Se o Planeta Brasil – que prometeu fazer sua “maior edição de todos os tempos” – deu um show de desorganização logo na abertura, no sábado (24/9), o público que enfrentou filas, atraso de apresentações e sol quente foi o espetáculo à parte do festival, encerrado no domingo (25/9) já com os problemas equacionados.
Sem fotos de Lauryn
O festival foi encerrado, na noite de domingo, pela cantora americana Lauryn Hill, lenda feminina do rap, com apresentação vigorosa. O show, que começou com meia hora de atraso, viu o público aumentar gradativamente. Fotógrafos e jornalistas foram proibidos de entrar no espaço em frente ao palco para trabalhar.
A plateia de Lauryn foi menor do que a de 50 Cent, astro do hip-hop dos EUA da mesma geração dela, que cantou na noite de sábado (24/9), atraindo verdadeira multidão.
Baco e DV Tribo ovacionados
Coube a Baco Exú do Blues entregar, no Palco Sul, possivelmente o melhor show do Planeta Brasil. Ontem, o baiano regeu o público de maneira digna de Mano Brown. A plateia pulava, cantava e erguia os braços, conforme a batuta de Baco.
Outro momento impressionante da reta final domingueira do Planeta foi a adesão do público ao show do coletivo DV Tribo, no Palco Urban.
No começo da noite, durante apresentação de FBC e Vhoor, o coletivo de rap – com Djonga e Oreia ao microfone – fez show, retomando o pique dos bons tempos.
O grupo, que acabou em 2018, reunia Djonga, FBC, Oreia, Clara Lima e Hot Apocalypse, entre outros artistas. Foi ali que surgiu as bases do rap de BH que vem chamando a atenção do Brasil.
O espaço em frente ao palco, bastante amplo, ficou pequeno para os fãs, e as rampas de acesso ao local estavam lotadas.
Baile funk no Mineirão
Animada domingueira funk foi convocada pelo mineiro Vhoor, que mandou para a pista a colagem de samplers de sucessos do miami bass das antigas. Seu parceiro FBC brilhou no palco, cantando as faixas de “Baile”, disco da dupla que estourou nas redes sociais. O pancadão apimentado de Mac Júlia veio a seguir.
“Ficava na porta desses eventos olhando carro, e agora tô aqui no palco”, disse FBC em dado momento, sob os aplausos da plateia.
Um pouco mais cedo, o rapper carioca Filipe Rett foi ovacionado pelos fãs, reunindo público comparável ao de 50 Cent, no fim da noite de sábado.
Em outro palco domingueiro, encontro emocionado reuniu o anfitrião Black Alien e o convidado Marcelo D2, velhos conhecidos dos primórdios da banda Planet Hemp.
Além de músicas das respectivas carreiras solo, Alien e D2 relembraram sucessos do Planet. D2 prestou tributo ao amigo, falando dos 30 anos de parceria e também lembrando outros nomes seminais em sua trajetória: Speed Freaks, Skunk (ambos falecidos) e BNegão.
Clima de eleição e vaias para Bolsonaro
A uma semana da eleição presidencial, a política compareceu à Esplanada do Mineirão. O grupo Gilsons, formado por filhos e netos de Gilberto Gil, comandou o coro de “Lula lá” durante seu show. Na apresentação de Criolo, a plateia xingou o presidente Jair Bolsonaro e fez o “L” com as mãos. Marcelo D2 puxou coro contra o governador de Minas, Romeu Zema.
Criolo deu seu recado contra o racismo. “Rap, samba, funk: música preta! Só pra lembrar, porque depois que faz sucesso, querem embranquecer”, disse ele, aludindo à marcante presença de artistas negros no Planeta Brasil.
A presença feminina do hip-hop foi marcada pela presença de MC Carol no palco de Criolo,no sábado. Ela fez questão de se apresentar, apesar de o atraso do show mineiro pôr em risco sua agenda em São Paulo, mais tarde.
Nas redes sociais, a artista afirmou que seu respeito por Criolo é maior do que “qualquer contratante”, e observou: “Mesmo estando no meu total direito de simplesmente não subir ao palco quando o combinado não é cumprido”.
50 Cent mandou bem, apesar do empurra-empurra
Fechando o sábado, 50 Cent, referência do hip-hop americano, cantou os sucessos de sua carreira. Não poupou citações a Dr. Dre e Eminem. Entregou o show tão esperado e mostrou que é um dos maiores do rap, aos 47 anos.
Amparado por imensa estrutura, com a qual os outros artistas não contaram – um palco foi montado sobre o palco –, 50 Cent atraiu o público mais numeroso da abertura do festival. Porém, houve empurra-empurra antes da apresentação, quando seguranças tiraram as pessoas que estavam à frente do palco, onde foram ver o show do americano Ty Dolla $ign.
Por exigência de 50 Cent, ninguém mais poderia ficar naquele espaço, nem os jornalistas, assim como ocorreu com Lauryn Hill. A impressão era de que todo o esquema armado em torno do astro reverberava a equação antipática de ego e megalomania. Para se ter uma ideia, enquanto ele estava no camarote, a circulação de vários acessos nas proximidades foi interrompida.
Sem Poze do Rodo
A plateia fez a festa nos shows de Duda Beat, Marina Sena, Vanessa da Mata, Iza, Anavitória, Natiruts, Jão, Sidoka, Lagum e Chico Chico. Cerca de 100 artistas foram anunciados para os seis palcos. Problemas de organização no primeiro dia levaram ao cancelamento de artistas ligados à produtora Manistream, entre eles o MC Poze do Rodo, destaque da nova geração do funk e do rap.
O gramado do estádio, coberto por placas, se transformou em gigantesca rave, onde tocaram KVSH, Cat Dealers, Chemical Surf e Gui Boratto, entre muitos outros.
Destacaram-se também atrações internacionais como Sticky Fingers, que fez show animado no sábado, Julian Marley e o rapper americano Ty Dolla $ign.
Fila na orla da lagoa
Apesar dos perrengues de sábado, Matheus Vinícius, desenvolvedor de sistemas, afirmou que o festival “foi show”.
“Estava meio cheio no Djonga, então a gente desceu para dar uma respirada para depois ir curtir os outros. Planet Hemp curti demais, achei muito bom. Criolo não deu para ver porque o horário não batia. Só a questão da entrada é que deixou muito a desejar. Cheguei cedo, prometeram abrir o portão ao meio-dia, a gente foi entrar quase 15h. Ficamos numa fila que estava chegando na orla da Pampulha”, contou ele.
A funcionária pública Renata Batista lamentou ter perdido o show do Planet Hemp, no sábado à tarde. “Eles tocaram mais cedo do que estava previsto. Tinham avisado que poderia haver mudança de horários, mas isso deveria ter sido comunicado de modo mais claro”, disse.
A agrônoma Karine Silva veio do interior só para ver os shows, sobretudo o de 50 Cent. “Estou apaixonada pelo Planeta Brasil, é minha primeira vez. Sou apaixonada pelo 50 Cent, também sou encantada com Criolo, encantada com Djonga”, revelou.
Vendas casadas
O festival chegou à 10ª edição com estrutura impressionante e boa qualidade de som. Os problemas marcaram o sábado, mas ontem o público pôde aproveitar com tranquilidade os shows. Porém, teve de pagar caro pela comida e pela bebida, o que não é surpresa em eventos do gênero.
Para adquirir cerveja a R$ 15, por exemplo, era necessário comprar o copo a R$ 10, apesar da proibição da venda casada de produtos.