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"Som na faixa" é ótima minissérie sobre os méritos e os podres do Spotify

Produção sueca sobre a criação da plataforma e sua crescente influência no mercado da música, em detrimento da remuneração dos artistas, está na Netflix


21/10/2022 04:00 - atualizado 20/10/2022 22:43

Atores participam de reunião em cena da série som na faixa
"Som na faixa" conta a história da criação do Spotify sob o ponto de vista de profissionais que apostaram no projeto pioneiro da plataforma (foto: Netflix/Divulgação)

Foi da Suécia que vieram o ABBA, Ace of Base, The Hives, Roxette, The Cardigans. Para além de bandas pop, o país nórdico também viu surgir, neste século, The Pirate Bay e Spotify, duas fortalezas digitais que mudaram, radicalmente, o modo como se consome música. E é precisamente sobre isso a minissérie “Som na faixa”, sueca (claro!), recém-chegada ao catálogo da Netflix.

Neste ano, assistimos a outras produções sobre o nascimento de startups que surgiram com pouco dinheiro e boas ideias – “WeCrashed”, da AppleTV+, sobre o império de coworking WeWork, e “Super bumped – A batalha pela Uber”, do Paramount . No caso de ambas, seus criadores, jovens brilhantes, excêntricos e arrogantes, se deram mal.

Não é o caso de “Som na faixa”. Vale dizer que o criador do Spotify, Daniel Ek, é ainda o chefão da empresa, fundada em 2006. E, na história, ele é apresentado de uma maneira mais simpática do que o Mark Zuckerberg de “A rede social”, por exemplo.
 
Jovem pobre da periferia de Estocolmo, é um programador genial que se ressente de não ter conquistado uma vaga no Google por não ter a escolaridade exigida. 

Gravadoras em crise

Estamos no início dos anos 2000, e o mundo das gravadoras está ruindo. A pirataria dos CDs dos anos 1990 foi substituída pela dos torrents. Você pode ouvir a música que quiser, sem pagar um centavo por ela. Basta baixá-la no Pirate Bay, site fundado em 2003, também por jovens em Estocolmo. Sua influência, naquele momento, já era mundial.

Ek (na série interpretado por Edvin Endre) também acredita na música gratuita. Mas não da forma que o Pirate Bay faz – a qualidade é ruim, há demora para baixar. E se há jovens tão inteligentes na Suécia, por que o país não consegue chegar próximo do mundo da tecnologia do Vale do Silício? 

Ele conceitua e cria o Spotify, que vai fazer mais e melhor do que o Pirate Bay, e tudo na legalidade. Mas é aí que entra o entrave: os executivos das gravadoras não querem saber da música digital – e ainda mais de graça. O primeiro episódio, narrado pelo próprio Ek, mostra o embate dele para conseguir provar que o modelo proposto pelo Spotify era viável. 

A primeira surpresa vem no final do episódio, quando aparece em primeiro plano Per Sundin (Ulf Stenberg). Ele olha para a câmera e diz: “Não foi assim que aconteceu”. A quebra de quarta parede, que vai aparecer nos episódios seguintes, leva “Som na faixa” a um lugar mais interessante do que as séries do gênero.
 
 

O poderoso chefão

Cada episódio será apresentado sob o ponto de vista de um dos profissionais que criaram o Spotify. Sim, toda startup começa com uma ideia genial – mas nenhuma delas se fez sozinha. E a série dá nomes aos bois. No episódio 2, o protagonista é Per Sundin, chefão da Sony Music Suécia, que tinha virado o grande antagonista dos jovens piratas suecos dos torrents. 

Os demais são centrados em Petra Hansson (Gizem Erdogan), a advogada que lançou as bases para o acordo com as gravadoras, que finalmente viabilizou o negócio; em Andreas Ehn (Joel Lützow), o programador idealista que criou o aplicativo; e em Martin Lorentzon (Christian Hillborg), o homem do dinheiro, cofundador do Spotify e quem financiou Ek nos primeiros anos.

Todos os personagens têm um lado meio quixotesco – a advogada larga um escritório cheio de tubarões de terno e vai trabalhar com garotos que jogavam videogame; o executivo de gravadora se lamenta pelas demissões em massa, e por aí vai. Mas sabemos que de boas intenções o inferno está cheio e que o modelo do Spotify tem seu lado predatório. É ótimo para ele próprio e para os usuários. 

A imensa maioria dos músicos que estão lá não ganham nada (ou muito pouco). E a política de remuneração da empresa não é divulgada. Números do próprio Spotify em 2020 dão conta de que, naquele ano, somente 870 artistas de todo o mundo receberam mais do que US$ 1 milhão.

Essa parte da história é representada na série por uma personagem, a única ficcional entre os seis protagonistas e figura central do último episódio. Bobbi T (Janice Kavander) é uma ex-colega de escola de Ek e sua paixonite desde então. Cantora talentosa em ascensão no cenário local, ela finalmente consegue seu contrato com uma gravadora. 

Mas o Spotify começa a dominar a cena, e Bobbi agora mal pode pagar o aluguel. É uma briga de Davi e Golias que vai mostrar, mais uma vez, o lado negativo da indústria de tecnologia.  

“SOM NA FAIXA”

Minissérie em seis episódios. Disponível na Netflix





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