"Você vai ao Japão e lá só toca música brasileira. Você vai para a Europa, todo mundo pira na música brasileira. Nossa música é um bem sagrado, tento passar isso através do trio"
Antonio Guerra, compositor e pianista
Olhar o mundo sob outro eixo, no qual o cruzamento entre linguagens e estilos musicais se dá com a liberdade de criança, por meio da intuição e da sonoridade de piano, baixo e bateria. É dessa forma que o pianista carioca Antonio Guerra define “Rabo de arraia”, álbum de estreia do trio formado por ele, Guto Wirtti (baixo) e Cassius Theperson (bateria).
As 10 faixas autorais passeiam pela diversidade de ritmos populares brasileiros, com referências do jazz, soul, música clássica e do Oriente. “Os temas se desdobram em improvisos, com os quais conto estórias, afetos e lendas”, afirma Antonio Guerra.
O primeiro single lançado nas plataformas, “Angela Pralini”, inspira-se na personagem criada por Clarice Lispector no romance “Um sopro de vida” (1978). O outro é “Indonésia”. As demais faixas chegarão aos poucos ao strea- ming. O álbum completo pode ser adquirido no site oficial de Antonio Guerra.
“Rabo de arraia” é o quarto álbum do pianista – o primeiro do trio. O Brasil está representado nas composições de Guerra por meio do samba, frevo, maracatu, forró e ijexá. O pianista também trouxe para o disco influências de sua experiência no exterior. “Um pouco de rock aparece no meu som e um pouco de balada-jazz também”, afirma.
Originalidade brasileira
Guerra faz questão de deixar claro que se trata de um disco brasileiro. “Identifico-me muito com o Brasil que olha para suas tradições, mas tenta recriar algo original a partir delas”, diz. “O Brasil não conhece o Brasil, como dizia Aldir Blanc. E o Brasil é muito amado no mundo inteiro, a gente não tem a dimensão do papel que ele exerce no mundo”, garante.
Para o pianista, a melhor forma de se comunicar com o povo brasileiro é mostrar o Brasil “potente, moderno e rico”, cuja cultura encanta o mundo.
“Você vai ao Japão e lá só toca música brasileira. Você vai para a Europa, todo mundo pira na música brasileira”, observa. “Nossa música é um bem sagrado, tento passar isso através do trio.”
Guerra ressalta a importância da sinergia com os companheiros do trio, por meio de texturas e dinâmicas musicais. “Isso toca o público, porque é música fresca, muito espontânea, sentida ali na hora”, diz, referindo-se aos shows. “Apesar de ter muitas coisas organizadas, dependendo da sala, das condições e do seu estado de espírito cada momento será diferente, não tem jeito”.
O álbum, conta Guerra, tem um quê de autobiográfico. “Fiz músicas em homenagem a grandes parceiros, como o Chico Oliveira, morto em 2020 em acidente doméstico. Outra faixa é dedicada ao trompetista e compositor fluminense Silvério Pontes”, revela.
Também foram homenageados o compositor, arranjador e multi-instrumentista Yuri Villar e a cidade de Olinda. Já “Arara azul”, a penúltima faixa, sugere o voo da ave em extinção no Pantanal ameaçado.
“Tentei fazer música inspirada no fluxo do vento. E por aí vai. Estou muito empolgado com esse trabalho”, diz Guerra, elogiando Guto Wirtti e Cassius Theperson. “Eles são espetaculares.”
Agora, o pianista quer rodar o Brasil. “Temos show em Niterói em 3 de novembro, e talvez outro no Rio de Janeiro, também no próximo mês”, comenta. “Vamos ver o que rola, pois estamos muito a fim de fazer festivais de música e de compartilhar o nosso som com o público.”
“RABO DE ARRAIA”
• Álbum do Antonio Guerra Trio
• 10 faixas
• Disponível para venda no site www.antonioguerramusica.com.