Jornal Estado de Minas

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FestCurtasBH escolhe o sonho como tema e exibe 148 filmes

 
Lucas Lanna Resende

Por aproximadamente cinco meses, uma equipe de 12 profissionais da Fundação Clóvis Salgado (FCS) se dedicou a assistir a 2.690 curtas-metragens, que, de alguma forma, abordam o ato de sonhar. 





O objetivo desses profissionais era selecionar os 148 filmes que serão exibidos no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (FestCurtasBH), cuja 24ª edição será realizada da próxima sexta-feira (14/10) até 23/10. O festival registrou recorde no número de filmes nacionais inscritos: 946.

“Decidimos escolher um tema que, além de ter sido muito discutido ultimamente, é uma questão própria do cinema desde o seu início: o sonho. Afinal, o cinema é um lugar de criação de mundo. Nosso desejo é que, partindo dessa questão particular, as pessoas tenham a possibilidade de sonhar juntas”, afirma Ana Siqueira, coordenadora de produção e curadoria do FestCurtasBH.

Como de costume, o evento contará com mostras competitivas, paralelas e especiais. Cada uma delas se segmenta em outras categorias. No caso das competitivas, a divisão ocorre em “Minas”, “Brasil” e “Mundo”, nas quais as produções inscritas são exibidas para o público e avaliadas pelo júri oficial, que escolhe os vencedores do Troféu Capivara de Melhor Filme.




 
"Rachocracia" está na seleção competitiva entre filmes mineiros (foto: FCS/Divulgação)
 

A premiação é realizada desde 2013, quando o festival decidiu laurear os cineastas mineiros, brasileiros e estrangeiros. 

“Existe um processo de transformação que vem ocorrendo no FestCurtasBH desde 2001. No entanto, foi em 2013 que houve a mudança mais significativa”, aponta Matheus Antunes, coordenador de produção do festival. 

“Ela veio com a criação das premiações e com o próprio nome do troféu. A capivara é um animal típico da nossa região. Logo, dar o nome dela ao troféu é uma forma de criar uma identificação com as pessoas daqui”, diz.




Categorias e mostras paralelas

Também se ramificam em diferentes categorias as mostras paralelas e especiais. Nas paralelas deste ano há “Gatas reflexivas”, que traz filmes cuja temática questiona as invenções e questionamentos dos diferentes corpos; “Filmes decoloniais”, que, conforme o próprio nome diz, têm como objetivo romper com a visão colonial; e “Mundos em colapso”, cujas produções distópicas abordam um fim iminente da vida humana. 

Já as mostras especiais foram divididas em duas: “De olhos abertos tem alguém que sonha”, com curadoria de Kênia Freitas e Ingá Patriota; e “Soft dreams”, com curadoria do francês Emmanuel Lefrant, diretor da distribuidora Light Cone.

“São mostras muito distintas entre si”, observa Ana. “O Emmanuel, por exemplo, é muito voltado para o cinema experimental e, em função disso, trouxe muitos filmes que seguem esse caminho. Já a Kênia e a Ingá resolveram propor três eixos, a fim de desafiar os espectadores a sonharem coletivamente.”





Os três eixos que a coordenadora de produção e curadoria do FestCurtasBH menciona são Encontro com antepassadas, Transmutar a luta e Onírico delírio. No primeiro, as curadoras selecionaram filmes que abordam a memória como forma de sonhar, enquanto o segundo eixo tem como mote central o sonho no sentido de formar pensamentos e ideias a fim de incentivar as lutas por mudança na sociedade. Por fim, o terceiro eixo se atém à forma múltipla que os sonhos podem ser pensados.

Além das exibições dos filmes, o FestCurtasBH contará com palestras, show da banda Absinta Efe e a Piscina – formada especialmente para tocar na abertura do evento –, exposição da artista Efe Godoy e oficina de crítica cinematográfica.
 
