A Mimulus Cia. de Dança volta a apresentar “Por um fio”, clássico de seu repertório. A sessão deste sábado (1º/10), com ingressos esgotados, ocorrerá no próprio galpão do grupo, no Bairro Prado, em Belo Horizonte. Ontem (30/9), estudantes de escolas públicas assistiram ao ensaio geral, participando de atividades de interação com a equipe da Mimulus.
Criado em 2009, o espetáculo homenageia Arthur Bispo do Rosário. Já foram mais de 80 apresentações no Brasil e no exterior, com elogios da crítica.
“Esse foi o primeiro trabalho que estreou em nosso galpão. A gente fica feliz de poder voltar com ele, em sua versão original, neste espaço versátil que pode ter leiaute reorganizado de várias formas”, afirma Jomar Mesquita, diretor da Mimulus.
Em 15 e 16 de outubro, “Por um fio” ficará em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo. O espetáculo pode ser levado tanto a palcos tradicionais quanto espaços alternativos, como é o caso do galpão do grupo, em Belo Horizonte.
A coreografia pode ser exibida em fragmentos ou completa. Essa flexibilidade vem ao encontro da proposta da Mimulus de popularizar a cultura.
A versão “intervenção urbana” de “Por um fio”, por exemplo, fará parte do projeto Boa noite, Memorial, no próximo sábado (8/10), no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade.
Bordados e fios de Bispo do Rosário
Fonte de inspiração do espetáculo, Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) é artista ímpar no cenário das artes visuais brasileiras. O sergipano foi boxeador, fez biscates, trabalhou no Ministério da Marinha e, depois de sofrer alucinações, passou boa parte da vida internado na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.
Apaixonado por bordado, ele criava estandartes, faixas, peças em tecidos e objetos no sanatório de Jacarepaguá. Reportagem de Samuel Wainer Filho no “Fantástico”, nos anos 1980, revelou o imenso talento dele. Tempos depois, as obras de Bispo do Rosário já faziam parte da exposição “À margem da vida”, organizada pelo crítico de arte Frederico Morais, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Bispo do Rosário usava retalhos para criar roupas com que os internos da colônia participavam de bailes e festas. Ele bordava textos, palavras e inventários. Costurou um manto para se encontrar com Deus, considerado obra-prima.
Artistas como Bispo foram descobertos graças ao pioneiro trabalho desenvolvido pela psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), que revolucionou o tratamento da saúde mental no país.
“Bispo ficou internado durante 50 anos e produziu sua obra com materiais descartáveis. Como trabalhava muito com tecidos, desfiava os uniformes da colônia (Juliano Moreira) e produzia obras com os fios. Ele reutilizava material numa época em que não se falava sobre reciclagem”, observa Jomar Mesquita.
Além de lembrar o artista sergipano, a turnê da Mimulus vai homenagear Baby Mesquita, fundadora da companhia e mãe de Jomar, que morreu em maio.
“Ela foi nossa produtora e figurinista, sempre esteve por trás de nossos projetos”, afirma o coreógrafo. “Colocar o espetáculo no galpão é homenagem a ela, que estaria muito feliz, pois estaremos lá depois de alguns anos, por causa da pandemia. Voltar com esse trabalho é muito significativo para a gente”, finaliza Jomar Mesquita.
“POR UM FIO”
Com Mimulus Cia. de Dança. Neste sábado (1º/10), às 20h, na Rua Ituiutaba, 325, Prado. Ingressos esgotados. No próximo sábado (8/10), às 18h, no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários), com entrada franca. Em 15 e 16/10, o grupo se apresenta no Teatro Alfa, em São Paulo
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria