Jornal Estado de Minas

SERIADO

'Lá da Favelinha', de BH, é estrela da série 'Coração suburbano'


O Aglomerado da Serra e o Centro Cultural Lá da Favelinha, criado em 2015 pelo artista Kdu dos Anjos com o intuito de desenvolver ações em prol da comunidade, ganharam importante vitrine com a estreia da série documental “Coração suburbano” –  produção original e exclusiva do serviço de streaming Paramount+, idealizada pelo humorista Rafael Portugal.





Dividida em seis episódios, a atração visita bairros populares e tradicionais de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital mineira, o Aglomerado da Serra foi um dos locais escolhidos pela produção, que entrou em contato com Kdu para que ele cumprisse o papel de cicerone.

“Antes de me procurar, fizeram uma pesquisa de campo rica. Sabiam de tudo o que acontecia aqui na quebrada. Cada episódio tem um líder comunitário que guia o rolê”, diz, destacando que o Aglomerado da Serra foi o escolhido para abrir a série. O primeiro episódio já está no ar.

Trailer da batata frita e laje de bronzeamento

Rafael Portugal apresenta o seriado. Durante as gravações, Kdu guiou a equipe pelos pontos da comunidade que considera emblemáticos.

 

“Coloquei a geral para aparecer. Levei a equipe no Seu Vizinho (associação sociocultural com sede na Vila Marçola), apresentei para eles a galera da moda, da dança. Levei o pessoal até no trailer de batata frita e na laje onde o pessoal cuida do bronzeado. O bacana é que o Rafael é ele mesmo, não é personagem, ficou ‘soltão’ no morro. Ele pirou com o Lá da Favelinha, com os projetos que desenvolvemos e com os que estão por vir”, conta.





A casa do pais de Kdu acabou virando o camarim do humorista e apresentador. “Meu pai e minha mãe participaram. Em uma das cenas, meu pai aparece jogando sinuca com o Rafael no boteco, e ele ganhou diária como ator. A produção teve o cuidado de monetizar todo mundo que participou”, ressalta.
 
VEJA trailer de 'Coração suburbano':
 

 

O cerne da série documental é o pertencimento, o afeto e o cuidado para com o lugar de origem. Rafael Portugal nasceu e foi criado em Realengo, no subúrbio do Rio de Janeiro. “Coração suburbano” vem dar visibilidade aos lugares com os quais ele se identifica.

Kdu diz que o pertencimento o liga ao Aglomerado da Serra. Conta que é cria de projetos socioculturais desenvolvidos na região e seu desejo é replicar as experiências positivas que vivenciou.

“Tive contato com teatro, música e esportes em geral. Cheguei a jogar tênis aqui na quebrada. Foi muito divertido e enriquecedor o contato com todas essas coisas. Quando começo a ir para o Viaduto Santa Tereza (nos encontros do Duelo de MCs, onde despontou), quando participo do Sarau Vira-Lata (projeto itinerante de poesia), já é com o sentimento de compromisso, no sentido de apoiar minha comunidade”, salienta.





Tanto sua carreira artística quanto o empreendedorismo são fruto, mais que do talento, da oportunidade. “Nada contra o subemprego, mas será que a gente vai ser sempre serviçal, garçom, porteiro? Por que não posso ser cantor, artista? Desse pensamento é que surgiu o desejo de criar o Lá da Favelinha. No início, fomos atrás de grana. A galera romantiza muito a quebrada, se esquece de que precisa de grana para a coisa acontecer. Se não tivesse o Lá da Favelinha, eu seria um artista muito frustrado. O Rafael pegou essa energia”, aponta. 

Em franca expansão

A propósito, o centro cultural vive momento muito potente, sobretudo a partir da reforma da sede, com projeto arquitetônico premiado assinado pelo Coletivo Levante – grupo de moradores do Aglomerado da Serra, arquitetos, professores, engenheiros, topógrafos e designers.

“Em 2023, vamos inaugurar a Torre de Bebel, uma galeria de arte, e tem também as Quadras do Canão, espaço que a gente já tem e vai passar por requalificação para o incentivo de práticas esportivas e receber shows”, diz.





O Lá da Favelinha segue com diversos outros projetos. Na área da educação, há o Pré-Enem, fruto da parceria entre o Centro Cultural e o Instituto Unibanco.

