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Estado de Minas AUDIOVISUAL

FestCurtasBH escolhe o sonho como tema e exibe 148 filmes

Edição 2022 do evento começa na próxima sexta (14/10) e terá show, exposição e oficina como atividades paralelas


11/10/2022 04:00 - atualizado 11/10/2022 15:15

Dois rapazes usando calça, camisa, tênis e máscara, de pé em frente a uma sepultura, encaram a câmera em cena de garotos ingleses
"Garotos ingleses" é um dos títulos da seção Filmes Decoloniais, paralela às mostras competitivas (foto: FCS/Divulgação )
 
Lucas Lanna Resende

Por aproximadamente cinco meses, uma equipe de 12 profissionais da Fundação Clóvis Salgado (FCS) se dedicou a assistir a 2.690 curtas-metragens, que, de alguma forma, abordam o ato de sonhar. 

O objetivo desses profissionais era selecionar os 148 filmes que serão exibidos no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (FestCurtasBH), cuja 24ª edição será realizada da próxima sexta-feira (14/10) até 23/10. O festival registrou recorde no número de filmes nacionais inscritos: 946.

“Decidimos escolher um tema que, além de ter sido muito discutido ultimamente, é uma questão própria do cinema desde o seu início: o sonho. Afinal, o cinema é um lugar de criação de mundo. Nosso desejo é que, partindo dessa questão particular, as pessoas tenham a possibilidade de sonhar juntas”, afirma Ana Siqueira, coordenadora de produção e curadoria do FestCurtasBH.

Como de costume, o evento contará com mostras competitivas, paralelas e especiais. Cada uma delas se segmenta em outras categorias. No caso das competitivas, a divisão ocorre em “Minas”, “Brasil” e “Mundo”, nas quais as produções inscritas são exibidas para o público e avaliadas pelo júri oficial, que escolhe os vencedores do Troféu Capivara de Melhor Filme.
 
Três pessoas caminham em chão coberto por grama
"Rachocracia" está na seleção competitiva entre filmes mineiros (foto: FCS/Divulgação)
 

A premiação é realizada desde 2013, quando o festival decidiu laurear os cineastas mineiros, brasileiros e estrangeiros. 

“Existe um processo de transformação que vem ocorrendo no FestCurtasBH desde 2001. No entanto, foi em 2013 que houve a mudança mais significativa”, aponta Matheus Antunes, coordenador de produção do festival. 

“Ela veio com a criação das premiações e com o próprio nome do troféu. A capivara é um animal típico da nossa região. Logo, dar o nome dela ao troféu é uma forma de criar uma identificação com as pessoas daqui”, diz.

Categorias e mostras paralelas

Também se ramificam em diferentes categorias as mostras paralelas e especiais. Nas paralelas deste ano há “Gatas reflexivas”, que traz filmes cuja temática questiona as invenções e questionamentos dos diferentes corpos; “Filmes decoloniais”, que, conforme o próprio nome diz, têm como objetivo romper com a visão colonial; e “Mundos em colapso”, cujas produções distópicas abordam um fim iminente da vida humana. 

Já as mostras especiais foram divididas em duas: “De olhos abertos tem alguém que sonha”, com curadoria de Kênia Freitas e Ingá Patriota; e “Soft dreams”, com curadoria do francês Emmanuel Lefrant, diretor da distribuidora Light Cone.

“São mostras muito distintas entre si”, observa Ana. “O Emmanuel, por exemplo, é muito voltado para o cinema experimental e, em função disso, trouxe muitos filmes que seguem esse caminho. Já a Kênia e a Ingá resolveram propor três eixos, a fim de desafiar os espectadores a sonharem coletivamente.”

Os três eixos que a coordenadora de produção e curadoria do FestCurtasBH menciona são Encontro com antepassadas, Transmutar a luta e Onírico delírio. No primeiro, as curadoras selecionaram filmes que abordam a memória como forma de sonhar, enquanto o segundo eixo tem como mote central o sonho no sentido de formar pensamentos e ideias a fim de incentivar as lutas por mudança na sociedade. Por fim, o terceiro eixo se atém à forma múltipla que os sonhos podem ser pensados.

