Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Pato Fu e Orquestra Ouro Preto chegam nesta sexta ao Palácio das Artes


Matheus Hermógenes *

“Vamos acabar como tudo começou”, anunciou John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, puxando os acordes da última música do show “Rotomusic de Liquidificapum”, que comemorou os 10 anos da banda no Museu de Arte da Pampulha, em 2002. Nesta sexta-feira (14/10), o grupo mineiro comemora seus 30 anos ao lado da Orquestra Ouro Preto, no Palácio das Artes. Os ingressos estão esgotados. 





 

A canção “Rotomusic de Liquidificapum”, de 1993, está novamente no centro da festa. O show de sexta se chama “Rotorquestra de Liquidicafu”. Nestes tempos de TikTok, em que músicas têm cerca de dois minutos, John confessa achar difícil executar a faixa de sete minutos e 33 segundos nas apresentações da banda. A presença dela no repertório foi escolha da própria orquestra e de seu regente, o maestro Rodrigo Toffolo.

De Inhotim para cidades de Minas

“Rotorquestra de Liquidicafu” estreou em junho, em apresentação ao ar livre em Inhotim, em Brumadinho. De lá para cá, passou por Sabará, Nova Lima, Caeté e Santa Bárbara, em shows abertos ao público. O Grande Teatro do Palácio das Artes é o primeiro a recebê-lo em espaço fechado. John Ulhoa conta que está curioso para saber como os arranjos soarão neste local.


Repertório e arranjos surgiram do trabalho em parceria da banda com a orquestra. A extensa discografia do grupo foi o principal desafio. A seleção buscou equilibrar clássicos do Pato Fu e canções não tão conhecidas.





“É música pra danar, né? Algumas iam ter de ficar de fora mesmo”, brinca John. Para o maestro Rodrigo Toffolo, algumas não poderiam falta de jeito algum, como “Spoc” e “Perdendo os dentes”, assim como “Rotomusic de Liquidificapum”, do primeiro disco da banda.


O registro visual foi gravado no Inhotim, o audiofônico deve chegar em 2023 encerrando as comemorações dos 30 anos do grupo. Antes disso, Fernanda Takai e John Ulhoa planejam lançar em breve novos singles com o Pato Fu, gravados em estúdio.


Além da vocalista e do guitarrista, a banda conta com o baixista Ricardo Koctus desde a formação original. Xande Tamietti voltou à bateria e à percussão. Richard Neves comanda teclados, piano e acordeom.


“Quando a gente está tocando com a Orquestra Ouro Preto, tem hora em que olho para trás e penso: é, chegamos lá. É aquela sensação de opa!, esse negócio deu certo”, conta John. “A orquestra é muito competente, os caras são muito bons. A sensação de ser homenageado é muito forte.”



Desafio para Rodrigo Toffolo

O maestro Rodrigo Toffolo revela que boa parte dos músicos da Orquestra Ouro Preto é fã do Pato Fu desde a adolescência. Acostumado a fazer releituras de canções de Alceu Valença, Beatles e Vander Lee, Toffolo considera que executar as experimentações sonoras do Pato Fu são um desafio, o que acaba sendo uma motivação a mais.


“Qualquer instituição chegar a 30 anos, seja banda, museu, galeria de arte, é uma vitória para Minas Gerais e para o Brasil. Comemorar essa longevidade é muito importante para mostrar que as pessoas estão fortes, vivas, fazendo música e acreditando nessa profissão tão importante.”


Fernanda Takai considera importante relembrar as três décadas de trajetória, mas destaca a importância de cuidar dos próximos 30 anos. Diz que exigências logísticas dificultam levar o espetáculo para outros estados, revelando que recebe mensagens tanto de pessoas que vêm a BH para a apresentação, quanto de fãs que pedem o show em outros lugares.





Workaholic, Takai acorda cedo e dorme tarde para dar conta da carreira musical, solo e com a banda, da vida pessoal e da carreira literária. Ela vai lançar dois livros este ano.

 

 

Fernanda Takai critica Bolsonaro

Fernanda discorda abertamente do governo Bolsonaro, diz que a crise social do país “é aguda”. Em suas apresentações solo, manifesta-se de maneira menos discreta do que com a banda. Ela considera importante artistas se posicionarem contra os ataques sistemáticos do presidente Jair Bolsonaro ao setor cultural.


“Fui fazendo uma curva como cidadã. Tinha de usar, de alguma forma, a minha voz para ajudar a tirar o nosso país dessa trilha de retrocessos, injustiças e desequilíbrio. Tenho 51 anos, não posso ficar esperando todo mundo resolver se juntar. Se tem artista que se omite, não quero ser esse tipo de artista que não fala sobre política. Já há um bom tempo não sou mais essa pessoa”, afirma.


De acordo com ela, parte do público consegue discernir entre a Fernanda cantora e a Fernanda cidadã. Mas há pessoas que já não frequentam mais seus shows e nem ouvem seu trabalho devido ao posicionamento político dela. A cantora tem bloqueado quem posta xingamentos e ataques em suas redes sociais.



“Ali é a minha casa, o meu espaço. Não fico entrando nas redes deles para xingar o cara. O que eles estão fazendo na minha casa? Me respeitem”.


Dizendo-se “otimista de que a gente vai pular este período da história”, a cantora comenta que o aprendizado tem sido doloroso.


“A história fica registrada, vai estar escrito. Até pessoas que hoje estão defendendo isso (ataques e xingamentos) vão entender o que é ter um país de verdade quando essas coisas passarem”, garante, anunciando novo álbum com a Orquestra Ouro Preto até 2023. “Espero que o lançamento já seja num Brasil diferente, né?”, finaliza.

PATO FU E ORQUESTRA OURO PRETO

Show “Rotorquestra de liquidificafu”. Nesta sexta-feira (14/10), às 21h, no Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Ingressos esgotados.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria