Um dos destaques de “Só se for por amor”, série brasileira que estreou na Netflix na quarta-feira (21/9), César Marcolo é interpretado pelo premiado Gustavo Vaz, também dramaturgo, diretor, escritor e locutor. É o segundo trabalho dele na gigante do streaming. Em “Coisa mais linda”, o ator fez o papel do vilão Augusto Soares.





Ode à sofrência, o novo seriado acompanha os primeiros passos de um grupo de jovens na indústria da música sertaneja, às voltas com amor, desilusão, sonho e escolhas difíceis para alcançar a fama. Além de Gustavo, o elenco conta com Lucy Alves, Filipe Bragança, Micael, Adriano Ferreira, Giordano Castro e Ana Mametto.
 
César Marcolo é o poderoso empresário que administra renomada gravadora em parceria com a mulher, Ana Lígia (Ana Mametto). O talento da jovem cantora Deusa (Lucy Alves) chama a atenção dele.

Em ''Só se for por amor'', a jovem cantora Deusa (Lucy Alves) cai nas garras do poderoso César Marcolo (Gustavo Vaz)

(foto: Netflix/divulgação)


Ao comentar as diferenças entre o feminicida Augusto e o poderoso César, o ator diz que são jornadas diferentes. “Os dois são muito distintos, apesar de ambos serem antagonistas. Augusto é efetivamente vilão, enquanto o César é antagônico aos desejos dos protagonistas e atravessa a vida deles de alguma forma”, explica.

Gustavo comenta a personalidade tóxica do Midas da indústria fonográfica, alinhado à tradição patriarcal, em contraste com as fortes protagonistas femininas.

“Diferentemente de ‘Coisa mais linda’, que se passa no Rio de Janeiro, na década de 1950, a sociedade mudou. Hoje, felizmente, estamos muito mais conscientes sobre essa problemática”, aponta, referindo-se ao machismo de Augusto Soares e de César Marcolo.



Em 'Coisa mais linda', como Augusto Soares

(foto: Netflix/divulgação)

Por dentro do show business

Recentemente, astros sertanejos protagonizaram escândalo envolvendo o pagamento de cachês milionários por prefeituras de pequenas cidades, inclusive em Minas Gerais. Gustavo Vaz observa que esse não é o foco de “Só se for por amor”, mas a questão, de certa forma, é abordada.

“A série mostra o lado extremamente violento do show business, na maioria das vezes por meio do meu personagem. Além dos problemas que estão acontecendo, obviamente importantes, a preocupação (do seriado) é mostrar a beleza da cultura sertaneja, das brasilidades e do jeito brasileiro de construir relações, de amar e sofrer”, comenta.

Além do trabalho na Netflix, Vaz se empenha em vários projetos – da participação em “A vida pela frente”, nova série do Globoplay e GNT, ao lançamento de livro e de podcast.





“Ainda estamos, oficialmente, em momento de pandemia. Todos temos enfrentado movimentos de reestruturação em nossos caminhos. Particularmente, tive o privilégio de poder gastar meu tempo para refletir sobre meu futuro”, afirma Vaz.

Neste momento da carreira, o ator preza a qualidade de seu trabalho. “Tento respeitar uma dinâmica de tempo que se afasta do formato neoliberal e capitalista de produção. Apesar de as redes sociais nos obrigarem a produzir conteúdo diariamente, busco ter calma e respeito com meus projetos”, explica.
 
 

Parceria com os internautas

Dramaturgo e diretor, Gustavo encabeça o grupo paulistano ExCompanhia de Teatro e prepara seu primeiro monólogo, “O idealista”. “Esse projeto engloba temas muito importantes para mim há algum tempo. Tecnologia, política e morte costumam nortear meus trabalhos autorais.”





Desde agosto, ele vem construindo a base da dramaturgia desse trabalho em conjunto com seguidores do perfil do projeto no Instagram (@oidealistateatro). O monólogo vai marcar o retorno de Gustavo aos palcos após estrelar a peça “Tom na fazenda”, em 2018.

Outras produções autorais do artista, de 38 anos, são o primeiro romance dele, “Como não morrer de uma só vez”, previsto para 2023, a estreia do podcast Artigo de Escuta e o projeto Voz na Causa!, com o qual pretende fornecer locuções gratuitas para causas sociais.

“Durante a pandemia, me vi tentando contribuir com o mundo para além do meu trabalho como ator, apesar de achar que os artistas já cumprem forte papel social de maneira muito direta”, afirma Vaz.

O interesse pela ação coletiva se reflete em seu posicionamento político, que ele faz questão de deixar claro. “A história sempre coloca as pessoas no lugar certo. Os artistas que apoiam fascistas, no fim das contas, talvez sejam julgados como apoiadores de fascistas, e não como artistas”, defende.




 

 

Ideias na mesa

Na opinião de Gustavo Vaz, é importante o posicionamento claro de artistas e influenciadores, principalmente nestes tempos de desinformação, crise de representatividade e ameaça à estabilidade política enfrentadas pela sociedade brasileira.

“Ninguém é obrigado a revelar seu voto, já que ele é secreto. Inclusive, as pessoas não têm obrigação de opinar sobre todos os assuntos, como somos levados a crer pela dinâmica violenta das redes sociais. No entanto, neste momento, é importante que as pessoas se posicionem com clareza sobre o lugar em que estão e as ideias que defendem, principalmente aquela pessoa que recebeu da sociedade o direito de se tornar ferramenta da opinião pública”, finaliza.

“SÓ SE FOR POR AMOR”

Brasil, 2022. Minissérie com seis episódios. Direção: Ana Luiza Azevedo, Gisele Barroco e Joana Mariani. Com Lucy Alves, Filipe Bragança, Micael, Adriano Ferreira, Giordano Castro, Gustavo Vaz e Ana Mametto. Disponível no catálogo da Netflix.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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