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Estado de Minas MEMÓRIA

Morre atriz que foi vaiada no Oscar quando representava Marlon Brando

Artista indígena Sacheen Littlefeather, que recebeu desculpas da Academia de Hollywood no mês passado, faleceu aos 75 anos


03/10/2022 20:20 - atualizado 03/10/2022 20:22

A atriz Sacheen Littlefeather no palco, vestida com trajes de sua etnia indígena, gesticula
Sacheen Littlefeather durante evento em sua homenagem promovido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em Los Angeles, no último dia 17 (foto: Frazer Harrison/Getty Images/AFP )

Sacheen Littlefeather, a ativista e atriz nativa americana que foi vaiada em 1973 ao recusar um Oscar em nome de Marlon Brando, morreu aos 75 anos, informou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood no domingo (2/10).

No Twitter, a Academia recordou uma frase de Littlefeather: "Quando eu me for, sempre lembrem que cada vez que você defende sua verdade, você manterá minha voz e as vozes de nossas nações e povos".

Na cerimônia do Oscar de 1973, a então presidente dos nativos norte-americanos foi à festa, em Los Angeles, para representar Marlon Brando, indicado à estatueta por sua interpretação como Don Corleone em "O poderoso chefão".

Quando anunciado o nome dele como melhor ator, ela subiu ao palco e recusou a estatueta que Roger Moore, ao lado de Liv Ullmann, tentou lhe entregar.

A jovem apache, então aos 26 anos, apresentou-se ao público e explicou o porquê de seu gesto.

Confira o vídeo: 



Discurso

"Estou representando Marlon Brando nesta noite e ele me pediu para fazer um longo discurso, que não consigo ler em razão do tempo, mas poderei entregá-lo à imprensa depois", disse a atriz.

"Ele, lamentavelmente, não pode aceitar este prêmio tão generoso. E as razões para isso são o tratamento dos indígenas americanos hoje pela indústria cinematográfica e na televisão em reprises de filmes, e também com os recentes acontecimentos em Wounded Knee."

Mais tarde, ela contou que, devido ao seu ato, o ator veterano John Wayne (1907-1979) estava pronto para atacá-la e precisou ser contido por seis seguranças.

No início deste ano, no documentário "Sacheen: Quebrando o silêncio", a atriz deu detalhes da manifestação.

"Foi a primeira vez que alguém fez uma declaração política no Oscar. E foi a primeira cerimônia do Oscar a ser transmitida via satélite para todo o mundo, por isso Marlon a escolheu. Eu não tinha um vestido de noite, então Marlon me disse para usar minha camurça", afirmou Littlefeather.
No palco do Oscar, com vestimentas indígenas, a atriz Sacheen Littlefeather segura folha de discurso de Marlon Brando sobre sua recusa em aceitar a estatueta, em 1973
A atriz na cerimônia do Oscar, em 1973, quando foi vaiada (foto: Wikimedia Commons )

Só neste ano a Academia enviou um pedido de desculpas à atriz, quase cinco décadas depois.

"Os maus-tratos que sofreu por causa dessa declaração foram gratuitos e injustificados", dizia trecho da carta enviada a Littlefeather pelo então presidente da Academia, David Rubin. "A carga emocional que você viveu e o custo para a sua própria carreira em nossa indústria são irreparáveis."

"Por muito tempo, a coragem que você mostrou não foi reconhecida. Por isso oferecemos nossas mais profundas desculpas e sincera admiração", acrescentou o texto.

Paciência

"Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes, passaram-se apenas 50 anos!", reagiu a ativista indígena. "Precisamos manter nosso senso de humor em relação a isso a todo momento. É o nosso método de sobrevivência. É profundamente encorajador ver quanta coisa mudou desde que não aceitei o Oscar."

A Academia tomou medidas para enfrentar as acusações de falta de diversidade racial nos últimos anos. Em 2019, o astro de "O último dos moicanos", Wes Studi, tornou-se o primeiro ator nativo estadunidense a receber um Oscar, pelo conjunto da obra.

Littlefeather participou dos filmes "Atire o sol para baixo" (1978), "Falcão de inverno" (1975), "Johnny Firecloud" (1975), "Freebie and the bean" (1974), "O julgamento de Billy Jack" (1974), "O policial risonho" (1973) e "Conselheiro do crime" (1973). 


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