O saxofonista e compositor Silas Prado é a segunda atração da temporada de shows com os instrumentistas vencedores da edição 2022 do prêmio BDMG Instrumental. Ele se apresenta nesta quarta-feira (5/10), às 20h, no Teatro 1 do CCBB-BH, tendo como convidada a também saxofonista Gaia Wilmer, com entrada franca. O repertório se ancora em seu primeiro álbum autoral, batizado “Obrigado, mestre!”, cujo lançamento está previsto para dezembro.
Também integrante de formações muito ativas na cena local – como a Babadan Banda de Rua, o grupo Pajé e a Nave, o quinteto capitaneado por Juventino Dias e a banda de apoio do músico Acauã Ranne –, Silas identifica sua música como “diaspórica afro-mineira instrumental”. Ele aponta que todos os grupos de que participa trabalham, em alguma medida, com essa vertente, e que o show desta quarta será esclarecedor desse conceito para o público.
“Vou tocar o repertório desse meu primeiro álbum na íntegra”, diz, acrescentando que contará com a participação de Gaia na faixa “Pé na terra” – para a qual ela também colaborou na gravação do álbum – e na execução de um tema da própria musicista, “Nosso pequeno carnaval”, registrado em seu mais recente álbum, “Nosso carnaval”, lançado no mês passado.
Homenagem a Letieres
O saxofonista aponta que a apresentação de logo mais prenuncia o lançamento de dois singles – “Pé na terra” e a faixa título –, que antecedem a chegada do disco. Música que batiza o álbum, “Obrigado, mestre!” é, segundo Silas, uma homenagem póstuma ao maestro Letieres Leite, criador da Orkestra Rumpilezz, que morreu em outubro do ano passado.
Além das composições próprias, o disco traz também temas assinados por William Pajé e Acauã Ranne.
“Minha música se baseia na tradição afro-mineira, que vem dos reinados de congado e também do candomblé. Ela nasce, além dessas duas tradições, do universo das bandas de sopro de Minas Gerais, que é uma outra linhagem da qual também faço parte”, comenta. Ele aponta que sua formação teve início aos 10 anos, quando ingressou na banda de sopro da cidade de Francisco Dumont, fundada por seu avô paterno.
O substrato da música de Silas não se limita às tradições afro-mineira. Ele ressalta que bebe em fontes diversas, mas sempre vinculadas a compositores negros. “Não por um acaso, o título do disco presta homenagem a Letieres Leite, que é uma das minhas principais influências, juntamente com Moacir Santos, Paulo Moura e Milton Nascimento”, aponta.
Diálogo com Gaia Wilmer
O fato de escolher Gaia Wilmer como convidada – a prática é uma premissa dos shows resultantes do prêmio BDMG Instrumental – para a apresentação de hoje no CCBB-BH se relaciona não apenas com a presença dela em “Obrigado, mestre!”, mas é, antes, fruto de um diálogo e de uma admiração que vem se estreitando ao longo dos últimos anos.“Conheço o trabalho de Gaia Wilmer desde 2018, graças às composições e aos arranjos que tocamos na Gerais Big Band. Fui aluno dela ao longo de um ano, em 2020, em um curso de composição. Eu já compunha, mas minhas músicas eram meio de cientista, então fui aprender técnicas com ela. Gaia também tem uma carreira acadêmica, é doutora em música; eu estou fazendo mestrado na UFMG e sempre admirei o estilo de composição e de arranjo dela”, diz Silas.
Ter sido um dos quatro vencedores da edição deste ano do prêmio BDMG Instrumental garantiu a Silas, além da apresentação no CCBB-BH, um show pelo projeto Sesc Instrumental, em São Paulo, a ser realizado no próximo dia 15 de novembro.
“É uma premiação que se desdobra no sentido de projetar minha carreira autoral para além de Belo Horizonte e de Minas Gerais. É uma forma de poder levar um pouco dessa cena afro-mineira da música instrumental a outros lugares”, ressalta.
A propósito, Silas Prado acredita que essa linguagem vem se fortalecendo e conquistando cada vez mais espaço. “É uma cena que tem conseguido se renovar permanentemente, e o BDMG Instrumental tem um papel importante nisso”, aponta, chamando a atenção para o fato de os quatro vencedores deste ano serem de fora da capital – três vieram de cidades do interior de Minas e o quarto é pernambucano radicado em Belo Horizonte.
“É uma proposta plural e descentralizada, que se espalha por todo o estado. Ela já foi marginalizada, mas ganha cada vez mais atenção. Estamos ocupando espaços para disseminar essa música e inspirar outros compositores”, afirma.
Divulgando a 'música preta mineira'
Ele adianta que, a partir do lançamento de “Obrigado, mestre!”, a ideia é tentar circular o máximo possível com o show que promove o álbum no primeiro semestre de 2023, para, como diz, “reverberar a música preta mineira”, e, no segundo semestre, começar a pensar novos temas para um segundo trabalho. “Cabeça de compositor não para. Vou seguir produzindo dentro dessa linha da diáspora afro-mineira.”A temporada de shows do 21º Prêmio BDMG Instrumental começou no dia 14 de setembro, com o duo Rodrigo Mendonça e Flávio Danza convidando André Mehmari. Ainda passarão pelo palco do CCBB-BH os artistas Ulisses Luciano convidando Leo Gandelman, no dia 2 de novembro, e Nara Pinheiro convidando Mariana Zwarg, no dia 7 de dezembro.
21º PRÊMIO BDMG INSTRUMENTAL
Show com Silas Prado, que convida Gaia Wilmer. Nesta quarta-feira (5/10), às 20h, no Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, 31.3431.9400). Os ingressos, gratuitos, devem ser retirados, preferencialmente com antecedência, no site do CCBB.