Além das exibições dos filmes, o FestCurtasBH contará com palestras, show da banda Absinta Efe e a Piscina – formada especialmente para tocar na abertura do evento –, exposição da artista Efe Godoy e oficina de crítica cinematográfica.
 
'Sete sinfonias de zagro' está na disputa internacional
"Sete sinfonias de zagro" está na disputa internacional, cujo vencedor é definido por júri oficial (foto: FCS/Divulgação)
 

Ecologia do cinema 

Nas mesas-redondas, destaque para o bate-papo entre a poeta, ensaísta e professora aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leda Maria Martins com o fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá, marcado para sexta-feira, 21/10.

Haverá também sessão especial constituída de filmes do acervo da Light Cone, seguida por conversa com Emmanuel Lefrant, que explicará o que ele chama de “ecologia do cinema experimental”. Para o francês, o termo designa a maneira como os cineastas de diferentes partes do mundo se conectam com seres não viventes por meio do cinema.

“O Emannuel tem um livro ainda não traduzido para o português chamado ‘Expanded nature – Écologies du cinéma expérimental’ (“Natureza expandida – Ecologias do cinema experimental”, em tradução livre), que trata justamente dessa linha de pensamento que ele apresentará no FestCurtasBH e que caminha muito ao encontro do que nós propusemos com a temática desta edição”, comenta Ana.

O FestCurtasBH deste ano conta ainda com as mostras “Juventude”, “Infantil”, “Animação” e “Maldita”, que retorna abordando o terror e o suspense. 

24º FESTCURTASBH

Desta sexta (14/10) a 23/10, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400.) Entrada franca. Programação completa disponível no site do festival (festcurtasbh.com)

Efe Godoy olha para a câmera
Efe Godoy vai cantar com a banda Absinta Efe e a Piscina, além de expor desenhos, escultura e aquarelas (foto: FCS/Divulgação)

Efe Godoy fará show e exposição

Entre 2010 e 2015, Efe Godoy era a vocalista de Absinto Muito, banda mineira de rock que muito se popularizou na internet. O grupo gravou álbuns autorais e saiu em turnê pelas capitais do Sudeste. No entanto, com o tempo, os integrantes foram mudando seus interesses a ponto de não ter mais tanta coisa em comum para justificar a existência do grupo. 

Corta para 2022. Em meados de agosto, o telefone de Efe, agora com um trabalho voltado para as artes plásticas, toca. Do outro lado da linha, alguém da produção do FestCurtasBH: “Nós estamos preparando a edição deste ano do FestCurtasBH e os sonhos são a temática. Seria muito legal se você realizasse nosso sonho e reunisse novamente a Absinto Muito para tocar na abertura e fizesse exposição individual com suas obras ao longo do evento”.

Efe topou, contatou os antigos colegas de banda e começaram a ensaiar o repertório que vão apresentar na próxima sexta (14/10), dia da abertura do festival. Desta vez, com novo nome: Absinta Efe e a Piscina.

“Nós vamos tocar quatro covers e o resto é música autoral nossa, da época de Absinto Muito”, diz a artista. Cinéfila desde pequena e espectadora contumaz do FestCurtasBH, Efe viu o convite como obra do acaso. Na reunião com a produção do festival, percebeu que, de fato, o acaso estava do seu lado. 

 

“Enquanto estávamos conversando sobre como seria minha participação no festival, mencionei em determinado momento que estava lendo ‘Sonho manifesto: Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico’ (2022), de Sidarta Ribeiro. Mal sabia eu que era esse livro que estava servindo de inspiração para o festival”, revela a artista.

Realismo fantástico

Além do show de abertura, Efe fará  exposição no Espaço Mari'Stella Tristão, que ficará em cartaz durante todo o período do festival. Transitando entre o hibridismo e o realismo fantástico, as obras de Efe – em sua maioria desenho e aquarelas – têm como principal característica expor a diversidade que existe na natureza.

“Tem uma aquarela minha que trata justamente do ginandromorfismo, que são seres considerados masculinos e femininos. Isso é muito comum em borboletas”, explica a artista.

Na mostra que integra a programação do FestCurtasBH, no entanto, as obras que Efe traz não se limitam aos desenhos e aquarelas. “Vou levar algumas esculturas e também uma cama onde as pessoas vão poder deitar e, claro, sonhar”, afirma, entre risos.


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