"Espelho, espelho meu, existe alguém mais punk rock do que eu?" Os versos iniciais de “Suplaego”, do roqueiro Supla, definem precisamente a essência do cantor paulista: coturnos pretos, bondage pants, camisetas de bandas, jaquetas de couro, óculos escuros e cabelo arrepiado. Tudo bem ao estilo do movimento de contracultura da década de 1970, que contesta o sistema político e o elitismo cultural.
É com esse espírito que Supla desembarca em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (21/10), para se apresentar na festa a fantasia do Underground Pub. Antes dele, sobem ao palco as bandas Dona Odeteh, Mamonas Replay e Putz Grilla.
Dono de hits como “Garota de Berlim” e “Green hair (Japa girl)”, ele traz à capital mineira a turnê do disco “Suplaego” (2020). No palco, é acompanhado pela banda Punks de Butique, com Alexandre Iafelice (bateria), Henrique Cabreira (guitarra) e Eduardo Hollywood (baixo).
Em “Suplaego”, seu mais recente álbum, Supla dirige críticas a comportamentos hipócritas e a mazelas sociais. “Rei dos gays”, por exemplo, traça o perfil de um machão reacionário que usa a homofobia para esconder a própria homossexualidade.
“Ele tinha apartamento no Guarujá/ As melhores roupas pra se usar/ Era homofóbico e racista/ Chamava os outros de comunista. Run, run, running away/ O homofóbico que era gay”, diz a letra.
“O show é a turnê do ‘Suplaego’. Mas não vamos nos limitar a tocar somente as canções do disco. Vai ter clássicos como ‘Garota de Berlim’, ‘Green hair’ e ‘Humanos’, além de covers de artistas que me influenciaram ao longo da vida. Não dá para não tocar essas músicas. O público pede e espera que elas estejam lá”, afirma o cantor e compositor.
Harry Styles
Supla, no entanto, faz mistério com relação aos covers que apresentará. “Não posso falar o que vou tocar lá, porque é surpresa, mas uma música que vai estar de qualquer jeito é a versão que fiz para ‘As it was’”, diz.
Supla conheceu “As it was”, de Harry Styles, devido ao efeito viral que a música teve nas plataformas digitais e em redes sociais – somente no YouTube, o clipe da canção do britânico soma mais de 340 milhões de visualizações.
“Achei bonita. Gostei e pensei que ficaria legal em uma pegada punk”, diz. Assim, os sintetizadores deram lugar para uma guitarra com distorção e o beat suavizado foi substituído por uma bateria que usa e abusa dos pratos de ataque.
“Achei bonita. Gostei e pensei que ficaria legal em uma pegada punk”, diz. Assim, os sintetizadores deram lugar para uma guitarra com distorção e o beat suavizado foi substituído por uma bateria que usa e abusa dos pratos de ataque.
Nas últimas semanas, Supla circulou com a turnê por cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Alagoas. Em uma delas, no entanto, teve um pequeno aborrecimento: um grupo de quatro ou cinco pessoas não gostou do bis, quando Supla cantou “Sai fora, Bolsonaro”, single disponibilizado no ano passado pelo projeto Brothers of Brazil junto do irmão João Suplicy.
“Era um evento do agro lá em Cuiabá para 10 mil pessoas”, explica o cantor. “Nunca escondi minhas posições. Sempre falei abertamente, inclusive nas letras das minhas músicas. O show correu bem, não teve nenhum tipo de hostilidade. O pessoal estava curtindo muito, até porque era meu público que estava lá”, diz.
“Só que, quando acabou o show e eu voltei para o bis e resolvi cantar ‘Sai fora, Bolsonaro’, que não está entre as músicas que eu apresento na turnê do ‘Suplaego’, esse grupo pequeno de pessoas, que estava bem na frente do palco, começou a vaiar.”
A resposta do roqueiro foi inusitada. “Eu poderia ignorar ou mesmo dar um chute na cara daqueles caras, mas resolvi dar o microfone para eles me responderem por que estavam vaiando. Aí começaram a falar aquele monte de bobajada”, diz.
O que deixou o cantor revoltado, entretanto, não foi a animosidade do grupo, e sim o que ocorreu depois. “Isso foi filmado e postado nas redes sociais. Só que foi editado, cortando a parte em que eu abri o microfone para eles falarem e conversei com eles. O que viralizou foram os cortes do pessoal me xingando e um texto dizendo que meu show tinha sido um fracasso, porque eu tentei militar e o público não aceitou e confrontou”, comenta.
Filho de políticos
Filho mais velho de Marta e Eduardo Suplicy, Supla cresceu no meio político, vendo os bastidores da política e tendo participado, ainda que a distância, de momentos que impactaram profundamente a política nacional. Contudo, ele se diz assustado com o momento atual do Brasil.
No dia anterior à entrevista concedida ao Estado de Minas, ele contou que havia saído para jantar em um restaurante em São Paulo e presenciou no local um briga entre eleitores de Lula e de Jair Bolsonaro.
“Os caras estavam muito exaltados, gritando um com outro. Até que o que estava sentado se levantou e já estava pronto para sair na mão. Isso me assustou muito, porque nunca vi nada assim antes.”
Essa experiência, portanto, reforçou seu desejo de fazer das apresentações um momento de união entre as pessoas. “É um momento para as pessoas curtirem. Estarem juntas, sem nenhum tipo de diferença nem distinção.”
Paralelamente à turnê, Supla está preparando um disco com os Punks de Butique e outro com o irmão João para o Brothers of Brazil. Ambos os trabalhos devem ser lançados em 2023.
“Fiz muita coisa legal e estou com muitos projetos bacanas em desenvolvimento. Agora, só falta fazer um filme ou série, qualquer tipo de trabalho onde eu possa atuar. É isso que eu quero agora. Estou falando isso em todas as entrevistas pra ver se aparece alguma coisa”, diz, rindo.
SUPLA
Show do cantor e compositor, nesta sexta-feira (21/10), a partir das 19h, no Underground Pub. Av. Itaú, 540, Dom Cabral. Ingressos pelo Sympla, por R$ 40 (preço único). Mais informações: @undergroundblackpub