"Sete sinfonias de zagro" está na disputa internacional, cujo vencedor é definido por júri oficial (foto: FCS/Divulgação)
 

Ecologia do cinema 

Nas mesas-redondas, destaque para o bate-papo entre a poeta, ensaísta e professora aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leda Maria Martins com o fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá, marcado para sexta-feira, 21/10.





Haverá também sessão especial constituída de filmes do acervo da Light Cone, seguida por conversa com Emmanuel Lefrant, que explicará o que ele chama de “ecologia do cinema experimental”. Para o francês, o termo designa a maneira como os cineastas de diferentes partes do mundo se conectam com seres não viventes por meio do cinema.

“O Emannuel tem um livro ainda não traduzido para o português chamado ‘Expanded nature – Écologies du cinéma expérimental’ (“Natureza expandida – Ecologias do cinema experimental”, em tradução livre), que trata justamente dessa linha de pensamento que ele apresentará no FestCurtasBH e que caminha muito ao encontro do que nós propusemos com a temática desta edição”, comenta Ana.

O FestCurtasBH deste ano conta ainda com as mostras “Juventude”, “Infantil”, “Animação” e “Maldita”, que retorna abordando o terror e o suspense. 

24º FESTCURTASBH

Desta sexta (14/10) a 23/10, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400.) Entrada franca. Programação completa disponível no site do festival (festcurtasbh.com)





Efe Godoy vai cantar com a banda Absinta Efe e a Piscina, além de expor desenhos, escultura e aquarelas (foto: FCS/Divulgação)

Efe Godoy fará show e exposição

Entre 2010 e 2015, Efe Godoy era a vocalista de Absinto Muito, banda mineira de rock que muito se popularizou na internet. O grupo gravou álbuns autorais e saiu em turnê pelas capitais do Sudeste. No entanto, com o tempo, os integrantes foram mudando seus interesses a ponto de não ter mais tanta coisa em comum para justificar a existência do grupo. 

Corta para 2022. Em meados de agosto, o telefone de Efe, agora com um trabalho voltado para as artes plásticas, toca. Do outro lado da linha, alguém da produção do FestCurtasBH: “Nós estamos preparando a edição deste ano do FestCurtasBH e os sonhos são a temática. Seria muito legal se você realizasse nosso sonho e reunisse novamente a Absinto Muito para tocar na abertura e fizesse exposição individual com suas obras ao longo do evento”.

Efe topou, contatou os antigos colegas de banda e começaram a ensaiar o repertório que vão apresentar na próxima sexta (14/10), dia da abertura do festival. Desta vez, com novo nome: Absinta Efe e a Piscina.





“Nós vamos tocar quatro covers e o resto é música autoral nossa, da época de Absinto Muito”, diz a artista. Cinéfila desde pequena e espectadora contumaz do FestCurtasBH, Efe viu o convite como obra do acaso. Na reunião com a produção do festival, percebeu que, de fato, o acaso estava do seu lado. 

 

“Enquanto estávamos conversando sobre como seria minha participação no festival, mencionei em determinado momento que estava lendo ‘Sonho manifesto: Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico’ (2022), de Sidarta Ribeiro. Mal sabia eu que era esse livro que estava servindo de inspiração para o festival”, revela a artista.

Realismo fantástico

Além do show de abertura, Efe fará  exposição no Espaço Mari'Stella Tristão, que ficará em cartaz durante todo o período do festival. Transitando entre o hibridismo e o realismo fantástico, as obras de Efe – em sua maioria desenho e aquarelas – têm como principal característica expor a diversidade que existe na natureza.

“Tem uma aquarela minha que trata justamente do ginandromorfismo, que são seres considerados masculinos e femininos. Isso é muito comum em borboletas”, explica a artista.

Na mostra que integra a programação do FestCurtasBH, no entanto, as obras que Efe traz não se limitam aos desenhos e aquarelas. “Vou levar algumas esculturas e também uma cama onde as pessoas vão poder deitar e, claro, sonhar”, afirma, entre risos.