“Na área da dança, a gente segue com o Favelinha Dance, com a Disputa Nervosa. Tem o Remexe Favelinha, cooperativa de moda sustentável; o Fyka Ryka Favelinha, voltado para o empreendedorismo; e também um projeto com o Grupo Saúva, do Rio de Janeiro, pelo qual estamos produzindo 100 absorventes ecológicos por mês, distribuídos nas escolas e postos de saúde. Está bem bonito”, destaca.

Com relação aos seus projetos pessoais, Kdu lançou, em meados deste ano, sem muito alarde, o álbum “Avelã”. “Foi uma coisa mais tímida mesmo, por conta da agenda do Lá da Favelinha, mas já estava com as músicas prontas, então achei que era o caso”, diz. O disco foi lançado com a chancela do selo A Quadrilha, de Djonga.

Sucesso no Sarará e Planeta Brasil

No final de agosto, ele foi uma das atrações do festival Sarará, na Esplanada do Mineirão. No domingo passado, ao lado do Favelinha Dance, participou do show que marcou a reunião do DV Tribo – uma das apresentações mais prestigiadas do festival Planeta Brasil, no mesmo local.





Além do DV Tribo, o evento contou com a dupla FBC e Vhoor, Mac Julia, Sidoka e Djonga – representantes do rap, do funk e da música das periferias de BH e região metropolitana, que reverberam nacionalmente.

“Enfim, Belo Horizonte está no mapa, com artistas de nível nacional e internacional no corre. Nunca a geração pós-Duelo de MCs teve tanta oportunidade e tanta visibilidade quanto agora. Isso é fruto de uma série de fatores, como a internet e a popularização das ferramentas de produção”, afirma Kdu.
 
CONHEÇA o Favelinha Dance:
 

 
 
O produtor, músico e empreendedor credita o sucesso retumbante da cena local à peculiaridade da produção em Minas Gerais.





“A gente dialoga muito com o Nordeste, o Norte, o Centro-Oeste. Ter as ferramentas para mostrar a diversidade e a potência da cena, da forma gostosa, mineirinha, como a gente faz, sustenta a ascensão desses artistas. Djonga tem um papel fundamental nisso. O que ele fez no sentido de chamar a atenção das pessoas para o que está acontecendo aqui é incalculável”, ressalta.

“CORAÇÃO SUBURBANO”

• Apresentação: Rafael Portugal. Seis episódios. Disponível na plataforma Paramount+

Rafael Portugal se esbaldou em BH (foto: Mariana Vianna/divulgação)

Rafael Portugal diz que o povo sabe rir do caos

Nascido e criado em Realengo, bairro tradicional do subúrbio carioca, Rafael Portugal, de 37 anos, assume ser suburbano de coração e alma. E é exatamente para mostrar as delícias e orgulho de viver em uma área afastada dos centros urbanos de uma grande cidade que o ator, humorista e músico comanda a série documental “Coração suburbano”.

São seis episódios previstos na primeira temporada (a continuação da série é uma possibilidade) e os subúrbios visitados são Aglomerado da Serra e Barreiro, em Belo Horizonte; Capão Redondo e Brasilândia, em São Paulo; Madureira e, claro, Realengo, no Rio de Janeiro. Nesta entrevista a Ana Cora Lima, da Folhapress, ele fala do seriado:

Ser suburbano é...




É ser feliz. Ser feliz de verdade e aquele sujeito simples que não só aperta a sua mão como te dá um abraço apertado e são aquelas pessoas que não conversam baixo. No subúrbio, é todo mundo gritando (risos).

O que tem de especial um morador do subúrbio?
A espontaneidade.

O subúrbio tem cheiro de quê?
Tem cheiro de alegria. Sabe quando acaba a luz da vizinhança e todo mundo vai para a calçada conversar e contar histórias para rir? É isso. Encarar tudo com bom humor. Entender que existe o caos, mas rir dele deixa a vida mais leve.

O que você encontrou nos subúrbios que visitou para a nova série?
Encontrei gente vivendo de arte. Fazendo e gerando arte ali. Sem depender de nada, sem depender de ninguém. Isso me tocou demais.

“Coração suburbano”...
É um privilégio. É uma série que sempre tive vontade de fazer e estou tendo a sorte de colocá-la na televisão. Um projeto que fala de amor, amizades, sonhos, raízes e felicidade.