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Estado de Minas CINEMA

Filme defende Sidney Poitier de acusações feitas por negros americanos

Produzido por Oprah Winfrey, "Sidney" contesta a tese de que o ator se submeteu à lógica e às regras dos brancos para fazer sucesso


26/09/2022 04:00 - atualizado 25/09/2022 23:19

o ator Sidney Poitier numa sala de cinema, com a mão no rosto
Documentário sobre Sidney Poitier contesta acusações contra ele feitas por militantes do movimento negro nos anos 1960 (foto: Apple TV+/reprodução)

''Desde a invenção do cinema, houve imagens degradantes dos negros. Sidney Poitier, sozinho, destruiu essas imagens, filme após filme''

Reginald Hudlin, cineasta


O americano Sidney Poitier estava no auge da carreira em Hollywood, quando foi acusado por ativistas e intelectuais negros de interpretar papéis estereotipados sob medida para o público branco, enquanto o movimento pelos direitos civis explodia nos Estados Unidos, nos anos 1960.


“A realidade é que, desde a invenção do cinema, houve imagens degradantes dos negros. Sidney Poitier, sozinho, destruiu essas imagens, filme após filme”, afirma Reginald Hudlin, diretor do documentário, que traz entrevistas de Denzel Washington, Morgan Freeman, Barbra Streisand e Robert Redford, entre outras estrelas.

“Sidney Poitier era um guerreiro da causa racial. Sem ele, eu não estaria aqui, não teríamos Oprah Winfrey nem Barack Obama”, destaca Hudlin.
 

Essa é uma das várias discussões levantadas por “Sidney”, que apresenta entrevistas de Poitier a Oprah anos antes da morte do ator, aos 94 anos, em 6 de janeiro de 2022.

 

Diretor Reginald Hudlin sorri. Atrás dele, na parede, está uma foto do ator Sidney Poitier
Diretor Reginald Hudlin diz que graças a Sidney Poitier negros como Oprah Winfrey e Barack Obama se destacam hoje nos EUA (foto: Michael Tran/AFP)
 

Infidelidade conjugal

O documentário aborda um tema espinhoso: a relação extraconjugal de Poitier durante seu primeiro casamento, com Juanita Hardy. Ela foi entrevistada, assim como as três filhas do ator.

“Quando me sentei pela primeira vez com a família sobre a possibilidade de fazer este filme, perguntei se havia algo vetado. Mencionei esse tema como exemplo”, afirma Hudlin. “Elas me disseram: 'Não, não, não, queremos contar toda verdade'”, completa.

O documentário relembra episódios aterrorizantes de violência racista enfrentados por Poitier. Em 1964, ele e o ator Harry Belafonte foram perseguidos no Mississippi por membros armados do grupo supremacista branco Ku Klux Klan (KKK), enquanto levavam dinheiro para movimento de defesa do direito ao voto.

Outro encontro com o KKK e o policial branco armado que perseguiu Poitier, quando ele era adolescente, são citados como experiências marcantes em sua pioneira carreira e em seu ativismo, esquecido frequentemente.

“Isso é impressionante. Ele nunca sucumbiu à amargura nem permitiu que acabassem com ele”, comenta Reginald Hudlin. “Continuava transformando isso em força, em mais determinação e em mais vontade.”

Talvez a parte mais contestada do legado de Poitier seja o fato de ele ser “muito amável” – leia-se, “obediente” ao público branco e a Hollywood.
 
VEJA o trailer, em inglês, do documentário 'Sidney':
 

O documentário traz à tona o artigo publicado em 1967 pelo jornal The New York Times, com a manchete “Por que a América branca ama tanto Sidney Poitier?”. O texto acusava o ator de “interpretar basicamente o mesmo papel, o herói antisséptico de única dimensão”.

O texto falava da “Síndrome Sidney Poitier”: “Um bom homem no mundo totalmente branco, sem esposa, namorada ou mulher para amar ou beijar, ajudando um homem branco a resolver os problemas de um homem branco”.

Pioneiro negro do Oscar

Três anos antes, Poitier havia se tornado o primeiro ator negro a ganhar um Oscar por “Uma voz nas sombras”. No filme, interpretou o trabalhador nômade que ajuda uma comunidade de freiras, com as quais acaba estabelecendo vínculos.

Outros papéis, como o mendigo de “Porgy and Bess”, foram vistos como racistas pelos críticos.

Reginald Hudlin  afirma que esses ataques eram “consequência inevitável do trabalho que ele estava fazendo”. Garante que Poitier, “sabia que chegaria mais longe” e estava mais interessado em humanizar a experiência negra.

Beijo histórico em atriz branca

O documentário “Sidney” também ressalta a natureza revolucionária do beijo de Poitier na atriz branca Katharine Houghton, em “Adivinhe quem vem para jantar?”, e o momento em que ele dá um tapa em um aristocrata sulista branco durante o filme “No calor da noite”.
 
“Não havia precedentes para quem ele era e para o que estava fazendo”, destaca Reginald Hudlin. 

“SIDNEY”

• Documentário de Reginald Hudlin. Com entrevistas de Denzel Washington, Halle Berry, Robert Redford e Spike Lee, entre outros. Disponível na plataforma Apple TV


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