Lucas Lanna Resende
Foi em momento de descontração, em junho passado, dentro de um barco, em Capitólio, que um amigo – e patrocinador – da Orquestra Opus lançou a ideia para o maestro Leonardo Cunha: “E se vocês fizessem um concerto em homenagem ao Frank Sinatra?”. O lampejo surgiu quando a canção “My way” começou a ser tocada no sistema de som da embarcação.
De pronto, o regente topou. Começou a pensar em como deveria ser o show, que músicas entrariam no repertório, que tipo de arranjo teria que fazer, como os músicos ficariam dispostos no palco… até se deparar com um entrave: seria necessário encontrar um cantor que já tivesse trabalhado com o repertório de Sinatra (1915-1998).
O regente recorreu ao amigo Derico Sciotti, parceiro em diversos projetos da Orquestra Opus, saxofonista que integrou a banda de Jô Soares (1938-2022).
“Minha relação com o Derico é muito próxima, de amizade mesmo. Então, liguei perguntando se conhecia alguém que pudesse interpretar as canções do Sinatra em um concerto da Orquestra Opus”, conta Cunha.
Derico se lembrou do cantor curitibano Zé Rodrigo, especialista no repertório de Sinatra, mas descobriu que ele havia se mudado para os Estados Unidos. Cunha não desanimou. “Quem sabe o Zé não toparia vir?”, arriscou o regente.
E foi o que aconteceu. O cantor fará única apresentação com a Orquestra Opus em homenagem a Frank Sinatra na noite desta sexta-feira (7/10), no Cine Theatro Brasil Vallourec.
“Sinatra é um artista que mudou os rumos da música. Não só pela maneira de cantar, mas pela forma de se apresentar”, diz Cunha. “Ele levou para o palco um formato de big band para interpretar, de maneira elegante, um estilo que, embora não fosse marginalizado, não era visto como refinado”, complementa.
Arranjos fiéis
Para o concerto de hoje, o maestro fez questão de montar os arranjos das canções da mesma forma como Sinatra se apresentava, com sua big band e os instrumentos que deram corpo às suas músicas.
Uma das dificuldades foi fazer com que esses arranjos pudessem ser tocados por todos os 25 integrantes da orquestra, para que nenhum músico fosse deixado de fora.
Outra complicação foi a escolha do repertório. Ao longo da carreira, Sinatra gravou 59 álbuns, o que é equivalente a cerca de 500 músicas.
“Essa escolha deu trabalho”, brinca o maestro. “Mas eu fui perguntando a este meu amigo que deu a ideia do concerto e também aos fãs de Sinatra quais músicas deveriam integrar o repertório. E, assim, nós chegamos às 14 canções que serão apresentadas.”
Ele adianta que clássicos como “New York, New York”, “Fly me to the moon”, “I’ve got you under my skin”, “All of me”, “Night and day” e, claro, “My way” não poderiam ficar de fora.
Contudo, houve um empenho para que músicas que foram gravadas pelo norte-americano, mas que não são de sua autoria, também fossem apresentadas. Foi o caso de “You are the sunshine of my life", de Stevie Wonder; e “Girl from Ipanema”, a versão em inglês da canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Embora tenha feito carreira cantando jazz, Frank Sinatra foi um grande entusiasta da bossa nova. Se “Garota de Ipanema” é uma das músicas mais regravadas de todos os tempos, muito se deve a ele. Afinal, foi depois de ouvir o disco “Getz/Gilberto” (1964), de Stan Getz (1927-1991) e João Gilberto (1931-2019), que Sinatra procurou Tom Jobim (1927-1994), que havia feito participação especial no álbum e assinava a autoria de todas as canções que ali estavam, para propor uma parceria entre os dois.
Ginga e swing
O interesse de Sinatra pela bossa nova talvez tenha se dado pelas semelhanças do estilo brasileiro com o jazz, ambos caracterizados por harmonias únicas e ritmo sincopado. “As próprias músicas do Sinatra têm uma maneira diferente de tocar, um jeito mais swingado”, observa Cunha.
Portanto, para esta sexta-feira, o maestro promete um concerto, ao mesmo tempo, elegante e com bastante gingado. Um verdadeiro show. Quem vai perder a apresentação, no entanto, é o amigo que deu a ideia de homenagear Sinatra. “A data que conseguimos marcar é justamente no dia de uma aula que ele tem lá na França. Mas não tem problema, não. Vou ver se a gente consegue gravar e depois mandar para ele assistir”, brinca o maestro.
ORQUESTRA OPUS APRESENTA FRANK SINATRA
Nesta sexta-feira (7/10), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec. Av. Amazonas, 315, Centro. (31) 3201-5211. Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia), à venda pelo site Eventim