Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Músicos baianos e mineiros celebram a ancestralidade africana em show

Aprendizado. Essa é a expectativa do maestro Ubiratan Marques ao se apresentar com a Orquestra Afrosinfônica, de Salvador, ao lado da Guarda de Congo Irmandade do Rosário - Os Ciriacos, da capital mineira, no Teatro Francisco Nunes, nesta terça-feira (4/10), às 20h.





A ponte entre os dois grupos foi feita pelo mineiro Sérgio Pererê, que já gravou com o grupo baiano. O encontro faz parte de uma série de concertos entre a Orquestra Afrosinfônica e outros coletivos de música africana. Antes da Irmandade do Rosário, eles já se apresentaram com os blocos afros Malê Debalê e Ilê Aiyê, em Salvador, e com o Nação Maracatu Estrela Brilhante, em Recife.

Pela primeira vez regendo em Belo Horizonte, o maestro Bira espera entrar em contato com a cultura ancestral mineira, que, para ele, é tão importante quanto a baiana. A parceria com Sérgio Pererê, em suas palavras, é um reencontro entre pessoas que se afastaram, em outras vidas, pelos 350 anos de terror imposto pela escravidão no Brasil. A música de matriz africana, segundo o maestro, é a base da música brasileira, tendo raiz milenar.
 
A Orquestra Afrosinfônica se reúne à Irmandade Os Ciriacos, hoje, no Teatro Francisco Nunes, para show conjunto e gratuito com a participação de Sérgio Pererê (foto: Divulgação)
 

Pixinguinha e Mozart

Na opinião dele, a valorização da música nacional passa pelo reconhecimento e a valorização da ancestralidade africana do país. "Disseram que minha fala era exagerada quando afirmei que Luiz Gonzaga é tão nobre quanto Beethoven, e Pixinguinha é tão nobre quanto Mozart”, comenta. 





“Então, falei que ia mudar minha fala. Luiz Gonzaga e Pixinguinha, para mim, são muito mais importantes do que Beethoven e Mozart. O que acontece é que está na hora de a gente olhar para o nosso jardim, porque senão ele vai morrer. Se você perguntar, hoje em dia, ninguém sabe mais quem é Clara Nunes (1942-1983). Então, acho que isso que estamos fazendo é trazer a verdadeira cultura para o lugar em que ela merece estar.”

Os Ciriacos e Sérgio Pererê, a seu ver, são dois grandes expoentes artísticos de Belo Horizonte. Antes da apresentação, eles se encontrarão no terreiro da Irmandade Os Ciriacos, no Bairro Novo Progresso, em Contagem. 

O repertório do show inclui as músicas dos dois álbuns da Orquestra Afrosinfônica, lançados em 2015 e 2021. Além das músicas presentes em “Branco” (2015) e “Orín, a língua dos anjos” (2021), indicado ao Grammy, duas músicas foram incorporadas ao setlist: “Velhos de coroa”, de Sérgio Pererê, e “Alumiá”, parceria entre Pererê e Ubiratan Marques, uma fusão Minas-Bahia com arranjos sinfônicos especialmente criados para o encontro.





Sérgio Pererê diz estar de coração apertado após o resultado da eleição desse domingo (2/10). Apesar disso, ele afirma estar com ótimas expectativas sobre o show, pois planeja um bonito encontro.

"É um projeto que a Orquestra Afrosinfônica já tem feito com várias expressões do Brasil. Quando chega aqui em Belo Horizonte para dialogar com o Reinado, eu acho uma coisa muito rica para Minas e para o Brasil. O coração fica aberto para emanar muita luz e muita música para todo mundo."

A Orquestra Afrosinfônica é composta por 23 músicos que se desempenham ao piano, percussão, sopros, baixo e vocais femininos. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário - Os Ciriacos subirá ao palco com 25 integrantes. A fraternidade foi fundada em 1953, por Ciriaco Celestino Muniz, e sucedida por seu filho Antônio Jorge Muniz, capitão da fraternidade, que mantém acesa a chama do Reinado. 





"É uma irmandade centenária, em um momento em que o Reinado se afirma com muita força. Eu acho muito importante lembrar que ele não é uma expressão folclórica, mas uma constituição de Reino aqui no Brasil, e Minas Gerais precisa tomar consciência de qual a importância do Reinado para nós," afirma Sérgio Pererê.

ORQUESTRA AFROSINFÔNICA & GUARDA DE CONGO IRMANDADE DO ROSÁRIO - OS CIRIACOS

Show com a participação especial de Sérgio Pererê, nesta terça-feira (4/10), às 20h, Teatro Francisco Nunes, Av. Afonso Pena, 1.321 (Parque Municipal). Entrada franca 
 
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes