Belém (PA) – “Se uma criança estiver sonhando, não a acorde. Deixe-a sonhar, para que um dia o sonho se concretize. E ela acredite nele.” As sábias palavras, fruto da experiência pessoal, são do paraense Renan Cardoso, de 26 anos, que entrou no universo da música aos 8, aprendeu violino e piano, estudou regência e se tornou maestro da Orquestra Jovem Vale Música, com sede em Belém, no Pará.
Nascido na comunidade de Jurunas, na periferia da capital, Renan está certo de que, se as famílias podem estimular as crianças, as empresas patrocinadoras são fundamentais para criar condições à formação de músicos profissionais, despertar talentos e, principalmente, fazer o desejo de meninos e meninas acontecer – em sintonia com o divino universo da arte.
Todas essas sensações e um estado de plenitude na plateia permearam uma apresentação da Orquestra Jovem Vale Música (OJVM) durante o tradicional Círio de Nazaré, em Belém. Após encantar com o quarto movimento da “Quinta sinfonia” de Tchaikovsky, na sede da Fundação Amazônica de Música (FAM), Renan falou sobre a importância das oportunidades, da emoção de tocar pela primeira vez, aos 18, no histórico Theatro da Paz, na terra natal, e do essencial apoio aos jovens.
“É fundamental que acreditem em nós. Ter um sonho, acreditar nele e persegui-lo é muito importante, mas a batalha se torna menos árdua quando temos apoio de familiares, amigos, pessoas que confiam no seu talento”, disse o regente, fã de Tchaikovsky (1840-1893), Wagner (1813-1883) e Gustav Mahler (1860-1911).
Cortinas abertas
Música, divina música – ainda mais sublime se houver oportunidade para o despertar de talentos, a formação profissional e o encaminhamento ao mercado de trabalho. Desde 2004, a iniciativa do Instituto Cultural Vale transforma a vida de alunos do ensino público, formando músicos que atuam no Brasil e no exterior.
“A arte nos ajuda a entender o mundo, a cultura tem o poder transformador e deve circular, promovendo encontros. No Brasil, temos boas referências em projetos culturais que desenvolvemos em Minas, no Pará, no Espírito Santo e no Maranhão”, afirma o seu diretor-presidente, Hugo Barreto, informando que já são mais de 5 mil pessoas beneficiadas com o ensino e a aprendizagem da música.
O projeto atende 300 crianças e jovens, incluindo a Orquestra Jovem, Grupo de Flautas Doce, Banda Sinfônica Jovem, Grupo de Percussão de Câmara, Orquestra de Violinos e coral infantojuvenil.
"Trezentos filhos"
Atenta e emocionada à apresentação da OJVM, a coordenadora administrativa da FAM, Izabel Boulhosa, contou, entre lágrimas, que não são apenas 300 jovens, mas “300 filhos”, tal a admiração e o orgulho que sente aos vê-los no palco.
“Todo mundo se torna parente. Esse trabalho valoriza as comunidades, eleva a autoestima dos alunos, abre novos horizontes e permite acesso a outros lugares do mundo.”
Criada em janeiro de 2010, a Orquestra Jovem resulta do Projeto Vale Música Belém e já se apresentou em salas de concerto em BH, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Recife, São Luís e Fortaleza, além de formar parcerias com grandes solistas internacionais. Em abril, acompanhou o pianista russo Dmitry Shishkin, no Theatro da Paz.
Reunindo jovens de 14 a 29 anos, a OJVM toca profundamente o coração dos seus integrantes. “Ela me deu disciplina”, assegura a saxofonista Glória Maria Costa Pinheiro, de 18, enquanto Pedro Magalhães, de 15, revela que guarda “algo mágico” e transmite “paixão”.
O regente titular Renan Cardoso ouve os relatos e se mostra satisfeito. Afinal, começou no projeto aos 8 anos, já se apresentou em muitas cidades, inclusive no exterior, e esteve à frente do concerto “Exagerado”, homenagem a Cazuza e iniciativa da Orquestra Nova, que contou com patrocínio do Instituto Cultural Vale e participação de alunos do Programa Vale Música do Pará, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
Todos os sons
Já a Banda Sinfônica Vale Música tem 50 integrantes, todos alunos do projeto Vale Música Belém, com idade entre 12 a 23 anos. Coordenada e regida pelo professor Benedito Jr., traz uma formação de flauta transversal, oboé, clarinetes, fagote, sax, trompa, trompetes, tuba, trombone, percussão, contrabaixo e piano.
De acordo com o instituto, os alunos do Vale Música Belém integram o Programa Vale Música, uma rede colaborativa de ensino e aprendizagem entre estudantes de polos musicais em quatro estados (Pará, Espírito Santo, Minas e Mato Grosso do Sul) e profissionais das maiores orquestras do país.
Ao todo, envolve cerca de 250 profissionais e mais de 1 mil alunos em intercâmbios, aulas e residências artísticas. São parceiras do programa a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), a Orquestra Ouro Preto, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e a Nova Orquestra, patrocinadas por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
*O repórter viajou a convite do Instituto Cultural Vale