloquei a letra. A cada dia que passa, há parceiro novo me oferecendo um ritmo diferente. Nessas 800 inéditas tem baião, xote, valsa, jazz e MPB.”





A variedade de gêneros e parceiros alimenta a inspiração de Paulinho Pedra Azul. “Dá para ficar uma coisa bem personalizada, apesar dos ritmos diferentes. Somos o país que compõe com mais diversidade. Somos muito ricos em ritmos e influências – dos negros, do jazz e tudo mais. No Brasil, acatamos tudo, pois escutamos do jazz ao forró. Temos o coração aberto”, analisa.
 
PAULINHO PEDRA AZUL apresenta 'Cantar', de Godofredo Guedes, no programa 'Sr. Brasil':
 


O mais 'promíscuo' do Brasil

O músico mineiro conta que o carioca Paulo César Pinheiro gosta de dizer que é o autor mais promíscuo do Brasil, pois tem mais de 30 parceiros. 

“Recentemente, disse para ele que passei na frente. Sou agora o mais promíscuo compositor brasileiro, com mais de 150 parceiros”, brinca.

Tamanha “promiscuidade criativa”, vale ressaltar, é produção independente. “Faço minhas coisas todas sem leis de incentivo. Não que tenha algo contra elas, mas é porque sou muito apressado. Quando penso em fazer um projeto, já quero vê-lo pronto, e essas coisas demoram muito, pois é necessário captar dinheiro.”





O “método Paulinho Pedra Azul” leva a marca da mineiridade. “Vou correndo atrás e fazendo devagar com meu dinheiro ali, cumprindo as etapas”, explica. “Foi assim que consegui lançar meus discos independentes. Tirando o primeiro, que saiu pela gravadora RCA, todos os outros foram feitos com dinheiro da bilheteria de shows.”

Esse mineiro workaholic, aliás, tem cobrado dos companheiros a gravação das canções. “Já tem cinco gravando  12 ou 13 nos discos deles, só parcerias comigo. O Caio Duarte, lá do Vale do Jequitinhonha, está com álbum pronto com 14 músicas nossas. Eudes Fraga vai fazer disco com 12 ou 13, o Pedrinho Calado também. Isso é muito legal.”

Além de compor e cantar, Paulinho Pedra Azul lançou quatro livros para crianças, que, segundo ele, foram adotados em salas de aula e transformados em musicais. Ele também escreve poesia para adultos.

Diário cubano

Orgulhoso, cita “Delírio habanero – Pequeno diário em Cuba”, registro de sua passagem pela “Ilha”, lançado há cerca de 20 anos. Quando fez quatro shows em Havana, Paulinho teve na plateia Camilo Guevara (1962-2022), filho de Che Guevara.

“Na época, ele namorava a Lien, uma das filhas do compositor e guitarrista cubano Pablo Milanés, que não foi até lá porque estava sendo homenageado no Chile. Mas as cantoras Suylén e Haydée, filhas dele, assistiram a meus shows”, diz, em meio a muitas histórias destes 40 anos de estrada.

“PAULINHO PEDRA AZUL: 40 ANOS DE ESTRADA”

Neste domingo (25/9), às 11h30, no Museu Histórico Abílio Barreto. Avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim. Entrada franca.